De gole em gole: os perigos do álcool

O uso abusivo de bebidas alcoólicas traz malefícios à saúde física, mental e social e são mais graves para as mulheres. O consumo de álcool por elas aumentou nos últimos anos

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O primeiro gole costuma ser por mera curtição ou apenas para se sentir aceito pelos amigos. Alguns ficam alegres, outros sensíveis e há quem fique agressivo, mas a adrenalina liberada no organismo faz com que grande parte deles deseje repetir a dose. Há quem diga “eu só bebo socialmente”, mas a verdade é que a maioria consome álcool de modo abusivo, seja momentaneamente, seja por já estar em um quadro de alcoolismo.

No Brasil, o consumo é considerado abusivo quando a mulher ingere quatro ou mais doses de álcool em uma ocasião e quando o homem ingere cinco ou mais doses – sendo que uma dose de álcool equivale a 14g de álcool puro (350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados).

Ou seja: quando uma mulher ingere quatro latas de cerveja em uma festa já está cometendo um abuso e isso, embora não seja alcoolismo em si, é bastante prejudicial ao organismo.

O uso abusivo resulta em consequências negativas para a saúde física, mental e social. “Os sinais de abuso de álcool incluem o consumo frequente e excessivo; ocorrência de problemas no trabalho, nos estudos e nos relacionamentos, tentativas malsucedidas de parar de beber e o uso contínuo apesar dos problemas causados por ele. Observar mudanças de comportamento e na saúde física e emocional também pode ser indicativo de abuso de álcool”, detalha o psiquiatra Pedro Pinho.

Pior entre as mulheres…
O cardiologista Ricardo Contesini explica que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera abuso de álcool quando a pessoa consome mais de 60 gramas de álcool no dia e os efeitos desse abuso são notórios na saúde: “o uso abusivo de álcool pode trazer várias alterações psiquiátricas e comportamentais, além de doenças como miocardiopatia alcoólica, que é uma doença na qual o coração acaba batendo mais fraco, podendo trazer arritmias e levar a óbito; alterações hepáticas e renais, como cirrose hepática; alterações cardiovasculares, que podem levar a amputações; e doenças como acidente vascular cerebral (AVC)”.

Segundo relatório do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2023), divulgado pelo Ministério da Saúde, o consumo de álcool é mais frequente nos adultos entre 25 e 34 anos. A pesquisa apontou que a frequência do consumo abusivo “foi de 20,8%, sendo maior em homens (27,3%) do que em mulheres (15,2%)”. Esse dado pode parecer insignificante, mas, quando analisamos os relatórios anteriores, o consumo de álcool entre as mulheres aumentou de 10,5% em 2010, para 12,7% em 2021 e para 15,2% em 2023.

… e para as mulheres
Os efeitos do abuso de bebidas alcoólicas em homens e mulheres podem ser diferentes por uma questão biológica. Mulheres tendem a ter menos sangue, quando comparadas aos homens, e menor quantidade de enzimas para metabolizar o álcool no estômago e no fígado. E, se a mulher estiver grávida ou lactante (amamentando), os riscos são maiores, como lembra Rosângela Casseano, psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental e CEO da PsicoPass: “o consumo de álcool durante a gravidez pode levar à síndrome alcoólica fetal (SAF), uma condição que causa danos irreversíveis ao feto e afeta o desenvolvimento físico e mental da criança. Além disso, durante a amamentação, o álcool pode passar para o leite materno e afetar o bebê”.

A última dose
O mapa do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), baseado nos dados do Datasus, aponta que em 2021 o uso nocivo de álcool no Brasil foi responsável por 336.407 internações e 69.054 óbitos. Apesar dos óbitos serem mais recorrentes entre os homens, é entre as mulheres que esse número vem aumentando. Em 2020, dos 69.328 óbitos ocasionados pelo álcool, 53.403 foram homens e 15.925 mulheres. Já em 2021, apesar do número de óbitos gerais ter sido menor, a mortalidade entre os homens foi de 52.640, enquanto entre as mulheres subiu para 16.237.

Os especialistas explicam que o óbito ocasionado pelo consumo de álcool pode ser tanto por causas externas, como um acidente de trânsito ou um afogamento, quanto pelo desencadeamento ou agravamento de doenças físicas (mencionadas anteriormente) e também pela fragilidade da saúde mental, pois ele pode causar depressão respiratória, o que causa parada respiratória e, consequentemente, à morte, ou ser o gatilho para o suicídio.

Reconhecer os malefícios do álcool antes de aceitar o convite para consumi-lo é o melhor caminho para evitar danos à saúde, mas, para quem já é usuário, é importante ter consciência de que a bebida alcoólica não traz nada de bom. Pelo contrário! Então, abandone esse hábito o
quanto antes e, se necessário, procure ajuda de profissionais, apoio de amigos e familiares ou outras abordagens que possam auxiliá-lo a se recuperar.

Existem alguns sinais que podem indicar abuso de álcool, seja da sua parte, seja de alguém próximo a você:

• Beber muito e com frequência em momentos inadequados
• Não conseguir controlar a quantidade de álcool que bebe
• Viver problemas na vida pessoal, no trabalho ou nos estudos por causa do álcool
• Apresentar mudanças de comportamento, como ficar irritado, agressivo ou triste
• Precisar de mais álcool para sentir o mesmo efeito
• Ter sintomas de abstinência quando para de beber

Fonte: Rosângela Casseano, psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental e CEO da PsicoPass

Cura dos vícios:

Se você reconhece que tem problemas com os vícios, seja ele qual for, saiba que desde 2014 o projeto Vício Tem Cura tem ajudado milhões de pessoas a se livrarem das dependências e das consequências que elas trazem. Os encontros são realizados aos domingos, às 15h, gratuitamente.

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: francescoch/getty images