Entrelinhas: brasileiros deportados ilegalmente de Angola contam detalhes sobre o que aconteceu

Programa exibido no domingo último (16), contou com a presença dos membros da Universal que viajaram apenas com a roupa do corpo e sem ter a chance de se despedir de suas famílias

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Desde o dia 11 de maio último, autoridades angolanas estão deportando brasileiros membros da Universal. No primeiro voo, que chegou ao Brasil no dia 12, vieram sete pastores, um bispo e uma esposa (desacompanhada de seu marido). Eles desembarcaram no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, e foram recebidos por uma comitiva. Dois dias depois, chegaram mais sete pastores e duas esposas.

O programa Entrelinhas, deste domingo último (16), com apresentação do Bispo Renato Cardoso e do Bispo Adilson Silva, trouxe aos estúdios os missionários brasileiros para contar e debater em detalhes o que aconteceu com eles em Angola. Desde os ataques de junho de 2020, quando um grupo dissidente, de ex-bispos e ex-pastores, expulsos por graves desvios de conduta, atacou e invadiu, de forma orquestrada e violenta, templos e residências.

Inicialmente, o programa apresentou uma reportagem sobre a situação dos missionários nos últimos dias quando foram atraídos pelo serviço de imigração, chamados para uma audiência, supostamente, para tratar de um recurso administrativo que garantiria a permanência deles no país. Até a deportação ilegal, apenas com a roupa do corpo, após horas presos em uma sala sem comida ou água, e sem ao menos terem a chance de se despedir de suas famílias.

Omissão e problema diplomático

Um ponto a destacar é que durante todo o tempo em que os membros da Universal estiveram em poder do serviço de imigração angolano, não contaram com a presença do embaixador do Brasil no país. O Itamaraty chegou a emitir uma nota na qual dizia que os missionários brasileiros decidiram voluntariamente sair de Angola. Afirmação que todos desmentiram no programa.

O Bispo Renato comentou sobre a omissão do governo brasileiro diante deste fato:

“Eles não vieram voluntariamente. Então, que o ministro das Relações Exteriores e o Itamaraty prestem atenção a esse fato. Porque não sabemos quem emitiu essa nota. Não houve saída voluntariamente, eles foram forçados, e até agora o Itamaraty não corrigiu essa informação. Uma omissão total do governo brasileiro, no mínimo, o embaixador brasileiro deveria estar lá representando os cidadãos brasileiros. Mas, não foi feita a intervenção necessária”.

Ele ainda reiterou:

“É muito mais do que um problema de liberdade religiosa, de perseguição religiosa. É um problema diplomático, de direitos humanos (…) a Igreja Universal está cobrando aquilo que é dever de um presidente para com qualquer cidadão do seu país, em qualquer nação do mundo. É uma obrigação do presidente de qualquer nação defender o seu cidadão em terras estranhas. Mas, onde está a ação do Brasil? Nós ainda temos muitos missionários, e as famílias destes que estão aqui, lá em Angola (…) Por que essa omissão? Por que esse silêncio? (…) Nós não estamos pedindo favores, estamos pedindo apenas que direitos básicos sejam respeitados”.

Partido do governo de Angola

Em seguida, em entrevista ao jornalista Arnaldo Duran, o advogado da Universal em Angola, Amaral Gourgel, afirmou que houve ilegalidade não somente no fato da expulsão dos missionários. Mas, que isso já vem desde o momento em que o governo de Angola passou a interferir em um problema de caráter religioso (em um estado laico). Tomou partido de uma das partes e reconheceu a legitimidade de um grupo dissidente. Grupo esse que, por sua vez, escreveu ao órgão de imigraçao pedindo a deportação/expulsão dos missionários brasileiros (dizendo que já não fazem falta para o trabalho que a Igreja desenvolve no país).

“A Igreja sempre trabalhou junto com as autoridades, até anterior a este governo atual, e está há 30 anos em Angola (…) A Universal foi para Angola e vai para qualquer lugar do mundo com uma missão apenas: pregar o Evangelho. Se as pessoas recorrem aos nossos cultos é porque estão sendo ajudadas. E o que as autoridades podem é unir forças, ver na Igreja um parceiro, um aliado para poder ajudar o povo, independente da religião e do credo religioso”, comentou o Bispo.

O lado da fé

Em 30 de janeiro último, mais de 20 mil pessoas, entre eles fiéis e obreiros da Universal, se reuniram em uma marcha em diversos locais de Angola, a favor da reabertura dos templos da Igreja e contra os crimes cometidos. Depois disso, outras manifestações ocorreram, contudo sob violenta repressão da polícia local.

Os missionários brasileiros também comentaram sobre as situações que passaram neste período sem cultos e como o povo da Igreja vem sofrendo humilhação e sendo agredido. Eles contaram que se os dissidentes tomaram os templos, ao mesmo tempo não tomaram a Igreja e a fé das pessoas, fé esta que está avivada. O povo chama os pastores para irem até a casa deles. E assim tem sido o trabalho da Universal em Angola, mantendo as ações sociais (com entrega de alimentos, por exemplo), o SOS espiritual 24 horas por dia e as visitas aos lares dos fiéis.

“Porque a igreja não é templo, a igreja são as pessoas. Talvez, alguns pensem que a nossa briga é pelo patrimônio, nós não estamos preocupados com o patrimônio, ele é do povo de Angola (…) Estamos lutando por você, pelo direito de continuar pregando, fazendo a obra de Deus como é garantido na constituição angolana. Supostamente, deveria haver liberdade religiosa num país democrático (…) Não tenha dúvida que tudo o que está acontecendo é um carimbo sobre o ministério da Igreja, o carimbo Divino sobre este trabalho, pois, está escrito que quando aqueles que são verdadeiros discípulos pregam o Evangelho, eles serão perseguidos”, concluiu o Bispo.

Ao final, por videochamada, todos presentes no estúdio puderam conversar com as suas famílias, que ainda se encontram em Angola. Clique aqui e assista ao programa na íntegra.

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Colaborador

Redação / Fotos: Reprodução