Instagram favorece conteúdos com seminudez

Estudo comprova que pessoas seminuas recebem mais visualizações por culpa da rede social

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Estudo realizado na Alemanha comprovou que o Instagram, apesar de proibir imagens de nudez, valoriza e incentiva seus usuários a postarem imagens de seminudez, em trajes de banho ou em roupas de baixo.

O estudo foi realizado pela organização alemã de pesquisa e defesa focada na tomada de decisões algorítmicas Algorithm Watch, em colaboração com a European Data Journalism Network. De acordo com o resultado, quanto mais partes do corpo os usuários mostram, mais suas fotos são replicadas nos feeds de outras pessoas.

Consequentemente, essas imagens recebem mais curtidas, incentivando seus usuários a postarem cada vez mais conteúdos similares. O artigo classificou essa política do Instagram como “hipersexualização nas plataformas”.

Método de pesquisa

Para que não houvesse falhas no estudo, os pesquisadores avaliaram 37 criadores de conteúdo de 12 países diferentes, além das contas de dezenas de usuários. Ao todo, foram 2.400 fotos analisadas em 1.737 postagens

De todas essas postagens, apenas 21% mostravam pessoas em roupas íntimas ou trajes de banho. Mas esses posts correspondiam a mais de 30% das fotos exibidas para os usuários. E muitas delas apareciam mais de uma vez.

Ou seja: mesmo sendo menor a quantidade desse tipo de imagem, ela é exibida com mais frequência.

Outro dado relevante descoberto é que imagens de mulheres seminuas têm 54% de probabilidade a mais de serem exibidas pelo Instagram do que qualquer outro tipo de postagem. Por outro lado, fotos de paisagens ou alimentos têm 60% a menos de chances de serem exibidas.

Até mesmo usuários que não seguem pessoas que fazem esse tipo de postagem recebem as fotos como “sugestão” no feed ou na aba “pesquisa”.

“Nossa análise apresenta provas sólidas de que as imagens que mostram mais pele são exibidas aos usuários com mais frequência do que as imagens que não a mostram. O conteúdo sexualmente sugestivo, como a nudez de ambos os sexos, aparece com muito mais frequência no feed de notícias de todos os usuários”, conclui o estudo.

Instagram nega

Embora os números sejam consistentes, o Instagram nega que seja verdade. De acordo com a empresa, o estudo é “falho”. A empresa afirmou:

“Classificamos as postagens em seu feed com base no conteúdo e nas contas em que demonstrou interesse, não segundo fatores arbitrários como a presença de trajes de banho”.

Mas faça um teste: se você possui conta no Instagram, abra a aba “pesquisa”. Além das sugestões imediatas, preste atenção em que tipo de conta é sugerida a cada nova letra que você digita no campo de pesquisa.

Se você não possui conta no Instagram, faça o mesmo teste no Facebook. Afinal, as duas redes sociais possuem os mesmos donos e algoritmos semelhantes.

Manipulação de usuários

As redes sociais são desenvolvidas para manter as pessoas presas a elas. Para que isso aconteça, uma das ferramentas necessárias é a “recompensa”, que, geralmente, são curtidas, comentários e compartilhamentos. Quanto mais recompensas o usuário recebe, mais ele quer postar e permanecer conectado.

Em entrevista sobre o assunto ao jornal espanhol El País, o sociólogo Pero López Ugarte afirmou:

“Estamos diante de uma dupla manipulação. Em primeiro lugar, de uma rede social que diz ir em uma direção politicamente correta, mas que na realidade vai na direção oposta, mas com sigilo para não se trair. E, segundo, de um algoritmo que nos faz acreditar que as pessoas com quem interagimos na rede gostam, pedem e exigem esse tipo de conteúdo, fazendo com que o usuário assuma esse comportamento supostamente natural e o integre à sua identidade digital”.

Por que as pessoas se rendem

Conforme explicou Ugarte, as pessoas acessam tanto esse tipo de conteúdo que acabam naturalizando a hipersexualização e adotando tal comportamento. No entanto, as curtidas, comentários e compartilhamentos recebidos nas redes sociais surtem efeito, principalmente, porque as pessoas não estão recebendo essa atenção na vida real.

É o que explica a escritora Cristiane Cardoso:

“As pessoas acabam tirando atenção disso. Elas suprem a necessidade delas de atenção, de carinho, de elogio, nas redes sociais. As pessoas precisam de carinho de vez em quando. Ela precisa de atenção e ela supre isso por meio do celular”.

O comportamento se torna uma cadeia de eventos: a rede social valoriza nudez. A pessoa quer se sentir valorizada. Logo, a pessoa posta mais nudez porque recebe mais “recompensas” por isso.

Esse comportamento repetitivo e prejudicial é um vício. Por esse motivo é que as redes sociais são consideradas o cigarro da atualidade. Clique aqui, entenda mais sobre o assunto e saiba como se libertar desse mal.

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Colaborador

Andre Batista / Imagem: Getty Images