Parcelamento é dívida!

Entenda os riscos e como evitá-los

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Uma parcelinha aqui, outra ali e de repente a fatura do cartão parece um enigma: parcela 6 de 10, 2 de 5, 3 de 3, 1 de 36, etc. Quando uma acaba, outra já começa e o que parecia fácil de pagar se transforma em uma bola de neve de dívidas.

O problema é que parcelar uma compra significa comprometer o futuro porque, na verdade, a pessoa já gastou parte do dinheiro que ainda nem recebeu. Então, caso haja uma emergência, como ela estará com menor capacidade financeira, o risco de passar de endividado a inadimplente é grande.

Dados recentes revelaram um recorde brasileiro. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), oito de cada dez famílias estão endividadas. Já dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) apontam que quatro em cada dez brasileiros estão com o CPF negativado, ou seja, com o popular “nome sujo”.

Vale destacar que endividamento e inadimplência são diferentes, embora a maioria das pessoas considere que sejam a mesma coisa. Toda dívida é um compromisso financeiro que a pessoa física ou jurídica assume, no qual ela se compromete a pagar um valor a outra parte (como um banco, loja ou outro credor) dentro de um prazo determinado. Logo, a classificação endividado é atribuída a quem tem uma dívida ou mais. Entretanto, quando ela está com contas vencidas, sua classificação passa a ser inadimplente e pode ocorrer negativação do CPF. Isso acontece quando, depois de um prazo sem a quitação do débito, o credor informa essa inadimplência aos órgãos de proteção de crédito.

As razões por trás das dívidas

Patrícia Lages, especialista em finanças pessoais, explica que o crescimento das dívidas está ligado à facilidade de crédito e à falta de educação financeira. Muitos, por exemplo, não se dão conta de que, com a Selic (taxa básica de juros) em alta, os financiamentos ficam mais caros. É o caso da venda de veículos financiados que, nos primeiros meses deste ano, bateu o recorde de mais de uma década.

Outro fator é o uso recorrente do cartão de crédito: em julho, 84,5% das dívidas registradas eram vínculadas a ele. O peso maior recai nas famílias de baixa e média renda (que recebem de três a cinco salários mínimos) e nas mulheres, que lideram o ranking tanto em endividamento
quanto em inadimplência.

“O pensamento de ‘estender’ o salário com o uso do crédito – qualquer que seja – é uma das maiores provas da falta de conhecimento financeiro dos brasileiros. O cartão de crédito e o cheque especial são empréstimos automáticos, ou seja, operações
pré-aprovadas que não aumentam a renda de ninguém, apenas proporcionam a possibilidade de antecipação do consumo, quando eu compro hoje e pago amanhã. Quando o consumidor assimila esse comportamento, traz altos riscos para o seu orçamento futuro. Foi assim que chegamos aos maiores índices de endividamento e inadimplência”, esclarece Patrícia.

Limite seguro

Ao acumular vários parcelamentos, mesmo que seja a tal parcelinha que supostamente cabe no orçamento, “além do maior comprometimento da renda futura, a pessoa aumenta o risco de atrasos (que poderão gerar juros e multas) e dificulta o controle financeiro. Além disso, ter muitos parcelamentos longos pode gerar desmotivação para o trabalho, falta de perspectiva futura e estresse financeiro elevado”, alerta Patrícia. Ela alerta ainda que é preciso ter cautela mesmo nas chamadas “parcelas sem juros”, visto que taxas de financiamento são embutidas no preço a vista. Por isso, o ideal é negociar e pagar a vista com desconto, recurso que grandes redes só concedem a quem o pede. “O parcelamento não é um problema em si, pois possibilita que o consumidor adquira bens ou serviços de forma planejada, porém, é preciso ter controle financeiro e fazer as contas antes de fazer as compras. Defina um limite saudável para as despesas considerando que a soma de todas elas não ultrapasse 70% da renda. Quando a pessoa consome mensalmente mais do que 70% do salário apenas para cobrir as contas, significa que ela está gastando mais do que deveria, pois não haverá espaço para um crescimento financeiro real”, explica.

Ela também orienta que antes de assumir uma nova parcela é preciso ter um controle financeiro para os próximos meses também. “Some todas as despesas dos próximos meses, incluindo os parcelamentos já assumidos. Se o orçamento já estiver apertado, não é hora de fazer uma nova dívida”.

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Colaborador

Núbia Onara / Fotos: Gettyimages