Mais um massacre com arma de fogo nos Estados Unidos
Com arsenal de mais de 20 armas, homem matou ao menos 59 pessoas e feriu mais de 500 em Las Vegas. Tiroteio em massa traz reflexões sobre o porte de armas
A noite do domingo, 1º de outubro, entrou para a história dos Estados Unidos como o dia do maior massacre a tiros das últimas décadas no país. Las Vegas, no Estado de Nevada, foi palco da matança que deixou ao menos 59 mortos e mais de 500 feridos. Do 32º andar de um hotel, um único suspeito usou armas automáticas para disparar contra cerca de 22 mil pessoas que assistiam a um show ao ar livre.
O autor do tiroteio foi identificado como Stephen Paddock, um norte-americano de 64 anos que se suicidou antes de a polícia entrar no quarto em que ele fez os disparos. No local, os agentes encontraram mais de 20 armas, algumas automáticas, com cartuchos capazes de armazenar até centenas de balas.
Mortes por arma de fogo
Os tiroteios em massa são comuns nos Estados Unidos. Só nos primeiros 275 dias de 2017, de 1º de janeiro a 2 de outubro, 273 atiradores como Paddock provocaram a morte de centenas de pessoas. Os números são da associação Gun Violence Archive (GVA), que registra casos de violência armada com base em dados do governo e das forças de segurança norte-
americanas, segundo reportagem da BBC Brasil. De acordo com a associação, os disparos de armas de fogo mataram 11.685 pessoas neste ano, o que representa 42 mortes por dia. A GVA considera tiroteio em massa episódios em que quatro ou mais vítimas são alvejadas por uma mesma pessoa ou grupo de atiradores.
Porte de armas
Nos Estados Unidos, todo cidadão tem direito ao porte de pistolas, rifles e revólveres. Isso significa que qualquer pessoa pode andar armada nas ruas do país, o que torna mais difícil a identificação de um potencial atirador em massa. No caso do massacre em Las Vegas, por exemplo, Paddock não tinha antecedentes criminais graves e o fato de ele possuir mais de 20 armas nunca levantou suspeitas da polícia. Ainda não se sabe a motivação do ataque. Apesar dos constantes tiroteios no país, o Senado norte-americano liberou a venda de armas para pessoas com transtornos mentais no início do ano. Já a Câmara dos Representantes aprovou recentemente uma lei que torna mais fácil para que cidadãos comuns comprem silenciadores para suas armas.
Contradições
No Brasil, a situação do controle de armas é diferente. Desde 2003, o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03) restringe o porte de armas por cidadãos comuns. Apesar disso, o número de mortes por arma de fogo ainda é maior do que nos Estados Unidos. Aqui, 123 pessoas são assassinadas a tiros todos os dias, segundo dados do Mapa da Violência 2016, estudo desenvolvido pelo sociólogo Julio
Jacobo Waiselfisz.
O grande número de mortes por arma de fogo mostra a complexidade da discussão sobre o porte de armas. Se no Brasil o desarmamento não significou o fim dos assassinatos, nos Estados Unidos o porte de armas se mostra um grande desafio à segurança. Embora distintas, as situações dos dois países trazem reflexões importantes sobre o armamento. Pessoas que têm arma de fogo estão mais protegidas da violência? As vítimas do tiroteio nos Estados Unidos teriam sobrevivido se tivessem uma arma na mão? Por outro lado, como combater o comércio ilegal de armas que continua a abastecer criminosos e a fazer vítimas em todos os Estados brasileiros? Afinal, o porte de armas no Brasil é uma opção para combater a violência ou um “tiro no próprio pé”, como diz a gíria popular?