Robôs sexuais preocupam cientistas
Bonecas eróticas geram debate sobre a objetificação da mulher, o estímulo à violência e a distorção da realidade
O desenvolvimento de robôs sexuais está preocupando cientistas. Um relatório da Fundação por Robótica Responsável (FRR) indica que a sociedade deveria avaliar o impacto deles nas relações humanas. O documento alerta que os robôs podem distorcer as percepções de consentimento e aumentar a objetificação da mulher. E ainda mais grave: os bonecos também podem ser usados para satisfazer desejos ilegais, como a pedofilia. Isso porque alguns fabricantes de robôs já lançaram versões com feições infantis.
Uma reportagem da BBC explica que a Justiça do Canadá está decidindo se ter um desses robôs pode ser ilegal. Recentemente, um cidadão canadense foi acusado de pornografia infantil após uma boneca japonesa que ele havia comprado ter sido apreendida no aeroporto.
Atividades cotidianas
O relatório da FRR prevê que, nas próximas décadas, os robôs poderão ser usados em terapias sexuais e como companheiros de pessoas solitárias, incapacitadas ou idosas. “A preocupação é que isso está acontecendo e ninguém está falando sobre isso”, disse Noel Sharkey, professor emérito de robótica e inteligência artificial na Universidade de Sheffield e cofundador da FRR, em entrevista ao jornal inglês The Telegraph.
Os autores do estudo alertam que os robôs sexuais levantam sérias questões éticas e morais que precisam ser abordadas. Entre os problemas, destaca-se a possibilidade de os usuários se tornarem socialmente isolados ou dependentes dessas máquinas, o que dificultaria o contato humano real.
Estímulo a abusos
Segundo os pesquisadores da FRR, outro problema dos robôs sexuais é estimular comportamentos de abuso contra a mulher. Exemplo disso é um robô que oferece um modo chamado “Frigid Farah”: basta escolher essa opção para que a boneca apresente personalidade “reservada e tímida”.
Em artigo publicado no jornal norte-americano The New York Times, Laura Bates explica que a boneca “Frigid Farah” se mostra não receptiva, o que indica que seus usuários associariam a experiência com ela a um estupro.
A autora cita que 40% dos homens heterossexuais afirmam que poderiam se imaginar usando um robô sexual, segundo pesquisa feita com 263 entrevistados pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha. Assim, Laura acredita que oferecer robôs para satisfazer os desejos de abuso de alguns homens é “arriscar a normatização dos estupros dando-lhes uma face publicamente aceitável.”
A autora ainda acrescenta que a pesquisa feita na Alemanha “mostra que homens expostos à pornografia e a revistas e programas de TV que objetificam a mulher são mais propensos a aceitar a violência contra a mulher”.
Diante de tantos fatos, até quando a sociedade vai aceitar o desenvolvimento de robôs sexuais sem nenhuma regra sobre limites para essa indústria?