Desculpas ou resultados?

Quando algo não dá certo é hora de repensar as atitudes, não de “varrer tudo para debaixo do tapete”

Imagem de capa - Desculpas ou resultados?

Há homens que desvirtuaram a atitude de pedir desculpas. Ela existe para pedir perdão por algo – sério ou inofensivo, voluntário ou não –, mas a maioria a usa para fazer de conta que o que fez de errado teve um fim e ficou por isso mesmo. Pior ainda: alguns se desculpam até pelo que não vão fazer, ou seja, apresentam desculpas antecipadas pela inação.

Bem diz o velho ditado: “uns mostram resultados; outros, desculpas”. É preferível um mau resultado seguido da atitude inteligente de analisar tudo o que levou a ele (sim, uma espécie de “engenharia reversa” dos fracassos, muito benéfica) para, descobertos os pontos fracos, agir de modo diferente da próxima vez, a simplesmente pedir desculpas e persistir no erro e “lavar as mãos”. Essa análise necessária inclui o homem enxergar qual é a sua responsabilidade no erro ou no acerto para fazer os devidos ajustes.

Mas é moda no Brasil atualmente fingir que se é inocente e culpar, convenientemente, os adversários pelos erros e pelas ações de má-fé – vide a política, neste ano de eleições, em que ladrões comprovados são inocentados pela Justiça deturpada e a “culpa” passa para os agentes da verdadeira Justiça que os prenderam. É só mais um sintoma de “desculpite aguda”, também conhecida, neste caso, como mau-caratismo.

Mas não são só políticos desonestos que se fazem de santos que sofrem desse mal. A “desculpite” é uma pandemia muito mais antiga do que a da Covid-19 e seus sintomas aparecem nas esferas doméstica, profissional e em qualquer outra do cotidiano.

É marido culpando esposa e esposa culpando marido porque o casamento vai mal, quando as coisas começariam a andar melhor se os dois se sentassem para conversar e tentassem achar, juntos, onde estão os erros para, também juntos, tomarem decisões e agirem a respeito.

É funcionário e empresário contentando-se com o “mais do mesmo” ou o “está bom assim mesmo”, sem se preocuparem com a satisfação da clientela e a imagem da empresa, de seu produto ou serviço.

Até no lazer e no esporte a “desculpite” ataca: o cara é ruim em algo e dá a desculpa – na maior parte das vezes a si mesmo – que “não gosta” daquilo. E aí perde belas oportunidades de se exercitar, de ter um momento na bolinha batida com os amigos, de frequentar uma academia, perder peso, se prevenir de uma doença deixando de comer besteira e por aí afora.

Sim, no homem (não que os defeitos sejam exclusividade masculina), há esse costume que deve ser combatido desde a infância: a desculpa pelo que nem vai ser feito, embora a prática seja mais fácil do que se esforçar para fazer.

Espiritualmente, há a desculpa de “não tenho tempo para ir à Igreja ou para orar”, pondo a culpa no trabalho, por exemplo, ou não admitindo a simples preguiça.

Agir contra a desculpa é o melhor remédio e ele pode virar um hábito. A “engenharia reversa” é melhor do que pedir desculpas levianas e seguir em frente como se ninguém tivesse culpa. Tomar uma atitude de olho nos percalços e reforçando os pontos positivos evita erros futuros, fazendo com que desculpas nem sejam necessárias.

Volte ao que diz o ditado e reflita: desculpas ou resultados, qual deles você costuma oferecer? Hora de pensar – e agir – a esse respeito.

imagem do author
Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: getty images