Seus filhos estão expostos a desafios perigosos na internet

Práticas que podem levar à morte são populares entre crianças. Como o bom convívio familiar protege os pequenos das armadilhas?

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No início do mês passou a circular nas redes sociais vídeos que mostram uma brincadeira entre crianças e adolescentes que trouxe preocupação aos pais e professores. No chamado Desafio da Rasteira, ou Quebra-Crânio, duas pessoas pedem a uma terceira para dar um pulo e, quando a vítima está no ar, as outras a derrubam com uma rasteira. Quando tomaram conhecimento disso, muitos especialistas vieram a público falar que as lesões que essa prática pode causar são irreversíveis e podem até levar o jovem à morte.

Em novembro do ano passado, Emanuela Medeiros, de 16 anos, da Escola Municipal Antônio Fagundes, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, morreu depois de participar de uma brincadeira semelhante, intitulada Roleta Humana. A jovem sofreu uma queda depois de ser levantada pelos braços por dois colegas, que a forçaram a fazer uma cambalhota no ar.

São diversos os comportamentos nocivos que ganham palco e audiência na internet. Em 2018, por exemplo, uma menina de 7 anos, de São Bernardo do Campo, região de SP, morreu depois de inalar desodorante aerossol imitando um vídeo on-line.

Uma pesquisa da consultoria especializada Tic Kids Online, que ouviu 3 mil famílias brasileiras com filhos entre 9 e 17 anos a respeito de hábitos na internet, apontou que 16% das crianças entrevistadas disseram ter visto formas de machucar a si mesmas e que 14% tiveram contato com conteúdo que mostrava como cometer suicídio.

A indiferença dos pais
O que muitos não sabem é que por trás de jovens que participam desses desafios há problemas emocionais que os influenciam a adotar essas atitudes. “As crianças usam de maneira excessiva aparelhos celulares e absorvem todo tipo de informação, sem filtro algum. Muitos pais estão preocupados em dar uma vida de ‘qualidade’ para seus filhos e se esquecem do principal: a presença. Sem o estabelecimento de vínculos, os laços não se estreitam e o relacionamento é construído na base da indiferença. Nessa situação, muitas crianças entram em um quadro depressivo e buscam por aceitação a qualquer custo”, observa Mariza Baumbach, pedagoga e analista comportamental.

Para Edineia Dutra, (foto abaixo) responsável pelo Projeto Escola de Mães, da Universal, a correria diária tem sido um dos principais motivos para que os pais se ausentem da criação dos filhos. “Muitos pais já se acostumaram a reclamar da falta de tempo, mas, na maioria dos casos, o que falta é prioridade. Porque investimos mais tempo naquilo que damos mais valor”, observa.

Foi essa ausência familiar que fez com que o estudante Pedro Lucas Alves dos Santos, de 14 anos, buscasse nas amizades o carinho que não tinha em casa. Os pais dele se separaram quando ele tinha 5 anos e Pedro cresceu se sentindo sozinho por não ter a presença da figura paterna. Além disso, ele teve que conviver com o alcoolismo da mãe.

“Eu não sabia como lidar com os problemas e me tornei muito carente. Isso refletiu nas amizades. Eu queria sentir que pertencia aos grupos e fazia de tudo para conseguir isso. Lembro que teve uma vez que me desafiaram a fazer um movimento com a cabeça até desmaiar. Queria que todos vissem que eu era corajoso. Tinha que fazer na sacada de casa e filmar.”

Quando Pedro foi realizar essa brincadeira perigosa, sua mãe, a cozinheira Luciana Célia Alves, de 40 anos, presenciou o que ele fazia. “Naquela época, eu me dei conta que se eu não mudasse como mãe iria perder meu filho porque ele poderia morrer fazendo aquilo. Então, busquei orientações na Igreja Universal, que estava começando a frequentar. Procurei melhorar como mãe e dar exemplo, atenção e carinho.”

Após algum tempo, o estudante notou algumas diferenças no comportamento da mãe e isso o fez se sentir mais seguro. “Ela passou a se interessar pelo meu dia, a me dar mais carinho e atenção. Isso fez que eu me sentisse seguro e percebesse que não preciso colocar minha vida em risco para ser amado.”

A relação entre automutilação e inferioridade
A pedagoga e analista comportamental Mariza Baumbach acrescenta que a construção da personalidade de uma pessoa é iniciada nos primeiros anos de vida e, por isso, a presença dos pais nesse período é essencial. “A família é o primeiro grupo social ao qual um ser humano pertence. Na infância são construídos os valores e as crenças que nortearão todo o comportamento dela. Se os pais estão ausentes, não são eles que vão apresentar os valores de referência para que a criança estabeleça seus próprios conceitos de visão de mundo.”

Essa ausência de referência fez com que a promotora de vendas e maquiadora Luana Araújo de Lima, de 22 anos, se sentisse inferior às outras crianças durante toda a sua infância. “Meus pais brigavam muito e se divorciaram. Me culpava por isso. Lembro que a ausência do meu pai me causava uma dor imensa. Me sentia feia, burra e pensava que ninguém me amava, além de me ver como um fardo para a minha mãe.”

Sozinha, a mãe de Luana tentava desempenhar os dois papéis, mas, com todas as atividades do dia a dia, não conseguia ser presente como gostaria na vida da filha. “Encontrei um alento na internet. Lembro que pesquisava sobre suicídio e lia depoimentos de quem queria tirar a própria vida. Até que cheguei a um relato de uma menina que dizia se cortar para aliviar sua tristeza.”

Luana passou a se automutilar para tentar amenizar aquela dor. “Me cortar se tornou um vício. Também tentei suicídio tomando remédios. Engordei porque descontava a ansiedade na comida e passei a tomar medicamentos para emagrecer. Chorava constantemente e pedia para Deus que me matasse já que nem isso eu estava conseguindo fazer.”

Sem saber o que fazer pela filha, a mãe de Luana a mandou morar com os tios. “Eles me convidaram para ir a uma palestra na Universal. Lá ouvi histórias de pessoas que tinham passado por situações semelhantes às que eu vivia e tinham superado. Decidi me lançar 100% no Altar. Minha transformação foi rápida porque entendi que ainda que o mundo me rejeitasse eu tinha Deus comigo.”

Hoje Luana tem um ótimo relacionamento com a mãe, perdoou o pai e, além disso, sua história de vida tem ajudado muitas outras pessoas. “Faço parte do grupo Depressão tem Cura, da Universal. Me sinto muito grata em poder falar que é possível vencer essa dor por meio do batismo com o Espírito Santo.”

A fé protege os filhos?
Recentemente, uma pesquisa divulgada no Journal of Happiness Studies, realizada pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, mostrou que crianças mais espiritualizadas são mais felizes.

Além disso, a psicóloga norte-americana Lisa Miller, professora da Universidade Colúmbia, afirmou que as crianças inseridas em famílias que incentivam o desenvolvimento espiritual têm 60% menos possibilidade de se tornar adolescentes depressivos, 40% menos chance de usar drogas e maior índice de boa autoestima.

É com o objetivo de alcançar esses resultados que o vigilante Severino Roberto Cavalcante Da Silva, de 38 anos, e sua esposa, a operadora de caixa Linezia Oliveira Cavalcante, (foto abaixo) de 41 anos, buscam ensinar a Fé para a filha, Tiffany Cavalcante, de 11 anos. “Tentamos encaminhá-la à Presença de Deus. Ela faz parte da Escola Bíblica Infantil e também do Godllywood Girls e nós estamos no projeto Escola de Mães para crescermos como pais”, observa Severino.

Essas atitudes, segundo Linezia, têm feito muito bem à filha. “Percebemos que ela é obediente, algo difícil nos dias atuais. O fato de orarmos juntos, dela ter amigas da mesma Fé e sentir confiança em nós faz com que ela seja uma menina segura. Estamos plantando-a em Deus para que a Tiffany não saia dos caminhos dEle.”

A servidora pública Maria Ivaneide da Costa Sousa, de 51 anos, e o marido, o motorista Caetano Sergio dos Santos Sousa, de 54 anos, também ensinaram aos filhos, o estudante universitário Josué da Costa Sousa, de 18 anos, e sua irmã, a profissional de Recursos Humanos, Lílian da Costa Sousa, de 22 anos, o caminho da Fé. “Desde pequenos presenciávamos o temor dos nossos pais para com Deus.

Aquilo despertou o desejo de seguirmos pelo mesmo caminho”, afirma Lílian.

Josué analisa que eles nunca tiveram vontade de participar de brincadeiras perigosas na infância. “Nunca cogitamos fazer esses tipos de desafios, que já existiam na nossa época com outros nomes. Tínhamos a consciência que era errado porque nossos pais nos instruíam. Nos sentíamos completos na relação familiar e também com Deus e não tínhamos vazio.”

Segundo Maria, não adianta que os pais queiram que os filhos andem no caminho certo se eles mesmos não o fizerem. “Aquela famosa frase ‘faça o que eu digo, mas não o que eu faço’ não funciona. As crianças precisam de exemplos e os pais devem representar o próprio Deus nos lares.”

Além disso, Caetano salienta a importância de cultivar a amizade na relação entre pais e filhos. “Hoje me orgulho de ver os dois como obreiros voluntários na Igreja Universal, verdadeiros exemplos do amor do Altíssimo.”

A rebeldia ganha espaço
A empresária Lenilce Gomes, de 59 anos, e seu marido, Sinobilino Sousa Chaves, falecido há dois anos, também buscaram ensinar a importância da Fé para a filha, a supervisora Jéssica Gomes, de 29 anos, mas ela decidiu não seguir os ensinamentos. “O que sempre passei para ela foi a importância de buscar o Espírito Santo. Durante toda infância funcionou, mas quando ela entrou na adolescência quis conhecer o ‘mundo’”, se recorda Lenilce.

Jéssica conta que sua mãe era um exemplo de Fé, porém a vontade de ser popular na escola e de parecer como as amigas falou mais alto. “Minha mãe não permitia que eu fosse para baladas, então passei a ir escondido. Não demorou muito para que eu experimentasse bebidas. Não percebia o sofrimento que estava causando para os meus pais e para Deus também.”

Então os pais decidiram confiar no Altar. “Fizemos votos e propósitos para que ela voltasse ao Primeiro Amor, confiamos em Deus. Me recordo que teve uma situação em que a Jéssica foi agredida numa festa e ninguém a ajudou. Naquele dia a chamei para conversar e expliquei que as amigas não eram sinceras ou não a teriam deixado sozinha”, relata Lenilce.

Aquilo fez com que Jéssica refletisse. “Concordei com a minha mãe. Estava vazia e sabia que precisava buscar o Espírito Santo para preenchê-lo. Como eu via que podia contar com a minha mãe, pedi auxílio. Naquele momento ela me levou à igreja e entrei para o grupo Força Jovem Universal. Com as novas amizades e após receber o Espírito Santo, entendi que não precisava fazer coisas erradas para me sentir feliz.”

Lenilce afirma que, mesmo que os filhos escolham seguir outro caminho, os pais que plantam o amor de Deus na vida deles, cedo ou tarde, colherão os frutos do sacrifício. “Nenhuma oração feita com sinceridade no Altar volta vazia. É preciso que os pais façam o melhor, deem o melhor e confiem em Deus”, completa.

Não desista dos seus filhos
Educar dá trabalho, mas, segundo a responsável pelo Projeto Escola de Mães, Edineia Dutra, essa educação aliada à Fé é o único caminho que protege os filhos das más influências. “A Fé em Deus e a prática dos valores cristãos impulsionam os filhos a seguirem os mandamentos da Palavra de Deus, como honrar pai e mãe. Assim eles terão vida longa e respeito ao seu próprio corpo, o que os manterá distantes de vícios e da participação em jogos perigosos porque se manterão afastados da más influências”, conclui.

Os encontros do Projeto Escola de Mães acontecem todo primeiro domingo do mês às 16h no Templo de Salomão e em todo o Brasil. Mais informações pelo site escolademães.com

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Colaborador

Ana Carolina Cury / Fotos: Nicoly Stefane Bento Lima, reprodução, getty images