Críticas maternas fazem os pais se afastarem dos filhos

Muitas mulheres reclamam que os maridos não participam dos cuidados com os pequenos. Entenda por que isso acontece

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“Você está fazendo tudo errado. Deixa que eu faço.” Era isso que a garçonete Solange Pereira Ligório de Freitas, (foto abaixo) de 40 anos, falava para o marido, o ajudante-geral Afonso Ligório Neto, de 47 anos, quando ele queria ajudá-la com a filha deles, Yasmin, hoje com 4 anos.

“Quando a Yasmin nasceu, desenvolvi um ciúme muito grande. Eu não gostava quando ele queria trocar a fralda dela ou pegá-la no colo e, por isso, brigávamos muito”, lembra.

Afonso diz que essa atitude da esposa o entristecia. “Ela se tornou muito possessiva e isso, além de prejudicar nosso casamento, me afastou da Yasmin. Me tornei um homem frustrado. Era como se eu não existisse”, conta.

O fato de Solange centralizar em si a educação da filha e não permitir que o marido a auxiliasse é muito comum, segundo o psicanalista José Ricardo Bandeira. “Isso nada mais é do que um desequilíbrio na relação familiar. O pai passa a se sentir menosprezado e à margem do processo de educação dos filhos. A mãe tem uma tendência a ser superprotetora e a querer resolver todos os problemas da casa, mas precisa usar isso a seu favor e não contra.”

Atitude que gera afastamento
Um estudo sobre saúde infantil realizado no Hospital Infantil CS Mott, nos Estados Unidos, mostrou que as divergências entre homens e mulheres quanto à educação dos filhos afeta diretamente o envolvimento dos pais na criação deles: eles acabam não querendo mais colaborar na educação das crianças.

A orientação do psicanalista José Ricardo Bandeira é de que o casal dialogue para encontrar a melhor solução. “No caso desse tipo de relação em que as mães são extremamente críticas e, em alguns casos, até mesmo dominadoras e em que o pai não consegue encontrar o seu lugar, uma boa alternativa seria realizar um processo de diálogo em que, aos poucos, cada um consegue redescobrir o seu papel no relacionamento, em que haja respeito e valorização de ambas as partes e, acima de tudo, preservação da estrutura emocional e psicológica dos filhos que, neste turbilhão, não conseguem identificar claramente os papéis dos pais”, observa.

Foi isso que Solange e Afonso contam que fizeram. “Cheguei ao meu limite, a chamei para conversar e disse que precisava que ela demonstrasse confiança em mim. Falei que a forma que ela estava agindo mostrava claramente que somente ela se achava capaz de cuidar da Yasmin”, conta Afonso.

Ao mesmo tempo, Solange passou a frequentar as reuniões da Universal e entendeu que não estava agindo corretamente como mãe e esposa. “Hoje penso totalmente diferente do que eu pensava antes em relação à criação da Yasmin. Nossos papéis são bem definidos em casa e, quando o Afonso vem me ajudar, fico muito feliz. Deixei de criticar a forma como ele conduz as coisas e nos tornamos parceiros”, conclui.

União que gera equilíbrio
Nunca foi tão difícil ser pai ou mãe como nos dias atuais e, por isso, o psicanalista deixa uma sugestão para ajudar os pais: “os papéis precisam ser entendidos para que aja cumplicidade entre ambos. Então, é essencial que o casal converse e entenda o que deve fazer para que possa atuar junto na criação dos filhos e para que isso não se torne um fardo em sua vida”.

A ideia não é uma troca de papéis, mas, ao contrário, defini-los de forma correta e justa. A mulher precisa inserir o pai na criação dos filhos, para que ele seja presente e mantenha o vínculo com a criança.

Portanto, se você centraliza as responsabilidades e decisões quanto à educação dos filhos, não adianta reclamar que seu marido não se preocupa nem participa. Para que haja êxito no casamento e equilíbrio na educação das crianças, é importante que o casal tenha objetivos em comum e trilhe o mesmo caminho. Ou seja: que um apoie o outro e joguem sempre no mesmo lado, como em um time.

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Colaborador

Ana Carolina Cury / Fotos: Getty Images