Ralo ou filtro?

O brasileiro muitas vezes parece engraçado e também paradoxal. Se, por um lado, é criativo e encontra soluções quando ninguém as vê, por outro, há diversos casos em que é acomodado e fica esperando que as respostas caiam no seu colo como por encanto divino. Esse e outros comportamentos parecem encontrar abrigo em quem elegemos para seguir como exemplo. Nesse sentido, as redes sociais parecem ter adquirido um papel fundamental, tanto para o bem quanto para o mal, para ditar qual é o sucesso do momento a receber crédito.

Um episódio ocorrido recentemente, relacionado a um mendigo que teria se envolvido sexualmente com a esposa de um personal trainer, parece comprovar isso. Essa suposta traição foi um dos assuntos mais comentados nos trending topics do Twitter e, pasmem, inspirou até a criação de um pagode contando a história do mendigo. Para piorar, o morador de rua também chegou a ser convidado para ser candidato a deputado. A impressão que se tem é que todos estão querendo capitalizar na esteira do sucesso meteórico do mendigo tido como irresistível para as mulheres, mas isso é um equívoco.

Contudo a questão é mais séria do que se imagina. Há cantoras e cantores de sucesso que estão nivelando suas canções por baixo, com composições que trazem letras que exaltam o sexo, as traições e expõem essas temáticas em seus vídeos e shows que trazem a mulher fazendo coreografias como se fosse um objeto hiperssexualizado. Homens e mulheres veem, acham bonito, comentam, cantarolam suas músicas e seus filhos vão na mesma toada: imitam esses ídolos com pés de barro e tomam esses artistas como modelos a serem seguidos, justificando que é natural imitá-los, pois eles estão em primeiro lugar nas paradas de sucesso, mas isso também é um engano.

Parece que a sociedade se tornou um imenso ralo, em que tudo passa por ela sem que haja um filtro para separar o que presta do que não serve. Tudo é consumido, comentado e replicado sem que se meçam as consequências do simples ato de achar engraçado ou bonitinho tudo o que vemos e compartilhamos. Nessa mesma levada, a violência e a pornografia se tornaram tão banais e naturais que também são lugar-comum nos conteúdos espalhados nas redes sociais e pelo WhatsApp.

Isso nos faz perguntar: quais são os valores do mundo? Aonde isso vai nos levar? É preciso entender que esse é um momento crucial para o que virá a seguir em nossas vidas. É necessário ter muito cuidado com o que se consome culturalmente. Isso se reflete diretamente no que nos tornamos e também para quem se espelha em nós. É preciso manter certos valores ditos arcaicos, como a ética, o respeito ao próximo e a fidelidade, por exemplo, e que andam tão esquecidos hoje em dia, pois são eles que vão servir de norte para todas as ações que realizamos e inspiramos.

Quando temos plena consciência do que fazemos e sabemos que é o certo, conseguimos transmitir isso aos outros. Hoje, mais do que nunca, somos observados e servimos de exemplo para alguém: nossos filhos, nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho e até desconhecidos. Observar isso não significa fomentar a autocensura em tudo o que fazemos, mas avaliar e planejar nossas ações de acordo com os princípios corretos.

Vale lembrar também que essa análise ajuda a corrigir posturas equivocadas que temos e que julgamos que sejam as melhores, mas não são. Muitas vezes, por orgulho ou arrogância de acharmos que sabemos de tudo, acabamos sufocando até a Voz de Deus que tenta nos ajudar, mas, no fundo, só precisamos agir de uma forma mais inteligente e perceber que, por mais difícil que a vida seja, é preciso buscar uma determinação inabalável que só pode ser alcançada quando temos Deus dentro de nós. Ele nos passou valores que não têm relação com ídolos do momento dos quais a mídia se aproveita e cujo sucesso, muitas vezes, não dura mais do que 15 minutos. Ou você percebe isso, muda e age, ou, ao invés de filtro, será um ralo pronto a receber o esgoto desse mundo.

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Redação / Foto: getty images