Quando o óbvio gera polêmica

Tempos tristes os que vivemos, quando falar a verdade incomoda tanto. As bolas da vez são alguns daqueles que, por dizerem o óbvio publicamente, são alvos dos que gostam de manipular a população para que aceite seu jeito deturpado de viver e proceder. É o “politicamente correto” em ação, querendo destruir a sociedade em suas bases e calar quem é contra tal destruição. Hoje em dia, quantos precisam ficar calados por medo de serem censurados, proibidos, cancelados e quaisquer outros termos?

É óbvio que deve existir respeito em qualquer esfera e em relação a qualquer assunto, mas ser livre para dizer o que se quer compreende estar ciente de que haverá concordâncias, discordâncias e debate.

Uma tentativa recente de calar o óbvio aconteceu na América do Norte. No Canadá, no dia 8 de janeiro, entrou em vigor a lei C-4, que determina, entre outras coisas, que “fornecer, promover ou fazer propaganda de terapia de conversão” é crime. Entenda-se como “terapia de conversão” quando alguém ou alguma instituição oferece recursos para que alguém que segue uma determinada orientação sexual incomum tente deixar de segui-la, se for sua vontade. Cerca de 4 mil pastores em toda a América do Norte se reuniram para protestar contra a C-4 e a possibilidade de sua má interpretação, o que pode resultar em proibir ensinamentos bíblicos sobre ética sexual ou que se fale nesse sentido abertamente.

A polêmica já começou quando um desses pastores, John MacArthur, da Grace Community Church, em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos, manifestou sua preocupação de que a lei canadense ganhe simpatizantes no país vizinho, o seu. No púlpito, em um culto dominical veiculado no YouTube,  MacArthur disse que “não existe transgênero. Você é XX ou XY. É isso. Deus fez o ser humano como homem ou mulher. Isso é determinado geneticamente, é fisiologia, é ciência, é a realidade”.

O YouTube tirou o vídeo do ar, um ato de censura, e justificou que ele viola seu regulamento sobre “discursos de ódio”.

MacArthur se manifestou em outras mídias e declarou que repressões como essa provavelmente aumentarão, principalmente quando cristãos se recusarem a ceder, e que o que há no Canadá chegue rápido aos Estados Unidos. “Em última análise, os dissidentes, aqueles que não cederão, serão aqueles fiéis à Bíblia. E é isso que já está levando a leis contra a prática do que somos ordenados a fazer nas Escrituras, que é enfrentar esse pecado. E isso só vai aumentar”, disse o pastor.

O exemplo norte-americano é só um dentre vários. Aqui em terras brasileiras, um juiz no Rio de Janeiro quis proibir o uso da palavra “lepra”. Não foi por acaso: o presidente Jair Bolsonaro usou essa palavra, assim como “leproso”, no fim do ano passado, em Santa Catarina. Uma ação foi movida nos tribunais cariocas contra o presidente por uma instituição dedicada à reintegração de pessoas atingidas pela hanseníase.

Em dezembro do ano passado, quando estava em Santa Catarina, Bolsonaro utilizou as expressões “lepra” e “leproso” durante um discurso para se referir à hanseníase. Ele comparava os tempos bíblicos em que a doença era estigmatizada à pandemia atual e à restrição causada por ela: “quem já leu ou viu filmes daquela época, quando Cristo nasceu, sabe que o grande mal daquele momento era a lepra. O leproso era isolado e havia distância dele. Hoje em dia, temos lepra também, mas o mundo não acabou naquele momento”. Não houve, obviamente, nenhuma tentativa de discriminação ou falta de respeito em relação aos acometidos pela doença.

Muitos defendem que a enfermidade seja chamada de hanseníase, nome que vem de Gerhard Hansen (1841-1912), médico que identificou a bactéria causadora da doença. De fato, existe a Lei Federal 9.010/1995 que proíbe a utilização das palavras “lepra” e “leproso” em discursos públicos, mas o presidente as usou em um contexto específico e se referiu à Bíblia, onde as mesmas palavras estão escritas como ele as disse. Vão proibir a Bíblia também por aqui? Fica a dúvida.

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Redação / Foto: getty images