Os tolos e a síndrome do super-herói

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Ninguém quer ser vilão, tampouco ficar à espera de um para admirar. O que cativa as pessoas são os heróis, afinal, eles são estimados e aplaudidos. Contudo, hoje eles não estão restritos às telas ou às histórias em quadrinhos ou reduzidos às próprias capas e aos super-poderes, mas, supostamente, estão entre todos nós, já que é permitido construir e eleger também o próprio herói. Logo, todos se dividem em dois grupos: aqueles que buscam um super-herói e os que querem se tornar um.

À espera de um milagre, há os que depositam em heróis dos dias atuais – pessoas tão humanas quanto elas – fé e certa dose de ingenuidade, já que anseiam por alguém disposto a abraçar suas causas e trazer a elas conforto quando a vida não está lá essas coisas. Os que esperam por heróis, por alguém que os socorra, que prontamente atenda suas necessidades, que lhes abram portas, que lhes estendam as mãos, os braços e todo o seu poder de influência, são também aqueles que, normalmente, esperam galgar uma oportunidade que lhes faça subir na vida, seja por meio de uma indicação irrecusável, pelo QI (o famoso “quem indica”), ou por meio de um empurrãozinho generoso de alguém que lhes deva algum favor.

Mas se fala pouco que há um custo a pagar por ser ajudado e que o preço é se submeter a quem o ajudou. Pode ser até reconfortante bancar ou se tornar o herói de alguém e, em um mundo onde a palavra empatia parece ser algo fora de uso, se tornar esse ser é encarado como algo extremamente inofensivo: por que não usar as próprias habilidades para lutar contra as ameaças e proteger as pessoas do perigo?

Há, inevitavelmente, quem queira ser o herói da própria casa, da própria história ou mesmo de causas legitimamente nobres, mas o fardo é desgastante e, por vezes, desleal. Afinal, abraçar as dores alheias e responder às vozes oprimidas do mundo não são papéis que, como humanos, nos cabem. Há mais de dois mil anos alguém muito especial fez isso por todos nós. Mas, ainda assim, sempre existirão mazelas e problemas sociais, desigualdades, injustiças e crueldades por aí: obviamente que cruzar os braços não é a melhor opção, assim como abraçar pautas indiscriminadamente também não é. Seria melhor, então, buscar pelo equilíbrio.

Essa “síndrome do super-herói” de alguns tem seduzido e devastado a muitos na mesma proporção. É diante de tantas pessoas que clamam por heróis que muitos se tornam lobos em pele de cordeiro para angariar prestígio e vantagens – e não necessariamente para salvar alguém. Vale ressaltar que, por vezes, são os cordeirinhos que fazem os lobos, assim como a oportunidade faz o ladrão – claro, daqueles cujo caráter é mau.

Logo surgem os Robin Hoods dos problemas sociais com braços dispostos a erguer bandeiras e construir muros que mais fragilizam do que encorajam. Surgem aqueles que se apresentam como os salvadores, pessoas que são mais interesseiras do que interessadas em ajudar, donas de uma lábia politicamente sedutora, que sabem vender promessas vazias e que juram dedicar suas vidas a livrar os outros quando o interesse real é o poder pelo poder e manter cativos aqueles que supostamente foram ajudados. Há um exemplo clássico: Nelson Mandela. Ele foi (e é) considerado um herói dos bons. Ele passou 27 longos anos em uma prisão e lutou pelo fim da discriminação contra os negros. Figura-chave para o fim do apartheid, regime cruel que inferiorizava e proibia os negros de morarem nos mesmos bairros que os brancos, Mandela se tornou o primeiro presidente negro eleito da África do Sul. O que poucos sabem é que ele foi membro de um partido comunista e que, inclusive, escreveu de próprio punho um manual sobre como ser um bom comunista, descrevendo que “o estudo do marxismo” seria necessário “para controlar as massas” e que “a vida de um comunista revolucionário” deveria ser dedicada “à destruição da sociedade capitalista”. Além disso, o mesmo Mandela não só apoiou ditadores genocidas do calibre de Fidel Castro como recebeu apoio de outras ditaduras, algo impensável para um regime democrático na essência. Em sua autobiografia, confessou diversos crimes, inclusive uso de tortura. Sua aparência é de herói intocável, mas essa postura duvidosa arranha sua reputação. Essa é a verdade que muitos desconhecem ou fingem não conhecer. Então, não se iluda com discursos bons para os ouvidos. São meras falácias. A verdade é que, no dia a dia, o papel de se salvar cabe a você mesmo por meio da Fé em Deus e da dependência dEle, ação exclusivamente de cada um. Seja você mesmo o seu herói.

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Redação / Foto: RichVintage/getty images