O tempo é curto ou o desperdiçamos demais?

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Entre a vasta obra de Sêneca destaca-se o diálogo Sobre a Brevidade da Vida. No prefácio de uma das edições (Ed. Camelot), a filósofa Lúcia Helena Galvão aponta sete fundamentos que mostram que estamos reclamando de que não há tempo, mas, na verdade, o desperdiçamos.

1. A vida não é curta, e sim mal aproveitada
É preciso fazer tudo com mente e corpo juntos, sem cair na falsa ideia de que podemos fazer várias coisas “ao mesmo tempo”. Estar em um lugar de corpo presente e mente ausente (pensando em outra coisa ou com a atenção dividida) só nos faz perder tempo. Mantenha o foco no que está fazendo e faça uma coisa de cada vez, reunindo mente e corpo.

2. Há que evitar o desperdício de tempo em inércia e vícios
Atualmente, temos a junção de inércia e vício na palma de nossas mãos. Os smartphones se transformaram em uma extensão de nós mesmos e, se não ficarmos atentos, eles roubarão nosso tempo e, como disse Sêneca, nos farão perder vida. Cuidado!

3. Quem não possui nenhum objetivo fixo vive ao sabor das marés
Lúcia Helena nos traz a imagem de um náufrago em alto-mar, que se vê jogado de um lado para o outro sem nenhum controle de sua vida. Mas, ao ver a ponta de uma corda e perceber que ela está fortemente amarrada à terra firme, se agarra a ela e a traciona um pouco a cada dia, “sem pressa e sem pausa”. Esse pensamento reforça a ideia de que é melhor fazer um pouco por dia, mantendo a constância e a perseverança, do que empurrar as tarefas para o dia que “tivermos tempo”. O nosso tempo é hoje!

4. Quem te deu algum momento de atenção é melhor que tu, que nunca dás esta mesma atenção a ti mesmo
Não ter tempo para conhecer a si mesmo é como viver à deriva, como o náufrago em alto-mar. Descubra do que você gosta, desenvolva seus talentos e dê atenção à vida espiritual acima de tudo. Cuide de você antes de querer cuidar dos outros.

5. Será que buscas o outro só para fugir de ti mesmo?
Em tempos de redes sociais cabe a reflexão: será que as pessoas estão se interessando tanto pela vida dos outros somente para evitar pensar em suas próprias vidas? Não fuja de si mesmo, encare os problemas e tome as rédeas da sua vida.

6. Por que defendes teu patrimônio, mas entregas com facilidade o teu tempo?
Como disse Albert Einsten, o tempo é relativo. Sobre isso, a filósofa faz um paralelo entre haver muito tempo disponível para o que não importa, mas não haver tempo para o que nos faz bem: “mas quando a banalidade bate à nossa porta, somos pródigos e entregamos nosso tempo sem medidas nem moderação. Um dia, ao olhar para o passado e avaliar o uso do nosso tempo, o que mais encontraremos além do rastro da banalidade?” Tenha pensamentos de qualidade.

7. Reservamos para nós apenas as sobras da vida!
Muitos cuidam de alimentar o corpo, mas nem todos cuidam de algo mais importante, que é destacado por Carl Jung, fundador da psicologia analítica: “o homem do século 20, que tanto fala em economia, é, na verdade, um esbanjador. Esbanja o mais precioso: o Espírito”. E a pergunta é: como anda o seu espírito? Bem alimentado ou quase beirando a inanição?

Se você é um leitor mais atento, já percebeu que todos esses conceitos, estudados por filósofos e grandes pensadores, estão na Bíblia há milhares de anos. Reserve tempo para lê-la atentamente e, além de empregar muito bem o seu tempo, você receberá vida.

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Colaborador

* Por Patricia Lages, jornalista e escritora / Foto: kieferpix/getty images