O que você já perdeu por causa das suas palavras?

Ser inconsequente ao falar pode gerar consequências negativas para todas as áreas da vida de uma pessoa, além de impactar a realidade de quem está ao seu redor. Entenda como isso acontece

Imagem de capa - O que você já perdeu por causa das suas palavras?

Uma pessoa fala em média 16 mil palavras por dia, segundo um artigo publicado na revista científica Science. Ele é resultado de uma pesquisa que também confirma que falar é uma das principais ações presentes no cotidiano do ser humano, que, inclusive, é a única criatura na Terra com essa habilidade. Segundo especialistas, é comum que aos nove meses uma criança comece a balbuciar algumas palavras, que vão se transformando em frases que passam a fazer sentido com o decorrer do tempo.

É interessante notar que, em toda essa trajetória, há um esforço imenso de pais e responsáveis em ensinar a criança a falar. Com o aprendizado que recebe, a dificuldade que ela tem de se expressar na infância é logo superada nas outras fases da vida e o ato de falar se torna corriqueiro no dia a dia.

De fato, externar o que se pensa é um direito garantido plenamente pela nossa atual Constituição Federal, que, inclusive, responsabiliza e pune o cidadão se as falas dele forem moralmente ofensivas. Contudo, atualmente, tem-se a impressão de que um grupo de determinado espectro político tem o salvo-conduto para falar e agir sem ser incomodado. E há outro grupo que não tem o mesmo tratamento – o que leva a ser notada uma ausência total de simetria, já que todos são iguais perante a lei (ou deveriam ser), causando muita perplexidade e indagações. Uma delas é: “o que está acontecendo?” – questão, aliás, retórica, tendo em vista que a sociedade sabe o que está acontecendo.

Mas este é outro assunto que será trazido aqui em ocasião oportuna. O objeto desta matéria especial são as consequências do que você fala, uma vez que as palavras ditas ou escritas têm o poder do ponto de vista espiritual de levantar ou derrubar quem as profere e quem as escuta. O Bispo Edir Macedo explica qual é a relevância delas em seu blog: “há espírito em cada palavra, tanto para o bem quanto para o mal, depende do quê e de quem fala. Depende também de a quem ouve e a recebe. Há poder nas suas palavras e talvez você nem se dê conta disso”.

Fazendo uma analogia com o plantio, as palavras podem ser comparadas a sementes lançadas na terra. Elas têm vida própria e potencial de dar frutos, que são as consequências do que foi dito. “A fé se materializa nas palavras confessadas. Se há confissão de derrota, então o fracasso será inevitável, mas se há confissão de vitória, então aguarde, porque cedo ou tarde ela acontecerá”, esclareceu o Bispo.

Os riscos da negligência
A Palavra de Deus nos alerta por meio do apóstolo Paulo para a importância de pesar o que falamos: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Efésios 4.29). Segundo o dicionário Michaelis Online, a palavra torpe significa tudo aquilo que desrespeita as regras sociais, a decência, os bons costumes e tudo o que é repugnante. “A orientação do Espírito de Deus àqueles que querem viver corretamente é que não deixem sair nem sequer uma palavra corrompida, suja e imoral da sua boca”, disse o Bispo Renato Cardoso no programa Inteligência e Fé.

O cuidado com as palavras não atende apenas a uma convenção social, mas representa uma habilidade essencial para a boa comunicação.

“Deus colocou dentro do ser humano esse poder. Deus fala e Ele é a própria Palavra e a própria inteligência. Ele colocou este poder dentro da sua criatura principal e é isso o que diferencia o ser humano dos outros animais: sua capacidade de raciocinar e de se comunicar de forma desenvolvida”, declarou.

Ao negligenciar esse poder, muitas pessoas amaldiçoam a própria vida sem perceber. “Você comete suicídio verbal quando diz ‘minha vida é um lixo’, ‘eu não sei por que estou nesse mundo’, ‘tudo para mim dá errado’’. Com essas frases comuns, a pessoa amaldiçoa sua vida, pois não tem noção do quanto está barrando o seu progresso e corrompendo suas chances de vencer”, alegou o Bispo Renato.

Palavras para atacar
Além de afetarem a vida pessoal, as palavras mal colocadas têm grande potencial para destruir o relacionamento amoroso. Falar tudo que pensa, sem filtrar as informações, transforma as palavras em flechas que atingem os que estiverem por perto. “Quantos casamentos acabaram por causa de uma palavra? Quando um cônjuge fala para o outro ‘eu nunca te amei’ ou ‘eu não sei por que me casei com você’, ele o fere de uma maneira mais mortal do que se lhe desse um tiro. Uma palavra estraga relacionamentos, provoca mágoas e destrói vidas”, ressaltou o Bispo Renato.

O mesmo acontece entre pais e filhos. Um exemplo é quando a mãe ou o pai tenta alertar o filho quanto às escolhas dele e afirma em um momento de irritação: “para você não tem jeito” ou “você não vai ser ninguém assim”. Mesmo com a intenção de dar um chacoalhão no filho, ao pronunciar tais palavras, o genitor acaba o amaldiçoando e, inevitavelmente, essas palavras interferem negativamente no receptor.

Há ainda os que se consideram sinceros e falam sem medir as consequências. Essa não é uma atitude sábia, já que esse indivíduo afasta as outras pessoas dele. Afinal, quem gosta de ser criticado o tempo todo? Ser sincero é também saber se comunicar do jeito adequado para que o efeito seja auxiliar e não destruir o outro. “Se você é precipitado ao falar, você se torna mais tolo do que o próprio tolo. Está escrito em Provérbios 29.11: ‘o tolo revela todo o seu pensamento, mas o sábio o guarda até o fim’. Isso quer dizer que quem revela tudo que pensa é como um carro desgovernado, que perdeu o controle. Sabemos que é difícil controlar nossos pensamentos, mas conseguimos controlar o que falamos”, destacou o Bispo Renato. Esse ensinamento também se aplica ao mundo dos negócios. Falar demais pode trazer prejuízos, atrair atenção desnecessária e prejudicar a oportunidade de desenvolver um trabalho.

Cuidado no ouvir
Talvez você seja uma pessoa cuidadosa com o que sai da sua boca, mas tenha dificuldade de filtrar o que entra pelos seus ouvidos. Infelizmente, não temos como impedir que as pessoas nos agridam com palavras, mas temos a escolha de aceitá-las como verdadeiras ou rejeitá-las. “O que mais existe no mundo são pessoas que espalham besteiras por aí e mudam o humor das outras com suas palavras. Vigie o que você ouve e fala para si mesmo e para as outras pessoas. Com uma palavra você salva uma vida e com outra você a destrói”, concluiu o Bispo.

O que as palavras falam o coração sente
“Eu não preciso de homem para viver”, “você não manda em mim”, “se não me ama, por que ainda está comigo? Pode ir embora”. Essas eram algumas das frases que Karina Nunes Monteiro, (foto abaixo) de 30 anos, repetia incansavelmente para o marido, Samuel Monteiro Matias, de 28 anos, antes de conhecer a Deus. Essas expressões, ditas durante as brigas do casal, geraram uma série de problemas entre os dois e eles pensaram em desistir do casamento.

A história de sofrimento no amor não era novidade na vida de Karina, já que seus pais se separaram quando ela era criança. Essa experiência deixou marcas e influenciou o seu comportamento. “Eu queria sempre mostrar para quem estava comigo que eu era superior, por medo de ser maltratada e passar pelo que minha mãe passou. A verdade, porém, é que eu vestia uma capa, tinha muita mágoa, muita raiva e agia assim para esconder minha insegurança.”

Mesmo com uma série de relacionamentos malsucedidos, Karina tinha o sonho de se casar e encontrou em Samuel a pessoa para seguir a vida ao lado dela. Contudo as brigas presentes ao longo do namoro se mantiveram no início da união. “Ele já conhecia a fé em Deus, mas estava longe dEle. Mesmo assim, ele tentava me alertar que eu estava destruindo nosso casamento por meio das minhas palavras, mas eu não conseguia enxergar isso”, conta.

Tentar colocar o marido para baixo era uma das estratégias adotadas por Karina para mostrar que era autossuficiente. “Por vezes, eu o humilhava, dizia que não precisava dele para viver e jogava na cara dele todos os erros que ele tinha cometido, sem perceber que isso o machucava e estava aos poucos nos afastando. Eu não aceitava que ele me corrigisse e me orientasse, mesmo que fosse para o meu bem. Se ele falava ‘A’, eu dizia que era ‘B’. Eu era encrenqueira”, admite.

Não precisou de muito tempo para que o inevitável acontecesse: o distanciamento do casal. “Na verdade, ele se cansou de tentar mudar nosso relacionamento. Então, a preocupação que ele tinha durante o namoro de me alertar sobre minhas grosserias e de suportá-las acabou. Nesse período, percebi que ele estava se distanciando e eu estava perdendo meu casamento”, ressalta.

Ela afirma que, apesar de tudo, ela não queria se separar, mas que estava usando as estratégias erradas e com base em sua experiência na infância. “Eu tive que reconhecer que precisava de ajuda e juntos fomos em busca dos ensinamentos da Fé na Universal. Eu entendi que a mudança viria a partir do momento que eu priorizasse a Deus e colocasse as minhas vontades em segundo plano. Foi o que fiz. Parei de ficar olhando para os defeitos do meu marido e passei a cuidar de mim e a resolver primeiro os meus problemas internos”, destaca.

À medida que Karina cuidava do seu interior, o seu casamento também mudou. “Em vez de pisar no meu marido, passei a cuidar dele. Se ele fizesse algo que não tivesse ficado do jeito que eu queria, eu o elogiava como uma forma de motivação. Passei a tratá-lo com carinho, mesmo quando ele apontava algo que eu ainda precisava mudar. Comecei, portanto, a usar as palavras a nosso favor”, alega.

A contínua transformação de atitudes trouxe mudanças no casamento. “Hoje nós vivemos em paz e felizes e contamos com o Espírito Santo diariamente como nosso guia. Ele nos orienta, inclusive, sobre o que falar e como falar para abençoarmos um ao outro”, conclui.

Pensamentos materializados
A infância de Dalma Aparecida de Oliveira, (foto abaixo) operadora de caixa, de 60 anos, também foi marcada pelo divórcio dos pais, mas sua reação diante desse evento familiar foi de tristeza profunda e ter uma visão deturpada de si mesma. “Eu era muito introvertida, a ponto de me esconder no banheiro na hora do intervalo da escola, porque não me sentia boa o suficiente para ficar perto das pessoas”, diz.

Pensamentos incapacitantes foram ganhando espaço na mente dela e reforçados por palavras vindas das pessoas próximas. “Minha mãe dizia uma série de coisas sobre mim, como, por exemplo, que eu era feia e outras palavras que me colocavam para baixo. E, na escola, após uma análise comportamental dos alunos, a diretora me disse que a minha vida seria muito difícil.”

Sem o discernimento para filtrar as palavras que ouvia, Dalma acreditou nelas. “Isso só reforçava dentro de mim que eu não era boa o suficiente e um problema foi puxando outro. Quanto mais eu alimentava esses pensamentos de insegurança, mais eu me colocava para trás e me omitia. Fui me afundando na depressão”, comenta.

Em busca de uma saída, Dalma buscou apoio em diversas religiões. “Cheguei a servir os espíritos por quatro anos, mas nada ia para a frente. Além da tristeza profunda, eu tinha muitas dores de cabeça, era nervosa e fumava três maços de cigarro por dia. No auge da depressão, eu tinha pensamentos de que a morte seria a solução”, revela.

Da mesma forma que as palavras negativas impactaram toda a sua trajetória, bastou uma palavra de fé para que surgisse dentro dela a esperança de uma nova vida. “Uma noite, ao mudar os canais na TV, encontrei um programa da Universal. Ali eu ouvi que tinha jeito para a minha situação e me agarrei àquela oportunidade. Participando das reuniões, fui entendendo que eu tinha um problema espiritual”, explica.

Com o passar do tempo, Dalma trocou todas as crenças que tinha sobre si mesma pela prática da Palavra de Deus. “Por meio da obediência, eu me libertei da depressão e do complexo de inferioridade. Desde que conheci o Senhor Jesus, existe dentro de mim uma fonte de alegria. Hoje eu durmo bem, como bem e tenho forças para superar os problemas”, afirma. É importante ressaltar que, mesmo com o interior transformado e com a entrega de vida no Altar de Deus, ninguém está imune a ouvir palavras negativas. Entretanto o discernimento espiritual tem o poder de barrá-las antes que atinjam o coração, como ressalta Dalma: “hoje eu consigo filtrar o que ouço e o Próprio Espírito Santo me direciona para o que eu devo ou não guardar dentro mim”.

O incômodo da rua
A família de Diego Fabiano Soares, (foto abaixo) motoboy, de 36 anos, era conhecida no bairro por ser uma das mais pobres e marcada pelos vícios, já que o pai dele era dependente de bebidas alcoólicas. Toda essa falta de estrutura afetava, inclusive, a forma como as pessoas olhavam para Diego na infância. “Desde muito cedo, eu ouvia as pessoas me chamarem de malandro. Muitas vizinhas me chamavam de má companhia e falavam para que meus amigos não me deixassem entrar na casa deles, porque eu poderia roubar algo”, lembra.

Essas duras palavras mexiam com Diego e ele começou a se revoltar. “Eu aceitei a frase de que não teria jeito para a minha vida e comecei a dar motivos para que as pessoas desconfiassem de mim. Em razão das más amizades, comecei a usar drogas e a praticar pequenos delitos”, descreve.

Aos 16 anos, o irmão de Diego foi preso e a família desmoronou. “Vi a dor da minha mãe e não queria ser mais uma decepção para ela. Decidi parar de furtar, mas não consegui abandonar os vícios”, destaca. Mesmo sem nenhuma estrutura emocional, ele entrou em um relacionamento e passou a morar com sua atual esposa, mas os problemas aumentaram. “Eu estava afundado em vícios e isso gerava muitas brigas. Eu também não sabia tratar bem a minha esposa, pois não tinha recebido amor e carinho na infância. As discussões eram constantes e saíamos delas machucados”, diz.

O resultado disso foi a separação. “Foi o pior momento da minha vida, porque, além de ter perdido a minha casa, fui morar de favor com a minha irmã, perdi o emprego e me afundei na depressão. Eu não queria mais aquela vida, acreditava que nunca poderia ser alguém diferente e queria me matar. Eu tinha pensamentos de morte o tempo todo.”

A solução para uma nova vida, no entanto, veio em forma de convite. “Minha mãe me chamou para ir à Universal em uma reunião que aconteceria no Dia das Mães. Naquele dia eu saí, me droguei e bebi com meus amigos, mas na hora marcada fui com ela e, quando eu a vi no Altar, reconheci o que eu estava fazendo com a minha vida. Naquele momento eu só consegui chorar e falei para Deus que eu não queria mais aquela vida. A partir daquele dia, comecei a mudar”, detalha. Ele, então, decidiu se batizar nas águas e mudou de rota. “Tive que abrir mão das minhas amizades e de tudo que me ligava ao passado para agarrar minha nova chance. Faz 11 anos que estou livre, sem nenhuma recaída, recuperei meu casamento e sou motivo de alegria para a minha mãe”, conclui.

Reforçando a atenção à boca
Diante de todas essas histórias, há uma certeza: “a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6.45). Ou seja, as palavras são o reflexo daquilo que o ser humano carrega dentro de si e ninguém pode dar a outros o que não tem.

A Bíblia ainda orienta, em Provérbios 4.24: “Desvia de ti a falsidade da boca, e afasta de ti a perversidade dos lábios.” Portanto, se você fala o que não deve ou não mede esforços para machucar quem está ao seu redor só para se sentir bem, faça uma autoanálise e verifique a condição do seu coração. “A pessoa que vive pela fé em Deus naturalmente tem seus pensamentos ocupados por Ele e por Sua Palavra. A linguagem de quem é da fé é marcada por uma diretriz que vem do Alto. Essa pessoa só fala se for melhorar o silêncio e procura não falar demais nem falar bobagens. Ela é seletiva, pois sabe que não existem palavras sem efeito e transmite aos outros fé, esperança, certeza. (…) As palavras são um reflexo do espírito que habita em você”, concluiu o Bispo Renato.

imagem do author
Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Nomadsoul1/getty images / Guilherme Branco e Demetrio Koch