O que as eleições em países vizinhos têm a ensinar?
Argentina e Chile, por exemplo, vivem momentos difíceis e enfrentam dificuldades de se recuperar da crise que afeta o mundo
O mundo tem sido afetado por uma crise econômica e em outros setores que estaria relacionada à pandemia de Covid-19 e ao conflito no leste europeu. Contudo em algumas nações o problema tem se intensificado e esse movimento coincide com a chegada – ou a manutenção – de governantes de partidos políticos que defendem as ideologias de esquerda. Seria apenas uma coincidência ou a forma de governar tem trazido resultados negativos para a população? Enquanto no Brasil estamos às vésperas das eleições, outros países já veem os frutos das escolhas que seus habitantes fizeram.
Argentina: economia no fundo do poço
Famosa pelos pontos turísticos e o tango, a Argentina passa pela pior crise da sua história sob o comando do político de esquerda Alberto Fernández. A inflação chegou a 7,4% só em julho. Se considerados os últimos 12 meses, a elevação é de, em média, 71% – índice que corresponde à maior alta dos últimos 30 anos. A taxa é a mais alta do continente americano e já ultrapassa até a registrada na Venezuela, de 62%. Especialistas apontam para uma realidade ainda pior, com três dígitos de inflação, ou seja, superior a 100%.
Muito mais do que números, a inflação atinge diretamente a condição de vida da população. Estima-se que 6% das famílias argentinas não têm dinheiro para comprar comida e, na região metropolitana de Buenos Aires, considerada a mais rica do país, moradores de três a cada dez lares correm o risco de passar fome. Inclusive foi registrado aumento de pessoas vivendo nas ruas: segundo o Conselho Municipal de Organizações Sociais, dez mil estão nessa situação.
Em busca de uma resposta eficiente do governo, a população tem realizado uma série de manifestações reivindicando melhores salários e condições de trabalho mais favoráveis, entre outras petições.
Esse cenário resume a dificuldade do presidente, Alberto Fernández, e de sua vice, Cristina Kirchner, de levar o país a uma mudança de rumo. Aliás, os dois, apesar de representarem a esquerda, têm divergências entre si que ajudam a prorrogar o quadro de instabilidade local. Vale ressaltar que o Ministério Público argentino pediu uma pena de 12 anos de prisão e inabilitação de Cristina por suposta corrupção em licitação de obras quando era presidente.
Chile: o sonho virando pesadelo
Conhecido por ser um dos países mais prósperos da América Latina, o Chile tem passado por algumas dificuldades depois que sua população optou por colocar no poder Gabriel Boric. Ex-líder de protestos estudantis, ele ganhou as eleições com folga, apesar de ter em sua aliança partidária a presença do Partido Comunista. Sua popularidade, no entanto, vem caindo à medida que a inflação do país sobe, o que influencia o aumento dos preços do gás e dos alimentos, e o ritmo do crescimento econômico se reduz.
Como defensor da esquerda, Boric é a favor de medidas como aumento de impostos, elevação dos gastos públicos e desenvolvimento de programas sociais. Para se eleger, ainda usou projetos a favor do meio ambiente e da inclusão feminina. Apesar das suas propostas terem conquistado parte dos eleitores, os resultados dos primeiros meses de governo geraram desconfiança. A população e o setor privado temem que sejam ainda mais impactados pelo aumento de preços e juros no país, que já são recorde em décadas.
Colômbia: relação amistosa com o tráfico
Um relatório de 2020 da Organização das Nações Unidas (ONU) classificou a Colômbia como número um em produção de cocaína. Ao longo dos anos, o país se transformou em uma espécie de referência do narcotráfico, inclusive com nomes conhecidos em todo o mundo, como Pablo Escobar, e passou a viver uma luta constante contra as drogas. Contudo dá sinais de que vai abrir mão de vencê-la. Isso porque, ao tomar posse como presidente da Colômbia em agosto, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro afirmou que “é hora de aceitar que a guerra contra as drogas foi um fracasso total”, conforme divulgou a CNN. A sugestão dada pelo governante de ideologia de esquerda para reverter o quadro seria conviver com as drogas de forma amigável por meio da legalização. Aliás um projeto já teria sido apresentado para ampliar a liberação da maconha para consumo recreativo, já que no país a produção da erva para fins medicinais já é permitida.

Seguindo a ideologia de esquerda, o governo tem o apoio de parlamentares e organizações de investidores que esperam que a legalização se transforme em uma realidade ainda neste ano. Uma das justificativas para isso seria o aspecto financeiro, pois tiraria do crime produtores que passariam a se submeter ao comércio legal, o que consequentemente enfraqueceria os lucros do crime organizado. O mesmo argumento é usado para defender a futura liberação da cocaína.
O que, aparentemente, não tem sido levado em consideração é a imensa lista de impactos negativos do uso de drogas. Estudos científicos internacionais apontam que a maconha pode influenciar processos cognitivos e psicológicos e abrir portas para o consumo de outras substâncias ilícitas.
Nicarágua: liberdade restrita
Localizada na América Central, a Nicarágua segue sob o governo autoritário de Daniel Ortega, que tem como vice-presidente sua esposa, Rosario Murillo. Em 2021, ele confirmou seu quarto mandato consecutivo, sendo eleito sem uma real concorrência, já que sete pré-candidatos da oposição foram detidos para que não pudessem concorrer. O país vive ainda um conflito intenso de falta de liberdade.
Em maio último, a Associação Internacional de Rádio e TV se manifestou em favor da imprensa da Nicarágua, que tem sido duramente repreendida pelo regime. No país, quase todos os jornais independentes foram fechados, permanecendo apenas veículos que apoiam a ideologia do governo. Inclusive uma empresa de comunicação retirou do país seus jornalistas de forma clandestina em razão de perseguição, seu diretor chegou a ser preso e sua conta bancária foi bloqueada.
A restrição da liberdade também chegou a uma rede com sete rádios católicas que teria ligação com um religioso contrário ao governo. A relação entre Ortega e a Igreja Católica está estremecida desde 2018, quando representantes da instituição teriam ajudado estudantes que se manifestavam contra a atuação do ditador. Desde então foram contabilizadas pelo menos 200 ações contra os católicos.
Um grupo de freiras fugiu do país em razão da insegurança e, recentemente, um bispo católico teria sido preso com o objetivo de “restaurar a normalidade da cidadania e das famílias da região”.
Arrependidos?
Outros países que compõem o continente americano também têm sofrido problemas por causa dos ideais defendidos por seus governantes. À primeira vista parece que é uma realidade distante do Brasil, mas esses partidos de esquerda hoje no poder estão ligados a legendas brasileiras por meio do Foro de São Paulo – organização criada em um evento promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em 1990, que une mais de 120 partidos e organizações políticas –, que atua para disseminar a ideologia pelo mundo. Segundo denúncia de uma jornalista espanhola, o Foro de São Paulo seria a sede e o posto de comando do comunismo. Além disso, a proximidade do PT, por intermédio de Lula com governantes esquerdistas, inclusive ditadores, ficou clara ao longo de seu governo, já que apoiou até financeiramente muitos deles.
Tendo em vista esse panorama, vale a pena questionar se os argentinos, nicaraguenses e chilenos estão satisfeitos com o regime ao qual são submetidos ou arrependidos por suas escolhas e depois refletir sobre o que queremos para o Brasil nos próximos anos.
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