TikTok: aplicativo que atrai jovens pode levar a tragédias

A rede possui mais de 1 bilhão de usuários ativos e 32,5% têm entre 10 e 19 anos de idade, segundo relatório da Wallaroo Media

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Dancinhas divertidas, desafios e múltiplos compartilhamentos. É assim que muitos desavisados encaram o TikTok, mas a rede social esconde números alarmantes. Segundo uma publicação do jornal inglês The Sun, pelo menos 41 mortes estão relacionadas ao aplicativo e nove delas são supostos suicídios. Isso sem contar casos de pessoas – em sua maioria crianças e adolescentes – que hoje vivem com sequelas depois que encararam desafios publicados na rede social.

A origem do Tiktok
Em termos gerais, o TikTok permite a criação e o compartilhamento de vídeos curtos, de 15 a 60 segundos, com muitas opções de edição, como filtros, legendas, trilhas sonoras e cortes. Como é comum às redes sociais, os usuários conseguem seguir o perfil de outras pessoas, interagir e compartilhar o conteúdo.

O aplicativo pertence à empresa chinesa ByteDance e teve a primeira versão, chamada Douyin, lançada na China em 2016. Depois de ajustes e muito investimento, ele chegou ao mercado internacional e ganhou os primeiros milhões de usuários. O salto no número de cadastros ocorreu em 2019, com 750 milhões de downloads, e foi intensificado durante a pandemia. Em 2020, a plataforma superou os números de aplicativos consolidados, como Facebook e WhatsApp, e atualmente já foi baixado mais de 2,6 bilhões de vezes.

De acordo com um relatório da Wallaroo Media, com dados de junho deste ano, o TikTok tem cerca de 1,1 bilhão de usuários ativos mensais e os mais alcançados são as crianças e os adolescentes. Segundo a empresa de monitoramento Statista, cerca de 32,5% dos usuários têm entre 10 e 19 anos. Os usuários de 20 a 29 correspondem a 29,5% e uma fatia menor está associada aos com mais de 30 anos.

Casos polêmicos
O alcance do TikTok é semelhante às polêmicas em que ele se envolveu nos últimos anos. Na Índia, por exemplo, o número de mortes relacionadas à plataforma foi tão alto que o país removeu a plataforma das lojas de aplicativos. O motivo principal é que a rede social não oferece diretrizes claras e eficientes para propiciar segurança aos usuários.

Essa segurança está relacionada, principalmente, ao conteúdo que é compartilhado, pois muitos incentivam desafios perigosos, imagens que estimulam práticas de automutilação e suicídio, sem contar a divulgação de pornografia e a sensualização de crianças.

Em janeiro deste ano, na Itália, uma menina de 10 anos foi encontrada morta por sua irmã no banheiro. A suspeita da polícia é que ela, que era muito ativa em suas redes sociais, tenha participado de um desafio do TikTok e acabou tirando a própria vida. Logo após a repercussão do caso, o país bloqueou o aplicativo sob a justificativa de que ele seria incapaz de verificar a idade dos usuários. O limite estabelecido pela empresa é de 13 anos.

A menina italiana não foi a única. No Paquistão, a necessidade de gravar um vídeo criativo levou um jovem de 19 anos a usar uma arma de fogo na produção. O objetivo era simular um suicídio, mas o que era para ser uma brincadeira se transformou em realidade: a arma disparou acidentalmente em sua cabeça. Os amigos, que estavam presentes durante a produção do conteúdo, o levaram ao hospital, mas o jovem não resistiu ao ferimento. O pior, segundo o portal The Express Tribune, é que o vídeo do momento da morte foi compartilhado na rede social.

Controlar o conteúdo também tem sido um dos desafios para a empresa criadora do aplicativo. Vídeos de violência, mortes e pornografia são amplamente divulgados e recebem milhares de visualizações. De acordo com um relatório de transparência, o TikTok removeu cerca de 105 milhões de vídeos impróprios no primeiro semestre de 2020, mas essa quantidade ainda é insuficiente, pois representa menos de 1% dos vídeos publicados. Também não podemos nos esquecer dos “haters”, pessoas que fazem comentários de ódio nas redes sociais.

Aqui no Brasil, o filho da cantora Walkyria Santos, Lucas Santos, de 16 anos, tirou a própria vida depois de receber uma enxurrada de comentários negativos em uma de suas publicações no aplicativo. O rapaz fazia acompanhamento psicológico e o fato de ser “rejeitado” pode ter sido o gatilho para que ele desistisse de viver.

Criado para ser viciante
O especialista em tecnologia mobile chinesa Matthew Brennan escreveu o livro Attention Factory (Fábrica de Atenção, em tradução livre), no qual expõe algumas características do TikTok que o tornam tão atraente. A primeira característica é a rolagem infinita, que faz com que o usuário passe a tela em busca de mais conteúdo, que nunca acaba. O TikTok ainda possui exibição automática de vídeos, que emenda um conteúdo no outro. Outra estratégia que recebe muitos investimentos é o algoritmo que identifica as preferências do internauta e oferece conteúdos sob medida.

O que fazer?
A psicóloga Larissa Paes Leme alerta que as crianças não têm estrutura para que fiquem sozinhas em um ambiente tão instável e aberto como as redes sociais. “Elas não têm recursos cognitivos e emocionais para lidar com algumas questões e podem ser influenciadas, comparar sua vida com a de outras pessoas e sofrer com questões do mundo da internet, onde é possível encontrar qualquer coisa.”

Para proteger os filhos nesse mundo cada vez mais digital é preciso manter um diálogo aberto e estabelecer limites. A ideia é que os pais conversem sobre os riscos da exposição nas redes sociais, monitorem as atividades dos filhos on-line e criem alternativas atrativas para as crianças, propondo outras atividades longe das telas. “Ter os pais presentes, seja com o diálogo, em atividades ou mesmo por meio da observação, para ver o que elas estão fazendo, é essencial para criar uma experiência segura on-line”, finaliza.

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Colaborador

Cinthia Cardoso - Foto: Getty Images