Uma vilã da saúde

A solidão está ligada ao maior risco de doenças cardiovasculares, depressão e morte precoce. Saiba como evitar os problemas gerados por esse estado emocional

Imagem de capa - Uma vilã da saúde

A falta de conexão com outras pessoas, a exclusão de um grupo e o isolamento podem ser experiências muito dolorosas para o ser humano. Afinal, é a partir da convivência com o outro que as pessoas se desenvolvem, compartilham bons momentos e aprendem habilidades importantes para a vida. Quem está solitário pode se sentir triste e até invisível, como se sua presença não fizesse nenhuma diferença.

Além da sensação de mal-estar, a solidão também traz problemas à saúde. Uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature Human Behaviour mostrou que pessoas solitárias e isoladas apresentam maior número de proteínas no sangue associadas ao risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e doenças inflamatórias e estão mais suscetíveis à morte precoce.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Inglaterra e da China analisaram as proteínas encontradas em amostras de sangue de mais de 42 mil pessoas com idades entre 40 e 69 anos. Eles também calcularam pontuações de isolamento social e solidão para indivíduos e, após ajustes dos dados, mapearam proteínas associadas ao isolamento e à solidão.

“Sabemos que o isolamento social e a solidão estão ligados a uma saúde mais precária, mas nunca entendemos o porquê. Nosso trabalho destacou uma série de proteínas que parecem desempenhar um papel fundamental nessa relação, com níveis de algumas proteínas em particular aumentando como consequência direta da solidão”, explicou o doutor Chun Shen, do Departamento de Neurociências Clínicas da Universidade de Cambridge e do Instituto de Ciência e Tecnologia para Inteligência Inspirada no Cérebro, Universidade Fudan, em nota de divulgação do estudo.

Em entrevista à Folha Universal, a médica psiquiatra Michele Teles explica que a solidão também está associada à depressão, à ansiedade e ao enfraquecimento do sistema imunológico. Por causa de todos os impactos negativos, a solidão já é encarada como um problema de saúde pública em vários países, como no Japão, em que existe até um ministério para tratar dos transtornos gerados por ela.

Estar sozinho, entretanto, é diferente de se sentir solitário. “Estar só é uma condição física, enquanto sentir-se só é uma experiência emocional. Muitas vezes, a sensação de solidão está ligada à percepção de não pertencer a um grupo ou de não ter conexões significativas, o que pode acontecer mesmo em meio a outras pessoas”, esclarece a médica, que também é especialista no atendimento sobre álcool e drogas. Em outras palavras, a solidão nem sempre é motivo de sofrimento, embora possa levar a ele.

Causas da solidão

Michele diz que existem diferentes tipos de solidão. “Há a solidão emocional, que é a falta de um relacionamento íntimo, e a solidão social, quando não há uma rede social ampla. As pessoas podem se sentir sozinhas por diversos motivos, como mudanças na vida, perda de entes queridos e problemas de saúde mental, entre outros”, enumera.

Há quem que se sinta sozinho até mesmo em cidades com milhões de habitantes, como São Paulo. “A falta de cumplicidade e identificação com outras pessoas pode intensificar a sensação de solidão, pois a conexão emocional e o entendimento mútuo são fundamentais para relacionamentos significativos”, esclarece a médica. “Esse fenômeno tem se acentuado muito por conta do ritmo acelerado da vida moderna e à crescente dependência da tecnologia”, acrescenta.

Mais bem-estar

Apesar da falta de tempo e das obrigações do cotidiano, vale a pena se dedicar aos relacionamentos, pois isso também é fundamental para o bem-estar. Afinal de contas, bens materiais, internet e dinheiro não trazem a mesma alegria de uma boa conversa, de um abraço e das experiências compartilhadas. “As interações sociais positivas po dem reduzir o estresse, melhorar o humor e promover comportamentos saudáveis, o que fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de doenças crônicas”, diz Michele.

Para quem já está sofrendo com os efeitos da solidão, a médica sugere buscar ajuda. “Não há uma solução única, mas uma abordagem multifacetada pode ajudar a aliviar os sentimentos de solidão”, diz. Para driblar o incômodo, pessoas que vivem sozinhas podem participar de atividades que facilitem interações com outras pessoas. Neste caso, participar de grupos na Igreja, por exemplo, como os que existem na Universal, contribuem também para essa finalidade.

Apoio espiritual

A Bíblia registra que Deus sempre está presente na vida daqueles que O buscam: “Não temas, porque eu sou contigo” (Isaías 41.10). Em outras palavras, quem crê em Deus e busca a Presença dEle tem o seu interior preenchido e, em razão disso, mesmo estando sozinho, nunca se sente solitário.

(*) Colaborou: Eduardo Prestes

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Colaborador

Rê Campbell (*) / Foto: Vasilisa_k/Gettyimages