Competição injusta

Transgêneros e não binários estão trapaceando nos esportes?

O patinador Thimothy LeDuc, dos Estados Unidos, foi a primeira pessoa que se define como “não binária” a participar de uma olimpíada de inverno, a de Pequim em 2022. LeDuc, que faz dupla no esporte com uma mulher, nasceu com o sexo masculino, mas se descreve com pronomes neutros.

O fato abriu uma discussão: se LeDuc não se define como homem e pode competir como alguém sem gênero, será possível que ele ou outros com a mesma identificação possam, em breve, competir no lugar de uma mulher?

Há correntes que defendem a aceitação de mulheres transgêneros (nascidas homens, que realizaram a transição) nos esportes femininos, o que para muitos especialistas seria biologicamente injusto. Pessoas que nascem com o sexo masculino têm diferenças naturais das que nascem mulheres (altura, ganho de força, estrutura óssea e hormônios, etc.).

Nos Estados Unidos, as disputas saíram das quadras, pistas e campos e chegaram aos tribunais para que a Justiça proíba essa mistura entre gêneros. Isso porque até mesmo competidoras de atletismo adolescentes estão perdendo espaço para mulheres trans, colocando em risco tanto o futuro no esporte quanto o acadêmico e profissional, uma vez que universidades norte-americanas oferecem bolsas de estudo aos atletas mais promissores.

Das pistas aos tribunais
A corredora norte-americana Chelsea Mitchell (foto acima) é uma das que lutam na Justiça para que as competições sejam mais justas. Ela e outras três corredoras estão processando a Conferência Atlética Interescolar de Connecticut (Ciac, na sigla em inglês) para impedir que mulheres trans disputem competições femininas. Conforme Chelsea relatou ao jornal local USA Today, a diferença física entre mulheres trans e não trans é grande, o que prejudica as disputas, “porque os homens têm enormes vantagens físicas. Seus corpos são simplesmente maiores e mais fortes do que os femininos. É óbvio para todas as garotas na pista”.

Ela revelou que a Ciac passou a aceitar atletas trans em 2017. Entre esse ano e 2019, duas competidoras trans registradas levaram 15 títulos em campeonatos estaduais que, nas edições anteriores, foram divididos entre nove garotas diferentes, além de outras 85 competições da entidade de Connecticut terem sido vencidas por essas mesmas duas corredoras de fisiologia masculina e aparência feminina. A própria Chelsea alega que perdeu o posto de atleta feminina mais rápida do Estado nos 55 metros rasos e outros quatro títulos estaduais para uma trans. Para ela, o simples fato de as vitórias em tantas competições anteriormente serem divididas entre inúmeras jovens e, desde 2017, estarem concentradas em duas atletas já demonstra o desequilíbrio em uma competição que se tornou injusta.

Regras revistas
Recentemente, o órgão regulador da natação competitiva nos Estados Unidos, o USA Swimming, reviu a questão e emitiu uma nova regulamentação sobre a participação de transgêneros que pretendam competir em eventos femininos de alta performance. A instituição, em nota pública, “reconhece a diferença competitiva nas categorias masculina e feminina e as desvantagens que isso apresenta na competição de elite”.

Os níveis de testosterona, hormônio masculino que confere mais força e resistência ao ser humano, serão checados por uma junta médica para avaliar a concorrência justa. “A USA Swimming continuará a defender a equidade de gênero e a inclusão de todas as mulheres cisgêneros e transgêneros e seus direitos de participarem do esporte, ao mesmo tempo que apoia fortemente a equidade competitiva nos níveis de elite da competição”, diz a entidade na nota, que também traz dados estatísticos que mostram que “a mulher mais bem classificada em 2021, em média, seria classificada em 536º lugar em todos os eventos masculinos de jardas curtas nos Estados Unidos”.

A moral e a justiça
A Bíblia nos encoraja a encontrarmos o melhor de nós, objetivo que um esportista também tem ao competir: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis” (1 Coríntios 9.24). Todavia, a Palavra também orienta que tudo seja feito com integridade, para que as conquistas sejam dignas e realmente nos edifiquem: “Igualmente o atleta não é coroado, se não lutar legitimamente” (2 Timóteo 2.5).

É legítimo que corpos masculinos disputem contra femininos? Para a ex-jogadora da Seleção Brasileira de Voleibol e multicampeã Ana Paula Henkel não. Ela tem abordado o assunto em redes sociais e em entrevistas. À rádio Jovem Pan, onde é comentarista, disse que essa situação é inacreditável e que “o pior é o silêncio das pessoas que dizem que protegem o sexo feminino. Esse tipo de inclusão significa a exclusão de mulheres. Homens biológicos a genética não muda”.

Ana Paula reconhece que as pessoas devem ser respeitadas independentemente de identidade social, mas afirma que “o pilar mais importante do esporte é o genético e isso é imutável. Não tem como competir com um corpo masculino, mesmo se a aparência for feminina. Meninas estão perdendo bolsas em universidades para meninos biológicos e esse silêncio é o que mais me incomoda, assim como essa falsa inclusão e essa falsa proteção às mulheres”.

Segundo ela, “as mulheres são colocadas em uma turba da espiral do silêncio”, pois, quando alguém se posiciona contra a situação, ativistas acabam as “cancelando ou linchando”.

Essa questão é mais antiga do que se pensa. Em certa etapa dos jogos olímpicos ainda na Grécia Antiga, atletas eram obrigados a competir nus para impedir que mulheres disfarçadas participassem da disputa. Claro que era uma realidade diferente, pois mulheres eram proibidas de participar da disputa, assim como escravos e pessoas menos privilegiadas economicamente.

Ainda assim, era uma forma de garantir que os esportes fossem disputados em igualdade de condições entre os atletas, o que, atualmente, a tecnologia da medicina pode garantir sem que os telespectadores presenciem nudez.

Se as ferramentas medicinais e esportivas avançaram a ponto de ser possível, facilmente, estabelecer justiça nas competições, por que há uma corrente ideológica buscando levar vantagem que muitos – de atletas a juristas e médicos especialistas – consideram indevida? No esporte, para que um ganhe, o outro deve perder, mas ganhar em uma situação como essa é moralmente correto? Cabe à sociedade decidir.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty images