Reflexões sobre uma obsessão
Amnon mostrou que quando uma pessoa não teme a Deus, qualquer coisa pode sair de dentro dela
Poucos entendem que o pecado tem várias faces e que aqueles que se submetem a ele estão sujeitos a seus próprios sentimentos, bem como às consequências deixadas por ele. Essa discussão foi apresentada recentemente na oitava temporada da série Reis, da Record TV, com o personagem Amnon, vivido pelo ator Luckas Moura. Filho primogênito de Davi (Petrônio Gontijo) com Ainoã (Raquel Anastásia), Amnon seria um forte candidato ao trono.
No início da temporada, intitulada A Consequência, Amnon torna explícita a afeição proibida que sente por sua meia-irmã, Tamar (Esther de Oliveira), a Jonadabe (Bernardo Mesquita). Este, por sua vez, rascunha um plano facilmente aceito por Amnon, que passa a seguir o enredo doentio. Movido por sua obsessão, Amnon forjou um mal-estar para que Tamar fosse cuidar dele e, assim, pudesse violentá-la. À Folha Universal, a autora da série, Cristiane Cardoso, reitera que Amnon “se apaixonou de forma doentia por sua meia-irmã (2 Samuel 1-2), o que o levou a violentá-la e humilhá-la e trouxe muito desgosto para Davi e para toda a família”.

A cena, que prendeu o telespectador à tela no sexto episódio e expôs ao público a dor que Tamar sentiu, seguiu fielmente a descrição bíblica exposta em 2 Samuel 13. No entanto, o décimo segundo capítulo revela um Amnon entregue às mãos dos servos de seu meio-irmão, Absalão (interpretado por Ricky Tavares), que fizeram com ele o que lhes fora ordenado (2 Samuel 13.38,39). Se, tragicamente, essa história de Amnon ganhou um ponto final, as reflexões que o personagem provoca continuam latentes. Afinal, se faltam palavras para externar essa conduta pecaminosa e imoral, resta a certeza de que, quando uma pessoa não teme a Deus, qualquer coisa pode sair de dentro dela.
A CONSEQUÊNCIA
Quanto à gênese desse desvio, a série a alinhou minuciosamente com a construção do personagem e deu detalhes do histórico que fez com que Amnon desse vazão à sua perversidade. “Quando Amnon levou Quileabe para a fonte de Giom e seu irmão acidentalmente morreu, algo dentro dele se quebrou. Com a distância de Davi por causa de seu pecado, aquele Amnon quebrado cresceu em raiva, ódio e mágoa contra o pai e, inconscientemente, contra si mesmo, o que o levou para longe de sua essência. Amnon se deixou levar por seus desejos mais obscuros e, como seu pai o amava demais, ele abusou da paciência e da compaixão dele, sabendo que não sofreria nenhuma punição por seu desvio de caráter”, observa Cristiane.
Vale ressaltar que, de acordo com a lei em Israel, era para Amnon ter sido morto (veja em Levítico 18.11-29). “Seria a obrigação de Davi como rei e maior juiz da nação fazer qualquer coisa contra o filho. Então, Davi optou por não fazer nada na esperança de que, com o passar do tempo, tudo se resolvesse, o que sabemos que não aconteceu”. Tanto Davi como Tamar lidaram com o episódio “como qualquer um no lugar deles faria: com dor e sem saber o que fazer com tamanha violência vinda de quem menos esperavam”, diz a autora. Já Absalão passou a odiar Amnon. “Eu imagino que Absalão, além de odiar o meio-irmão por ter abusado de sua irmã, se aproveitou para removê-lo do lugar que, aos seus olhos, seria o mais promissor para suceder Davi como rei.”

LIÇÕES DE UMA TRAGÉDIA
A Bíblia relata que, depois do abuso contra Tamar, passaram-se “dois anos inteiros” (2 Samuel 13.23), período devidamente considerado pela série. Nesse espaço de tempo, o público se deparou com um Amnon que fingiu que nada aconteceu, “como um verdadeiro psicopata”, aponta Cristiane. “Ele nunca se retratou com Tamar e muito menos com o seu pai, o que dá a entender que viveu como se tudo não passasse de um erro. Como ele sentiu nojo de Tamar logo depois de abusar dela (2 Samuel 13.15-18), humilhando-a, entende-se que ele a culpou pelo que ele fez. Vemos, com essa história, que ele não amava sua irmã, mas a desejou apenas.”
Cristiane avalia que “pessoas obcecadas têm esse problema: elas podem ir de um extremo a outro. Um exemplo é o fã que é capaz de dar a vida por seu ídolo, mas também de matá-lo, caso ele não corresponda às suas expectativas. No fundo, é um problema espiritual, pois não há como explicar nem entender”, continua.

Por fim, Cristiane analisa que uma das reflexões que essa tragédia leva ao público é justamente quanto aos limites que os sentimentos nos fazem ultrapassar. “A paixão pode se tornar uma obsessão, portanto, não se deve investir nela, mas no amor, que é completamente saudável e nunca, jamais, em tempo algum, é capaz de fazer mal a ninguém. A paixão não dura, faz mal, é egoísta, egocêntrica, se vinga, magoa, machuca e pode até matar. A tragédia em audiovisual dá uma pequena noção ao público do que é verdadeiramente uma violência sexual contra a mulher. A mulher que passa por esse tipo de violência se isola e não quer falar a respeito, não só pela dor que sente, mas também por vergonha. A humilhação dela é maior do que imaginamos. Eu espero que todos possam entender melhor como as vítimas de tamanha injustiça sofrem e, quem sabe assim, terão mais compreensão. Quando um homem olha para a mulher como um objeto, o próximo passo é usá-la como um”, encerra.
A série Reis vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 21 horas, pela Record TV e pelo Univer Vídeo, com cenas exclusivas.
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