Quanto tempo você passa on-line?

O aumento do uso de internet traz novos problemas. Aprenda o que fazer para se conectar de forma saudável

Imagem de capa - Quanto tempo você passa on-line?

Quando o celular passou a ter mais funções do que só fazer chamadas, ele se tornou um objeto indispensável para milhões de pessoas em todo o mundo. Com o aparelho conectado à internet, é possível trocar mensagens, trabalhar, fazer compras, pedir comida e estudar, entre outras atividades. Mas o uso excessivo não traz apenas vantagens. É o que garante Ana Rita de Moraes (foto abaixo), de 33 anos. Em 2012, ela conta que não conseguia desgrudar do aparelho. “Comecei a usar uma rede social que era novidade na época. Eu curtia posts, fazia comentários, colocava fotos, virou um vício”, lembra. “Passava 24 horas com o celular na mão e cheguei a virar noites acordada.”

Ana Rita explica que passou a usar o celular também no trabalho e foi advertida algumas vezes por colegas e gestores. O uso do aparelho era proibido na empresa, mas nem isso foi suficiente para que ela deixasse o hábito. “O assunto foi abordado em reuniões, meu nome foi citado entre os funcionários que usavam celular, até que um dia fui desligada”, diz ela, que acredita que o aparelho foi a causa da demissão.

Necessidade?

Há um ano e meio, Ana Rita passou a se questionar quanto ao uso frequente de redes sociais. “Muitas vezes deixamos de nos divertir e aproveitar a companhia de outras pessoas para tirar fotos, postar em rede social e receber curtidas. Eu tinha essa necessidade de aprovação de outras pessoas.”

Ela decidiu mudar a forma de usar o celular quando percebeu que havia se afastado das pessoas que ama. “Eu estava sendo uma mãe ausente, uma filha ausente. Então, aproveitei o Jejum de Daniel para excluir as redes sociais do celular e passei a usar WhatsApp só para trabalho”, detalha.

Hoje, Ana Rita diz que dedica mais tempo ao filho, de dois anos e sete meses, faz visitas às amigas e aproveita o tempo longe da internet para passear. “Entendi que o mundo não gira em torno da tecnologia e que não preciso ficar expondo minha felicidade na internet”, conclui.

Avanço das tecnologias

Entre 2008 e 2016, a proporção de domicílios conectados à internet no Brasil passou de 18% para 54%. Hoje, o País tem 107,9 milhões de usuários de internet e 61% dos indivíduos de 10 anos de idade ou mais usaram a rede no ano passado, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2016, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), do Núcleo de Informação e Comunicação do ponto.BR (NIC.br).

Nos últimos anos, o celular se destacou como principal dispositivo de acesso à rede. Em 2016, 93% dos usuários usaram o celular para navegar na internet, um aumento de quatro pontos percentuais em relação a 2015. “O uso exclusivo de internet pelo celular aumentou muito e é cada vez mais comum que o usuário de internet no Brasil use apenas telefone celular porque a conexão é mais barata e chega a mais lugares”, diz Winston Oyadomari, coordenador da pesquisa.

Entre as atividades mais realizadas na rede estão o envio de mensagens instantâneas, com 89%; e o uso de redes sociais, com 78%. “Esta é uma das poucas atividades que alcançam diferentes perfis”, esclarece Oyadomari, lembrando que muitas empresas de internet oferecem planos que permitem o uso ilimitado dessas redes.

Dependência

O aumento no uso de celulares vem acompanhado da dependência em relação ao aparelho. Uma pesquisa da Deloitte aponta que o brasileiro está conectado ao smartphone em todos os momentos e não coloca limites de horário para a tecnologia. Dentre os jovens entre 18 e 24 anos que responderam ao estudo, quase 50% afirmam que checam notificações de redes sociais até de madrugada. Metade dos participantes do estudo reconhece hábitos exagerados no uso de seus celulares e oito em cada dez estouram seus pacotes de dados de internet antes do final do período programado. O levantamento Global Mobile Consumer Survey 2017 foi realizado em 22 países, incluindo o Brasil.

A psicanalista e especialista em dependência Cristiane M. Maluf Martin alerta que o uso intenso de tecnologia é perigoso para as relações interpessoais. “Hoje, muitas pessoas não se olham, não conversam, a relação delas é com a tela. É um mundo com mais egocentrismo e individualismo.”

Segundo ela, o excesso de internet pode funcionar como fuga da realidade e se tornar dependência em pouco tempo. “Alguns buscam a tecnologia para se desconectar de si mesmos e não vivenciar as frustrações do mundo real.” Os sinais de que a pessoa está passando dos limites incluem queda de rendimento na escola e no trabalho, abandono de atividades cotidianas, recusa de encontrar os amigos e familiares, insônia, isolamento e dificuldade para acompanhar conversas. Os jogos on-line são apontados como um dos fatores que podem levar ao descontrole no uso de internet, ao lado das redes sociais. “Jogar na internet dá a sensação de bem-estar, euforia, é como se fosse uma espécie de anestésico”, diz.

Prejudicial à saúde

Os efeitos da dependência tecnológica são semelhantes aos da dependência química. “A pessoa pode até cair em síndrome de abstinência e muitos precisam da ajuda de um especialista para superar o problema”, sugere Cristiane M. Maluf Martin.

A psicanalista afirma que a dependência de tecnologia pode levar a problemas como depressão, déficit de atenção, fobia social, distúrbios do sono e sedentarismo. “Muitos adultos dão tablets para as crianças ficarem quietas, mas as consequências disso podem ser graves. Precisamos controlar o uso da tecnologia para não nos tornarmos escravos dela”, finaliza.

Isolamento

Heloneide Rocha Cardoso (foto ao lado), de 45 anos, conta que teve dificuldades para impor limites no uso da internet ao filho Mattheus, de 16 anos. “Ele entrou naquela fase de usar computador e celular, mas eu não sabia que isso poderia prejudicar a vida dele. Ele passava as madrugadas no computador”, lembra. Ela acreditava que o filho estava apenas brincando, mas acabou descobrindo que ele acessava sites de conteúdo adulto. “Ele conversava com várias pessoas, até de outros países. Fiquei nervosa e tirei o celular e o computador dele por um tempo”, diz. Para ela, a falta dos aparelhos levou o jovem a mudar de comportamento. “De repente ele ficou muito estressado, qualquer coisa ficava nervoso em casa, soltava palavrão.”

Mattheus começou a jogar na internet por volta dos 11 anos de idade. Ele afirma que a mãe o alertava sobre a frequência de uso do computador, mas os conselhos não foram suficientes. “Eu chegava da escola e já ia para o computador, ficava trancado no quarto escuro o dia inteiro, só saía para ir ao banheiro. Fui perdendo o sono, não me alimentava direito e chegava a ficar com dores de cabeça e nas mãos”, esclarece. O excesso de tecnologia levou o jovem a se afastar da família. “Eu me sentia triste. Comecei a me isolar, era tímido, não conversava, não tinha assunto nem com a minha mãe.”

Para tentar tirar o jovem da dependência de internet, Heloneide buscou ajuda na Universal, igreja que ela já frequentava. “O pastor convidou o Mattheus para participar do grupo de Mídia do Força Jovem Universal. Aos poucos, percebi que ele foi se envolvendo e passei a incentivá-lo.”

Com o grupo, o jovem diz que descobriu novas atividades e fez amizades com pessoas de sua idade. “Comecei a fotografar reuniões e eventos e a me envolver mais com Deus. Descobri na fotografia um hobby e a profissão que quero seguir”, comemora. Heloneide garante que a mudança do filho foi positiva. “Antes ele era supertímido, não se abria comigo. Agora, ele conversa e conta como foi o dia. Posso falar que ele é um amigo”, finaliza.

Jogos

Os jogos on-line conquistaram Millene da Costa Cidram (foto ao lado), de 18 anos, quando ela tinha apenas sete anos. No início, a jovem permanecia de duas a três horas em frente à tela. Na adolescência, a frequência aumentou bastante e a jovem passava as madrugadas conectada. “Eu tinha interesse em todos os lançamentos de jogos. Comecei a me desligar um pouco da vida. Sempre que tinha reunião de família, eu preferia ficar fechada no quarto na frente do computador. Também não saía com os meus pais”, diz.

Millene lembra que esquecia até de comer por causa dos jogos. “Minha mãe tinha que me chamar várias vezes para comer. Ela me alertava para o uso do computador, mas eu não queria ouvir.”

Aos 16 anos, Millene percebeu que estava perdendo oportunidades por causa do excesso de tecnologia. “Eu não fazia cursos, não procurava emprego. Comecei a ver que meus colegas estavam evoluindo e eu não.”

No fim de 2016, ela decidiu dar um basta nos jogos, mas confessa que não foi fácil. “Participei do Jejum de Daniel. Nos primeiros dias sem tecnologia, eu não conseguia dormir, sentia ansiedade e vontade de voltar a jogar.” Ela conta que buscou forças na fé e em outras atividades para se manter longe dos jogos. Integrante do Força Jovem Universal, Millene diz que o grupo a ajudou a superar a dependência tecnológica. “Comecei a sair de casa, a conversar com outras pessoas. Também emagreci 12 quilos em poucos meses, pois comecei a me movimentar, a andar.”

Neste ano, Millene tirou carteira de habilitação, começou um curso de gestão empresarial e está estudando para o vestibular. “Antes eu não pensava no futuro. Hoje, quero fazer faculdade de Direito.” A relação familiar também melhorou. “Aos poucos, fui me aproximando de todos e percebi o quanto eu tinha perdido por causa dos jogos”, conclui.

Investigação on-line

As redes sociais se transformaram em obsessão para Andresa Cristine Carvalho do Nascimento (foto ao lado), de 23 anos, durante um namoro conturbado. “Meu ex-namorado não gostava de colocar fotos nossas nas redes sociais, dizia que era para manter a privacidade. Achei estranho e comecei a investigar todas as redes sociais dele (Facebook, Twitter, Instagram, etc.) Eu ia atrás de todas as meninas que curtiam fotos dele e fazia solicitação de amizade”, lembra.

As investigações nas redes sociais tomavam o tempo de Andresa, que acabou ficando ansiosa com a situação. “Eu olhava tudo, cada comentário, cada curtida. Passava mal, tinha tremedeiras, não comia e emagreci quatro quilos. Um dia, descobri uma traição.” O namoro terminou, mas Andresa ainda tinha vontade de olhar o perfil do ex na internet. Para evitar o problema, ela conta que ficou um mês sem celular. “Uma amiga minha me convidou para ir à Universal e um obreiro, o Luis, me indicou a ‘Terapia do Amor’. Participo das reuniões e estou aprendendo sobre amor inteligente”, finaliza ela, que hoje usa as redes sociais com moderação.

imagem do author
Colaborador

Por Rê Campbell / Fotos: Fotolia, Marcelo Alves e Cedidas / Arte: Edi Edson