Ah, o enganoso coração!

Por ser um grande acumulador de sujeiras, o coração dita falsas verdades que podem interferir na tomada de decisões e no destino da alma

Somos seres influenciáveis não apenas por pessoas e situações, mas também pelo ambiente que nos cerca. Esteja limpo ou sujo, organizado ou bagunçado, iluminado ou escuro, nosso entorno tem o poder de interferir no nosso ânimo, na nossa disposição, nossa produtividade e nossa qualidade de vida. Algumas sujeiras são visíveis e têm até um mau odor que pode ser notado a quilômetros de distância. Quanto mais a sujeira é perceptível e incômoda, mais rápido tomamos a atitude de limpá-la.

No entanto há sujeiras que não são visíveis a olho nu. Elas são como o pó: partículas espalhadas pelo ar que se assentam sutilmente na superfície, se acumulando sem que sejam notadas até que haja uma intensa camada capaz de sujar qualquer um que a toque ou que ataque o sistema respiratório e seja capaz de adoecer alguém.

Insalubridade espiritual
Um ambiente sujo é nocivo para qualquer pessoa, assim como um coração sujo. Por se alimentar dos sentimentos, ele é ludibriador. Quando uma pessoa não sabe domesticar suas emoções, elas acabam por dominá-la. Em Provérbios 4.23 aprendemos que “dele procedem as fontes da vida” e se o coração estiver contaminado de sujeiras, sejam elas perceptíveis ao ser humano, como o pecado, ou visíveis apenas para Deus, como os sentimentos, intenções e pensamentos, instaura-se o alerta para a insalubridade espiritual.

“Quando nascemos, nosso coração é carnal, cuja natureza é má. É ele o responsável pelos sentimentos, pelas decisões erradas que tomamos e, obviamente, o coração será um amigo e ferrenho aliado do diabo, enquanto não houver um transplante por um coração novo e de Deus, o que acontece com o novo nascimento”, explica o Bispo Edir Macedo em meditação sobre o tema.

Ninguém gosta de viver em meio à sujeira, mas muitos não notam a imundícia impregnada em seus corações ao permitir que achismos, desobediência, dúvidas, mágoas, malícia, maus olhos, medos, ódio, orgulho, religiosidade, ressentimentos, traumas do passado, vaidades e tantas outras sujeiras penetrem em suas vidas, dominando emoções e conduzindo suas ações. É natural que a consequência seja o esfriamento espiritual, o afastamento ainda maior de Deus e uma sucessão de escolhas que levam a uma vida bagunçada e escura.

O Bispo Macedo alerta que não se deve dar ouvidos ao coração: “ainda que seja de Deus, mesmo assim, a pessoa acaba se iludindo. Então, é melhor dar vazão à razão. O Espírito de Deus fala, não ao coração, mas à razão, à mente e ao intelecto. É ali que Ele inspira, instrui e orienta”.

Contudo não fazer essa distinção tem sido o erro de muitas pessoas. Elas se esquecem que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jeremias 17.9).

Quando até a saúde é afetada
O autônomo Daniel Oliveira, (foto abaixo) de 25 anos, sabe bem quão enganador o coração pode ser. Na adolescência, ele se batizou nas águas, recebeu o Espírito Santo e, aos 16 anos, se tornou obreiro. Por quatro anos, ele colocou Deus em primeiro lugar em sua vida e esteve presente às reuniões, evangelizando, fazendo seus propósitos e cuidando de sua vida espiritual. Mas, ao permitir que o tempo minasse sua fé, o comodismo, a falta de consideração com as coisas de Deus e o orgulho sujaram seu coração.

“De forma muito sutil, os hábitos da fé deixaram de ser prioridades no meu dia a dia. A leitura da Bíblia foi sendo deixada para depois, comecei a dar desculpas para não participar de eventos e de algumas reuniões e o primeiro lugar em minha vida, antes ocupado por Deus, passou a ser ocupado pela minha vontade. O pensamento de que eu já sabia de tudo era alimentado pelas conversas que eu tinha com pessoas na igreja que estavam na mesma condição espiritual que eu e, então, um dia, meu estado espiritual se refletiu na minha saúde”, conta.

Daniel passou a ter dificuldade para respirar e, ao beber água, sua garganta fechou e ele não conseguia respirar direito. Pouco depois, outros sintomas apareceram, como dores nas costas e no abdômen, ânsia de vômito, febre constante e falta de apetite, o que fez com que ele perdesse dez quilos em uma semana. Ele teve também dificuldade para movimentar a perna direita e exames indicavam que seus órgãos internos podiam estar se atrofiando.

A cada nova consulta, mais e mais remédios eram receitados e nenhuma causa era encontrada. Um dia, na fila do hospital, ele conversava com uma mulher que, ao ver a lista de remédios que os médicos haviam prescrito a ele, comentou que sua filha tomava os mesmos medicamentos para tratar um câncer: “nesse momento, a ‘ficha caiu’ e tive medo de morrer. Percebi que o estado em que minha saúde estava era reflexo da minha condição espiritual”.

A névoa de sujeira se dissipou e ele enxergou qual era sua realidade. Ele ligou para seu pastor, confessou que não estava bem e que precisava de ajuda: “para resolver aquela situação na minha saúde, primeiro eu precisava resolver minha situação com Deus, deixar de lado o orgulho e reconhecer que o culpado era eu. Foi muito difícil e, mesmo com o rosto vermelho de vergonha, busquei socorro no Altar e orientação com o homem de Deus, sem olhar para tempo de igreja ou título”.

Graças à sua humildade e entrega, seu coração foi limpo, sua condição espiritual foi resolvida e sua saúde foi restabelecida. Ele afirma que as dores pararam, a febre cessou, os exames se normalizaram e o médico disse a ele: “eu não sei o que você teve, o que causou o problema nem como ele acabou, mas você está 100%”. Assim, o que outrora havia sido um fardo, voltou a ser um prazer para Daniel, desde ler a Bíblia e cuidar da sua comunhão com Deus até estar nas reuniões e ajudar o próximo. “O que verdadeiramente marca um antes e um depois na minha vida, porém, é a paz na minha alma por saber que fui regenerado pelo Espírito Santo e que sou filho de Deus.”

Família contaminada
A controladora de acesso Aline Borges (foto abaixo) e seu esposo, o concheiro da área metalúrgica Angelo Borges, ambos de 35 anos, se conheceram em uma balada. Na época, ela carregava complexos desde a infância e ele tentava preencher o vazio que sentia. Eles começaram a namorar e, em três meses, decidiram morar juntos depois que ela engravidou. Semanas depois, receberam o convite para ir à Universal e deram os primeiros passos na fé: se libertaram, se batizaram nas águas, receberam o batismo com o Espírito Santo e se tornaram obreiros.

Dedicados, sempre eram contados pelos pastores e Aline começou a se achar melhor do que os demais: “eu ajudava muito dentro da igreja e o orgulho cresceu dentro de mim. Com as pessoas, eu era dedicada, as ajudava e orientava, mas não tive o mesmo cuidado e vigilância comigo mesma. Esqueci totalmente que era uma alma e comecei a relaxar”.
Enquanto isso, Angelo se dedicava cada vez mais à fé e desejava fazer a Obra de Deus no Altar. Ao lado da esposa, ele fazia propósitos para que as pessoas fossem abençoadas e núcleos (orações feitas em locais onde não há uma Universal). “Cheguei a fazer reunião com 200 pessoas e fizemos o trabalho de núcleo que inaugurou uma nova Igreja Universal”, diz.

Tudo ia bem, mas Aline engravidou e o segundo filho não estava nos planos do casal. Para piorar a situação, a gestação era de risco, ela teve diversas complicações e os médicos chegaram a dizer que mãe e bebê poderiam não sobreviver. Aline quase faleceu no parto e sua filha nasceu saudável por um milagre. Entretanto a situação contribuiu para que Aline guardasse mágoa dos obreiros porque, na época, ninguém lhe perguntou como ela estava ou ofereceu ajuda e ela se afastou.

“Como desejávamos fazer a Obra no Altar, esqueci de lutar pela vida financeira e passei dificuldades. Com o nascimento da nossa caçula, precisei de dois empregos, o que tirou o meu tempo de ir à igreja e colocar o uniforme e fui esfriando espiritualmente. Um dia, um obreiro disse que o pastor me colocaria em um grupo, questionei e na conversa disse ‘fala para o Pastor que eu não quero mais fazer a Obra’ e me afastei também”, revela Angelo.

Por causa do orgulho e dos ressentimentos, o lar que antes era um pedaço do Céu passou a ser cenário para brigas, desconfiança, depressão e muitos outros males. “Não fui para o mundo, mas o mundo entrou na minha casa”, comenta Aline que, um ano e meio depois, recebeu a visita de um casal de obreiros que os ajudou a voltar para a Casa de Deus.
Ainda oscilantes, Aline despertou quando viu sua filha, Ana Clara Borges, hoje com 14 anos, dar o primeiro passo: “ela falou ‘mãe, hoje vou me batizar nas águas porque não quero mais continuar vivendo oprimida. Não quero mais ver minha casa assim, ter minha vida assim, ver minha família assim. Quero mudar para que as coisas mudem’. Me espelhei nela e também me batizei”.

A partir daí, Aline conta que começou a raciocinar, a falar com Deus e a pedir para que Ele limpasse seu coração e transformasse sua vida. “Fiz tudo que o Pastor orientou. Parei para refletir e comecei a consertar tudo aquilo que tinha bagunçado. Também me consertei com Deus, voltei a ser dizimista e a fazer meus propósitos”, explica, e logo Angelo também fez o mesmo.

Os pais e a primogênita foram batizados com o Espírito Santo e, agora, vivem bem e priorizam a comunhão com Deus. “Até a pequenininha, de 4 anos, chora pedindo para ir à igreja”, diz Aline, que ainda vê algo bom em tudo que passou: “sei que foi necessário acontecer tudo isso porque reconheço que eu estava como obreira, mas não era nascida de Deus. Tinha dúvidas sobre minha Salvação, mesmo vestindo o uniforme, mas hoje tenho certeza de que fui purificada e salva e que eu e minha família fomos transformados no Altar de Deus”.

Uma expressão, duas realidades opostas
Há sujeiras no coração que conduzem uma pessoa a uma vida não apenas longe de Deus, mas também imersa no mundo, o que a faz acreditar que esse é o melhor e único caminho. Foi o que aconteceu com a empresária do ramo de estética Angela Pires, (foto abaixo) de 43 anos.

Na Universal desde a infância, ela desejou servir a Deus no Altar. Noiva de um Pastor, seus planos mudaram quando o futuro marido foi desligado do corpo eclesiástico: “eu estava cega e apaixonada, mesmo vendo os sinais, como ele não ter mais comunhão com Deus, não demonstrar arrependimento e ser arrogante. Eu achava que conseguiria mudá-lo e fazê-lo voltar para o Altar, mas a malícia e os maus olhos dele aos poucos me contaminaram depois do casamento”.

O marido dela se afastou da fé e Angela continuava como obreira apesar de que, inúmeras vezes, ele a proibia de ir à igreja. Além disso, as brigas entre o casal se tornaram constantes e ela foi deixando seu coração ficar sujo até que decidiu entregar seu uniforme e se afastar. “Virei as costas para o Altar, larguei Jesus e perdi meu casamento. O que mais me entristecia era ter fracassado no casamento e desobedecido à direção da Igreja, que tinha me orientado que ele não estava bem. Me doía saber que tinha dado o maior passo errado da minha vida.”

Longe de Deus e solteira, ela se lançou no mundo e nas bebidas. Anos depois, recebeu uma proposta: trabalhar como garota de programa em uma boate. Ela lembra que tudo era novidade e ficou encantada. Como já bebia muito, beber de graça parecia ser ainda melhor. Para completar, ela também passou a usar drogas.

Angela ficou dois anos na prostituição. Até que um dia, enquanto se maquiava no camarim da boate rodeada por outras mulheres, a cafetina do local anunciou pelo microfone “meninas, salão”, indicando que um cliente havia chegado, e ela despertou: “me lembrei de quando era obreira e a responsável falava: ‘meninas, vamos para o salão’ . Ao me olhar no espelho, questionei sobre o que tinha feito com a minha vida”. Ela orou pedindo a ajuda de Deus para sair de lá e, ao receber uma força inexplicável, conseguiu ir embora.

“Foi assim que voltei: ex-obreira, ex-prostituta, com uma filha pequena de um relacionamento anterior e grávida de um homem casado e abandonada por ele. Ainda assim, só me entreguei a Deus quando vi meu pai, afastado de Jesus, no leito lutando com o diabo pela sua alma. Ele faleceu e, abalada com sua morte, eu refleti mais sobre minha vida”, relata.

Por insistência da irmã, ela assistiu à uma reunião gravada. Deitada em sua cama, Angela ouviu atentamente a pregação e reconheceu que precisava se limpar de seu passado. Ali mesmo, ela se arrependeu, se libertou, teve seu interior purificado e foi perdoada por todos os erros do passado.

Com o coração limpo, Angela recebeu o Espírito Santo e voltou a servir a Deus. Agora, ela distingue cada Angela que já foi: “a obreira Angela de antes não tinha noção da seriedade da Obra de Deus; a Angela do mundo tinha ódio, era vazia e cheia de complexos; já a Angela de hoje, mais madura, sabe que é responsável por suas escolhas e teve o privilégio de voltar a servir a Deus”, conclui.

Precisando de faxina?
Escutar o coração e alimentá-lo com impurezas não trazem bons resultados. Mantê-lo limpo e humilde é fundamental para que se veja a Deus. “Guardar o coração é proteger o coração de toda e qualquer contaminação deste mundo, porque o coração é o centro da nossa vida. Como é o centro e fonte da vida, temos que mantê-lo purificado e limpo”, ensina o Bispo Macedo.

A limpeza e a organização diária são a manutenção. De tempos em tempos, é essencial fazer aquela faxina de ponta a ponta, limpando cada cantinho. Agora é hora de esvaziar as gavetas do passado, organizar os armários da vida, dar aquela atenção especial a cada área e tirar tudo do lugar, separando o que precisa ser descartado daquilo que permanecerá.

Em outras palavras: examine a si mesmo. Reflita sobre a influência do seu passado, reconheça os sentimentos que o dominam, seja sincero consigo sobre suas intenções e assuma qual é a real condição de seu coração. Se necessário, peça ajuda, se afaste do que ou de quem tem lhe contaminado, se batize nas águas e recomece. Lembre-se do que Deus prometeu em Ezequiel 36.26: “dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo”.

Caso essa não seja a sua realidade, continue guardando seu coração de toda e qualquer sujeira e tendo o cuidado para não se permitir ser conduzido pelo coração, tampouco permitir que ele se contamine e o domine a ponto de afastá-lo da Presença de Deus.

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: Getty Images