Sequestro emocional: uma armadilha das emoções

Quando a pessoa é dominada pela raiva, ela fica refém dos sentimentos e suscetível a momentos de surto, violência e comportamentos agressivos. Saiba como evitar o problema

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Como você lida com as situações de estresse? Algumas pessoas encaram os conflitos como uma oportunidade de se desenvolver ou buscam levar a vida de uma forma mais leve, desconsiderando tudo o que pode retirar a sua paz. Há, porém, aquelas que se orgulham de dizer que não levam desaforo para casa. Em geral, elas se deixam dominar pelos sentimentos e tomam atitudes impulsivas, inclusive violentas, diante de uma situação em que se sentem desconfortáveis. Essas pessoas respondem ao estresse com verdadeiras explosões de sentimentos. Apesar de pouco falado, esse desequilíbrio tem nome: é chamado de sequestro emocional.

O termo vem da psicologia e é usado para identificar “aqueles episódios que fazem com que uma pessoa perca a racionalidade diante das situações e, em alguns momentos, até a própria lucidez. É quando a emoção toma conta de todos os pensamentos de uma forma tão intensa que a pessoa não consegue racionalizar a situação naquele momento, ou seja, é como se ela estivesse passando mesmo por um sequestro”, explica a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Essa condição afeta a mente, tem como principal característica o excesso de certas emoções, como a raiva, e também pode provocar uma série de sintomas físicos. “A pessoa fica muito agitada, tem aumento dos batimentos cardíacos, presença mais intensa da sudorese e torna-se imprudente diante de determinada situação”, relata Vanessa. Ela destaca que, em um episódio de sequestro emocional, normalmente todos os sintomas surgem juntos, o que dificulta a retomada do controle pessoal.

Apesar de não ter uma causa específica, o sequestro emocional tem alguns gatilhos que podem levar à perda de controle, como uma “fechada” no trânsito, uma fala injusta, uma agressão física ou verbal, o excesso de cobrança e até mesmo a pressão do dia a dia. Nesse contexto, é preciso pontuar que a explosão emocional está mais relacionada à forma como um indivíduo lida com as circunstâncias do que apenas com o que acontece no exterior.

Impactos do descontrole
Assim como os sentimentos surgem e passam, o sequestro emocional também tem prazo de duração. Quando ele chega ao fim, o indivíduo tem que encarar as consequências de seus atos. “Às vezes, vem o arrependimento e em outras vezes a pessoa nem se lembra do que fez. Isso porque é um rompante e é como se ela tivesse um surto naquele momento, dependendo da raiva e da situação que a provocou”, diz Vanessa.

Pedir desculpas ou não se lembrar dos detalhes do acontecimento, infelizmente, não apagam o que ocorreu da memória dos demais envolvidos. E é nesse ponto que a falta de equilíbrio emocional e de autocontrole tem potencial para afetar negativamente todas as áreas da vida da pessoa. “Se você tem um episódio desse no ambiente de trabalho, por exemplo, isso pode afetar seu relacionamento profissional. Ele também atrapalha a vida pessoal e provoca até prejuízos físicos, porque, diante de uma situação de raiva, a adrenalina é liberada no organismo e o cortisol aumenta, o que leva a sérios riscos cardiovasculares”, explica Vanessa.

RAZÃO E EMOÇÃO EM EQUILÍBRIO
Antes de apontar o dedo para alguém, é preciso lembrar que todo mundo já teve um dia de estresse em que tratou de forma exagerada algo que nem merecia muita atenção. A grande questão é quando esses episódios se tornam frequentes e até característicos da pessoa, que passa a ser chamada de “esquentadinha”, “pavio curto” e tantos outros adjetivos que expressam a falta de habilidade para lidar com situações estressantes.

Vanessa explica que, apesar de todos estarem suscetíveis ao sequestro emocional, há um grupo que possui uma tendência maior de perder o controle: “são aquelas pessoas que não conseguiram desenvolver uma certa inteligência emocional e resiliência. Elas normalmente não conseguem lidar bem com frustrações e tendem a ser impulsivas”, esclarece.

Para evitar o descontrole total de pensamentos, sentimentos e até mesmo de atitudes é necessário investir no autoconhecimento. “Fazendo um trabalho de autoconhecimento é possível começar a identificar os pontos vulneráveis e acessar o controle sobre a raiva e essas emoções.”

Vale a pena ressaltar que, mesmo no ápice dos sentimentos, é possível reverter o quadro. Para isso, a pessoa precisa entender o que está acontecendo e querer sair dessa condição. “Ao identificar uma situação que está levando à perda do controle, a primeira coisa a fazer é se afastar por alguns minutos, trabalhar a respiração e tentar se desconectar, trazendo à memória lembranças agradáveis, como uma música ou uma imagem positiva. O objetivo disso é ir se acalmando”, orienta. A ideia principal é colocar os pensamentos em ordem e deixar as emoções em segundo plano, para enxergar a situação como ela realmente é e não com a visão emocional.

Poder de escolha
É impossível controlar os fatores externos para que o dia termine sem incômodos ou sem troca de planos. Ao nos levantarmos de manhã, não temos certeza de absolutamente nada, pois, por mais que tenhamos uma rotina planejada, tudo pode acontecer. Sendo assim, nosso foco deve ser nosso interior.

Os sentimentos surgem para todos, mas é preciso vigiar e se questionar se você vai deixá-los comandar suas decisões e reações. Mudar comportamentos é difícil, mas ter de lidar com as consequências de atitudes baseadas na emoção pode ser ainda pior. A escolha entre esses dois caminhos é pessoal. Qual é a sua?

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: fizkes/getty images