Pirataria: o “grátis” que sai caro

Quem rouba sinal de TV por assinatura abre acesso de seus dados para criminosos 

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O “jeitinho brasileiro” é amplamente usado quando alguém tenta justificar que roubar sinal de TV paga é uma prática que não prejudica ninguém. O número de pessoas que rouba o sinal continua a subir. Um estudo divulgado pelo site de notícias Mobile Time em março revelou que o Brasil já tem cerca de 33 milhões de pessoas que acessam TV por assinatura ilegalmente, como sites, as chamadas TV Boxes (aparelhos que captam o sinal alheio sem cobrança de mensalidade) e aplicativos “ladrões” de sinal, entre outros meios. Os pagantes brasileiros são cerca de 45 milhões.

Onde o “jeitinho” entra aí? As desculpas para se cometer o roubo de TV por assinatura são muitas: mensalidades caras, atendimento ruim por parte das operadoras, programação de péssima qualidade em muitos canais, reprises de programação, intervalos comerciais com propagandas repetidas, serviços de streaming com programas mais atraentes e mensalidades mais em conta surgindo (mas eles também estão sendo pirateados) e por aí afora. Apesar de as justificativas terem seu fundo de verdade, por que tantos fazem questão de roubar?

A pandemia de Covid-19 bagunçou a economia e diminuiu ou tirou o sustento de muitas famílias, o que fez com que a TV paga fosse cancelada em muitos lares para apertar o cinto. Desde dezembro de 2020, segundo o Mobile Time, mais de 500 mil brasileiros cancelaram suas assinaturas, sendo 200 mil só em abril deste ano.

A Associação Brasileira de TVs por Assinatura (Abta) divulgou que a perda dos impostos não pagos pelos piratas chega a R$ 15,5 bilhões por ano. A associação começou uma campanha contra a pirataria que tem crianças cobrando os adultos por suas atitudes.

No Congresso Nacional, leis sobre o assunto estão em tramitação, com o objetivo de aumentar a fiscalização e punir os infratores.

Quem rouba é roubado
Mas há algo em que muita gente não pensa na hora de fazer um “gato” de TV a cabo ou por satélite: muitas vezes, quando a sua smart TV, seu smartphone, computador ou tablet são conectados a esses “serviços alternativos”, eles podem estar sendo monitorados por quem fornece o sinal roubado.

Os dados do aparelho e do dono são capturados e usados por criminosos. Vírus são o menor dos males que podem ocorrer.

Portanto quem está driblando os altos preços com uma desculpa qualquer pode estar colocando os próprios dados e informações pessoais em situação de vulnerabilidade. A pessoa acha que tem alguma vantagem, mas tudo tem seu preço. Curiosamente, alguns desses ladrões de sinal mostram indignação quando veem notícias sobre corrupção e roubos de outros tipos – e as assistem exatamente por meio do sinal que eles mesmos roubam.

É a velha prática de usar dois pesos e duas medidas e achar que só o crime dos outros é passível de punição. Nesse caso, quando a pessoa que roubou sinal tem seus dados roubados, seu próprio crime a pune. E, como ela mesma tem culpa no cartório, tem de ficar quieta, pois não tem razão de reclamar. Vale mesmo a pena roubar e ser roubado com a ilusão de que está levando vantagem?

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty images