Prefeitura de São Paulo mantém repasse de 33 milhões ao carnaval

Contudo, a celebração deste ano foi cancelada devido à pandemia de COVID-19

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O carnaval da cidade de São Paulo é um dos maiores do Brasil. Não apenas em público, como também em investimento e faturamento.

Em 2020, apenas poucos dias antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a pandemia de COVID-19 — mas, com a doença já alastrada em todo o mundo –, a celebração aconteceu e bateu recordes. Mais de 15 milhões de pessoas participaram do carnaval e 600 blocos saíram às ruas da capital paulista.

Na ocasião, foram gastos mais de 36 milhões de reais e houve um retorno financeiro de 2,3 bilhões para a cidade. Por sua vez, em 2021, mesmo sem a celebração — inclusive com o cancelamento do feriado, anunciado em 12 de fevereiro pelo prefeito Bruno Covas –, a Prefeitura manteve o repasse para escolas e agremiações carnavalescas.

Em novembro último, quando ainda se tinha alguma perspectiva de realizar o carnaval neste ano, a Secretaria Municipal do Turismo e a SPTuris (Empresa de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo) assinaram um contrato de apoio prevendo o repasse de verba, assim como já acontece todos os anos. Neste caso, o valor firmado foi de 33 milhões de reais.

Do total, quase 13 milhões de reais já teriam sido pagos nos dois últimos meses do ano passado. Um dia após o prefeito Bruno Covas cancelar o feriado de carnaval, foi publicado no Diário Oficial (de 13 de fevereiro de 2021) a reserva feita pela Secretaria de Turismo, de cerca de 20 milhões de reais, para completar o pagamento do repasse.

Dinheiro público

Embora se saiba que o carnaval gere e mantenha anualmente muitos empregos, além de arrecadar altos montantes com patrocinadores, também é notório que, para se manter essa celebração, é necessário um investimento semelhantemente milionário e proveniente do dinheiro público, de impostos pagos pelos cidadãos.

A jornalista Ana Carolina Cury, em sua coluna no R7, abordou recentemente o assunto ao falar sobre o futuro do carnaval e como os acontecimentos dos últimos anos mostram a necessidade de repensar como a festa é realizada. Além de outras questões — que você pode ler aqui na íntegra –, Cury levantou a problemática do investimento público na celebração:

“Muitos que gostam, defendem a festa e afirmam que é um patrimônio histórico e cultural (…) além de exercer um peso na economia do país. Ora, me pergunto, então: se a festa gera tanto dinheiro assim, ela não deveria depender 1% do dinheiro público (…) Por que quem não concorda com o carnaval é obrigado a custeá-lo e fingir que não liga para isso? Com tantas mazelas sociais que assolam o Brasil, temos que financiá-lo com nossos impostos? Não deveria ser função do Estado patrocinar um espetáculo que, cada ano que passa, cobra ingressos altíssimos e mantém camarotes caríssimos? Não faz sentido algum continuar usando verba pública nele”, pontuou.

Ademais, com o cenário de crise sanitária, social e econômica sem precedentes que a pandemia de COVID-19 trouxe, não só para São Paulo ou para o Brasil, mas em todo o mundo, um gasto público exorbitante, ainda com uma festa que foi cancelada, é, no mínimo, ultrajante para a população de uma cidade que, diariamente, convive com as desigualdades sociais.

Leia mais sobre esse tema e reflita

Clique no link abaixo, veja o que está por trás do cancelamento do carnaval e como a possiblidade de arrecadar muito não foi o bastante para que a celebração de 2021 acontecesse.

Vereadores de São Paulo debatem o assunto

No dia 23 de fevereiro último, em Sessão Ordinária na Câmara Municipal de São Paulo, vereadores utilizaram a tribuna do Plenário 1º de Maio e o sistema virtual do Parlamento paulistano para discursar sobre assuntos de interesse público, entre eles o carnaval de 2021.

De acordo com o texto veiculado no site da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador André Santos (Republicanos) foi um dos parlamentares que se posicionou sobre o assunto. Ele exibiu uma reportagem que tratou do repasse de verba para o carnaval deste ano e também repercutiu a informação veiculada em portais de notícia. O vereador encaminhou um ofício à Presidência da Câmara para pedir explicações do Executivo municipal.

“Não há crítica na questão da cultura, mas há crítica no desperdício do dinheiro público. Se na cultura estiver sendo utilizado e bem utilizado o dinheiro público, nós apoiamos. Mas, se em qualquer órgão da cidade o dinheiro público for aplicado de maneira a ser desperdiçado, nós não somos favoráveis”, disse. Abaixo, assista ao vídeo da Sessão na íntegra.

 

(*) Texto atualizado às 13h11 do dia 24/02/2021.

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Colaborador

Redação (*) / Foto: Getty Images