O que está por trás do novo Instagram para crianças

Empresa trabalha em projeto que pode viciar os menores

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O Facebook, dono da mídia social Instagram, está desenvolvendo uma plataforma exclusiva para crianças que tenham menos de 13 anos de idade. A iniciativa gerou repulsa de especialistas e da comunidade em geral, que escreveu uma carta de repúdio à empresa.

A carta foi elaborada pela instituição Campaign for a Commercial-free Childhood (campanha para uma infância sem comerciais, em tradução livre) e assinada por 35 organizações e 64 profissionais do mundo inteiro.

De acordo com ela, “o modelo de negócios do Instagram se baseia em extensa coleta de dados, maximizando o tempo nos dispositivos, promovendo uma cultura de compartilhamento excessivo e idolatrando influenciadores, bem como um foco implacável em aparência física.”

A carta ressalta que, apesar de o Instagram já possuir idade mínima para usuários (13 anos), crianças com idade menor do que essa já utilizam a plataforma, pois é simples mentir a idade nessa situação. Sabendo disso, o real objetivo da empresa é alcançar crianças ainda menores, que cada vez mais estão utilizando a internet.

“O Facebook afirma que criar um Instagram para crianças ajudará a mantê-las seguras na plataforma. Mas o objetivo real da empresa é expandir sua franquia altamente lucrativa para um público ainda mais jovem, apresentando às crianças um poderoso ambiente de mídia social comercializado que representa sérias ameaças à sua privacidade, saúde e bem-estar”, afirmou à BBC Kathryn Montgomery, do grupo de direitos digitais dos Centro para Democracia Digital dos EUA.

Em resposta, o Facebook afirmou que está trabalhando em métodos de verificação de idade para afastar pessoas com menos de 13 anos do Instagram:

“Concordamos que qualquer experiência que desenvolvamos deve priorizar sua segurança e privacidade, e vamos consultar especialistas em desenvolvimento infantil, segurança infantil e saúde mental e defensores da privacidade. Também não vamos exibir anúncios em nenhuma versão do Instagram desenvolvida para menores de 13 anos.”

Será que é o suficiente?

Os especialistas afirmam que a proposta do Instagram em si já é prejudicial a crianças, pois é uma plataforma “obcecada pela imagem” e não deve ser utilizada por pessoas que ainda estão em desenvolvimento, sem nem sequer ter sua personalidade formada.

“O foco do Instagram em compartilhamento de fotos e aparência torna a plataforma particularmente inadequada para crianças que estão no meio de estágios cruciais de desenvolvimento de seu senso de identidade”, diz a carta. “Crianças e adolescentes (especialmente meninas) aprenderam a associar fotos exageradamente sexualizadas e altamente editadas de si mesmas com mais atenção na plataforma e popularidade entre seus colegas.”

Ademais, o Instagram apresenta “pressão comercial desnecessária” às crianças. Isso porque, mesmo que a nova plataforma não permita propagandas, sempre haverá aquele influenciador digital fazendo publicidade. Hoje, o Instagram é uma das plataformas de publicidade com artistas mais lucrativa tanto às empresas, quanto aos influenciadores.

Por fim, a carta ressalta que a proposta do Facebook de que a conta será controlada pelos pais é ineficaz. O próprio Facebook já criou uma mídia social que seguiria esse padrão, o “Messenger Kids”. Na ocasião, provou-se simples para crianças fingirem ser seus pais e utilizar a mídia social sem supervisão.

Isca do diabo

Em live realizada pelo FTU, o Pastor Paulo Cezar explicou que “os governos, o diabo, o mundo sabe que o futuro está nos jovens. Tudo o que é feito hoje já é feito pensando na cabeça de como influenciar um jovem”.

E as mídias sociais são especialmente desenvolvidas com esse intuito:

“Os pilares que definem o comportamento de uma pessoa: ações, opinião e tempo. Se você consegue dominar o comportamento, a opinião e o tempo de uma pessoa você domina a vida dela.”

As mídias sociais são planejadas para que as pessoas – e, no caso desse novo Instagram “infantil”, as crianças – passem cada vez mais tempo online. Para isso, o investimento em influenciadores digitais é grande. Esse conteúdo não apenas domina o tempo, como ensina como a pessoa deve se comportar e as opiniões que ela deve ter. Em resumo: o usuário se torna um viciado controlado.

Recentemente, um estudo demonstrou que o Instagram valoriza fotos sensuais e de seminudez, influenciando os usuários a postarem fotos do mesmo tipo.

“O que mais nós vemos hoje é muita gente que fica na internet se exibindo”, afirma o Pastor. “Realmente o diabo tem feito o ser humano de gato e sapato. Realmente o diabo tem envergonhado a humanidade e os jovens, para que se passem por ridículo, às vezes”.

De fato, a hiperexposição em redes sociais pode fazer muito mal às crianças. Clique aqui e saiba mais sobre o assunto.

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Colaborador

Andre Batista / Foto: Getty Images