Uma doença silenciosa que afeta cada vez mais jovens

A depressão gera angústia, sensação de vazio, desânimo e prejudica a vida social e profissional. Se não for tratada, ela pode levar ao suicídio. Entenda o problema e saiba como ajudar quem está passando por esse sofrimento

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Sensação de vazio, culpa e falta de vontade de fazer até as atividades mais simples. É assim que Stéfani Dias da Silva, de 24 anos, (foto abaixo) descreve alguns sintomas que a acompanharam por alguns anos. A jovem, que é do Rio Grande do Sul, conta que as boas condições de vida que seus pais lhe proporcionavam não eram suficientes para suprir a dor constante que ela sentia. “Eu fazia faculdade e logo consegui um estágio. Tinha o apoio dos meus pais e de amigos, mas o vazio estava lá.”

Com o passar dos meses, o sofrimento aumentou. Ela ficou mais irritada e sem ânimo. “Eu brigava com meu pai e discutia com toda a família, mas, quem olhava de fora, achava que eu era feliz. Eu vivia com os amigos, tinha dinheiro para sair e comprar roupas novas. Nas redes sociais, eu tirava fotos bonitas, mas era tudo só aparência.”

Stéfani tentava esquecer a tristeza em festas que duravam toda a madrugada. Seu esforço era em vão. Quanto mais ela abafava o que sentia, mais a dor ficava insuportável. “Eu não via saída para o sofrimento.” Ela diz que não buscava ajuda por medo de ser julgada. Com o decorrer do tempo, a sensação de impotência a fez sentir raiva de si mesma. “Eu achava que todos os problemas eram culpa minha. Isso gerou um ódio de mim mesma.”

Automutilação
Um dia, o sofrimento levou Stéfani a ter uma atitude violenta contra si mesma. “Eu achava que merecia me punir.

Comecei a me cortar para tentar aliviar aquela dor insuportável.” A automutilação passou a fazer parte de sua rotina.

“Ficou difícil me controlar. Eu não me reconhecia mais. Escondia os cortes com curativos e casacos e dizia para as pessoas que eram machucados.” Um dia, ela falou sobre o problema: “contei para a minha mãe, pois me assustei com o que eu estava fazendo. Ela conversou comigo e começou a usar a fé e a lutar por mim na igreja.”

A depressão a levou a perder o interesse por tudo que gostava. “Eu passava a noite inteira acordada chorando. Não conseguia trabalhar nem estudar. Acabei pedindo demissão do trabalho.” Pouco depois, ela abandonou a faculdade e parou de sair com amigos e familiares.

A jovem conta que seu irmão a convidou para participar dos encontros do grupo Força Jovem Universal (FJU) e um dia ela aceitou o convite. “Eu queria saber o que era ser feliz de novo, então pedi a Deus que me mostrasse uma saída.”

Stéfani passou a participar das reuniões da Universal e a seguir os ensinamentos. “Eu fazia propósitos e participava das atividades da FJU. Também me batizei nas águas. Aos poucos, o sofrimento foi se dissipando. Um dia, eu estava em casa e falei para Deus que eu queria ter um encontro verdadeiro com o Espírito Santo para me manter na presença dEle e isso aconteceu. Foi um dia maravilhoso.” Desde aquele dia, a jovem garante que sua vida mudou.

Ela diz que a fé a ajudou a reunir forças para enfrentar a depressão. O apoio do irmão e dos pais também foi fundamental. “A convivência com a minha família melhorou muito e não tenho mais medo de falar sobre o que sinto.

Estou abrindo uma confeitaria e quero voltar a estudar. Também faço parte do projeto cultura da FJU, que tem música e teatro. Ajudo no figurino e nos bastidores. O vazio nunca mais voltou e sei que Deus está comigo nos bons momentos e também nos desertos”, finaliza a jovem, que superou a depressão há pouco mais de um ano.

Mal silencioso
A história de Stéfani é semelhante à de muitos jovens brasileiros. No País, ainda não há dados exatos do número de pessoas que enfrentam a depressão. Entretanto, a taxa de mortes por suicídio dá algumas pistas sobre o problema.

Entre 2007 e 2016, 106.374 mortes por suicídio foram registradas no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde divulgado no ano passado, um aumento de 16,8% nas ocorrências. A situação é mais alarmante entre os jovens. A taxa de suicídios entre adolescentes que vivem nas grandes cidades brasileiras cresceu 24% de 2006 a 2015, mostra uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Em abril, o governo federal sancionou a Lei nº 13.819, que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. O texto estabelece medidas para tentar diminuir situações como tentativas de suicídio, suicídios consumados e atos de automutilação.

A lei determina que as escolas públicas e privadas notifiquem aos conselhos tutelares toda suspeita ou ocorrência do tipo. As unidades de saúde também ficam obrigadas a reportar os episódios às autoridades sanitárias. O objetivo é manter um sistema nacional de registros para dimensionar a incidência de automutilação e suicídios no Brasil.

Fernanda de Albuquerque Fontes, psicóloga especialista em psicologia hospitalar, alerta que o tabu em torno da doença dificulta a busca por ajuda. “Ainda existe um estigma grande na sociedade. Muitas pessoas acham que seja frescura. Outras sentem vergonha de falar sobre o que sentem. Depressão é uma questão de saúde pública. É preciso entender o problema e buscar ajuda.”

Ela diz que, se a tristeza e o vazio não recebem tratamento adequado, podem se acumular e gerar transtornos. “Muitos dizem que a tristeza é uma fase, mas é preciso lembrar que a mente rege o corpo e ela é como um baú. O inconsciente vai guardando tudo até que esse acúmulo vem à tona por meio de sintomas físicos, dores e manchas e o
corpo adoece.”

O psicólogo Pablo Luz afirma que é importante estar atento aos sinais de depressão. “A pessoa se sente desanimada, sem forças, não vê sentido na vida e tenta se isolar. Ela sente um vazio, uma fraqueza, acha que a vida não tem mais cor e pode haver choro constante.”

O especialista diz que pais e responsáveis devem tentar se aproximar de jovens que estão depressivos sem fazer julgamentos. “O diálogo é fundamental para compreender o que a pessoa está passando. Procure se aproximar com empatia, coloque-se no lugar do outro. Depressão não é fingimento. Essa dor precisa
ser respeitada.”

Loucuras para agradar
Giulia Pinheiro Britti, de 19 anos (foto abaixo), conta que começou a se sentir inferior a outras pessoas aos 16 anos. “Eu vivia para agradar os outros. Tentava me adequar a padrões de beleza, fazia dietas malucas e exercícios.” Pouco depois, a jovem conta que passou a sentir um vazio interior. “Não tinha mais sentido viver. Eu não tinha vontade de fazer nada. Estava sem disposição.”

Para não pensar na dor, ela diz que procurava se distrair. “Tentei preencher o vazio com bebidas, festas, relacionamentos, mas piorava cada vez mais. Conseguia disfarçar para os amigos durante algum tempo, mas, quando chegava em casa, eu ficava muito mal. Minha alma pedia socorro.”

O sofrimento levou a mudanças no seu sono. “Eu acordava de madrugada, tinha pesadelos horríveis. Não conseguia dormir à noite, mas sentia sono de dia.” Ela também abandonou as atividades que costumava fazer, deixou de sair com os amigos e se isolou. “Eu não sentia vontade de fazer nada. Só queria ficar deitada.”

Ideias suicidas
Com o passar do tempo, os pensamentos de Giulia ficaram mais tenebrosos. “Comecei a pensar em morrer. Pensava em me atirar na frente de um carro. Queria acabar com aquele sofrimento.” Esse período durou seis meses. Ela conta que já não suportava mais a dor, até que teve uma ideia em uma madrugada. “Eu estava na festa de uma amiga, tinha ido depois de muita insistência. Às 3 horas da manhã, parei em um canto, olhei para as pessoas ao meu redor e decidi que aquele não era meu lugar. Deus falou para eu voltar para a fé”, diz ela, que havia frequentado a Universal até o início da adolescência.

Giulia conta que passou a frequentar as reuniões da Universal. “Procurei o grupo FJU em busca de apoio. Lá, encontrei jovens que tinham passado por coisas parecidas com as que eu enfrentava. Isso me confortou, pois vi que eu poderia mudar.” Ela explica que começou a participar de atividades do grupo e fortaleceu sua fé. “No início, eu ajudava na organização dos eventos. Agora participo do grupo de teatro. Acredito que isso ajuda a alcançar mais almas”, diz ela, que hoje também tem uma lancheria em Esteio, no Rio Grande do Sul.

Superação
O Bispo Celso Júnior, responsável pelo grupo Força Jovem Universal (FJU), destaca a importância das atividades para os jovens. “Dentro da FJU, temos projetos de esportes, música e arte, entre outros, que visam a interação deles e para mostrar que cada um tem o seu valor.” O Bispo ainda explica a origem da depressão: “precisamos vencer a falta de entendimento espiritual sobre o que eles passam. É essencial para quem tem depressão, transtornos de ansiedade e pensamentos suicidas se libertar da opressão que está sobre ele e dar a ele o ‘antídoto’ que traz o
alívio imediato.”

Vazio e drogas
Rogerio de Castro Teixeira, de 42 anos (foto abaixo), conta que cresceu vendo brigas entre seus pais. “Tive uma infância conturbada. Vi muita agressão em casa. Minha mãe até tentou se suicidar.”

Aos 14 anos, ele começou a consumir bebidas alcoólicas. O vazio que sentia o levou a experimentar outra droga: a cocaína. “Eu era muito vazio, muito ansioso. Provei cocaína aos 17. A droga me deixava eufórico e eu esquecia dos problemas, mas, depois do efeito, a tristeza e a dor voltavam em dobro.”

Ele começou a consumir quantidades cada vez maiores de cocaína para afastar a tristeza. Quando essa droga já não era suficiente, usou crack. “Comecei a roubar coisas da empresa do meu pai e de casa. Também cometi pequenos delitos na rua.” Por causa dos problemas, ele chegou a viver na rua. Rogerio conta que o sofrimento o levou a tentar tirar a própria vida. “Eu tentei suicídio pela primeira vez aos 20 anos, cortando o braço. Por sorte me levaram ao hospital. Levei 21 pontos.”

Rogerio se envolveu com traficantes e sofreu tentativa de assassinato. A relação com os pais era complicada. “De vez em quando eu ficava na casa deles, mas cheguei a agredir minha mãe. Eu estava fumando crack e bebendo pinga. Ouvia vozes e tinha alucinações. Ia acabar me matando.” Ele teve dois filhos, mas perdeu o contato com eles. “De tudo que perdi para a depressão e as drogas, o pior foi perder a infância dos meus filhos.”

Decisão
Rogerio decidiu procurar ajuda na reunião da Cura dos Vícios da Universal, aconselhado pela mãe. “Eu estava no fundo do poço. Com as reuniões, consegui superar a dependência e encontrei na fé forças para superar o vazio. A relação com meus pais melhorou muito. Eu me entreguei para Deus. Hoje, faço núcleos para alcançar mais almas”, diz ele, acrescentando que tem disposição e vontade de viver. “Fiz um curso de audiovisual, estou trabalhando com filmagem e quero abrir minha produtora.”

Fé inteligente
O Bispo Renato Cardoso disse no programa Entrelinhas, disponível no univervideo.com, que o combate à depressão pode ser feito a partir de três passos inspirados em Tiago 4.6-8: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós.”

De acordo com o Bispo, o primeiro passo para superar a depressão é ter humildade para reconhecer o problema e aceitar ajuda. O segundo é entender que o problema é espiritual. Resistir ao diabo é não aceitar o problema. E o terceiro é aproximar-se de Deus, chegar-se a Deus, afirmou. Ele ainda esclarece que a aproximação de Deus não depende de vontade. “O segredo da fé é a obediência à Palavra de Deus, não é merecer, não é sentimento”, conclui.

 

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: iStock / Mídia FJU RS / Demetrio Koch