O perigo dos perfis dark

Quem ganha e quem perde com os conteúdos que incentivam crianças e jovens à automutilação e ao suicídio

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A disseminação de perfis dark na internet, nos quais os usuários não se apresentam ou mostram nomes falsos, está aumentando assustadoramente. O foco dos perfis normalmente é segmentado, trazendo temas como cinema, finanças e humor, entre outros. Sua criação é ensinada em tutoriais no TikTok e no YouTube e muitos deles prometem renda extra de até R$ 10 mil mensais. No Brasil, por exemplo, há 42 milhões de pessoas que seguem perfis anônimos de saúde que aplicam golpes pelo Instagram, segundo levantamento recente do jornal O Estado de S. Paulo.

Invisíveis

Também há perfis que ganham dinheiro com a monetização de conteúdo e fornecem dicas de automutilação e até de suicídio. No início do ano passado, na Inglaterra, a morte de um jovem de 17 anos, depois de usar um kit com pílulas e venenos recomendados por perfis dark, foi um novo alerta para o problema. Como os pais podem impedir que os filhos acessem esse tipo de conteúdo que é facilmente propagado em grupos de WhatsApp ou em redes sociais como o Discord, nos quais os usuários aparecem off-line ou invisíveis?

Ameaça real

Para Júlio Cézar Protásio, médico psiquiatra do Instituto Suassuna, instituição educacional de pós-graduação, em Goiânia (GO), as crianças e adolescentes correm risco real e imediato, pois têm uma tendência a querer se encaixar. “Eles não têm acesso social fora da internet e esses perfis venderão isso. A internet trouxe esse perfil. Essa possibilidade poderia ser usada para o bem, de maneira adequada, mas não está sendo usada assim. É um perigo muito real, sim, porque eles fazem parte de uma faixa etária muito suscetível a isso”, avalia.

Mais vulneráveis

Nesse contexto, Protásio afirma que crianças e adolescentes que sofrem com depressão ou algum transtorno psiquiátrico são ainda mais vulneráveis. “Em especial, os que sofreram bullying, algum tipo de abuso, risco sexual, e até verbal. Como há uma apologia à autoagressão, acessar esses perfis é visto como rebeldia, como uma desaprovação à vida e ao modo dos pais, porque essas crianças e adolescentes não conseguem entender isso de maneira adequada”, explica.

Isolamento é sinal de perigo

Para Alessandra Petraglia de Freitas, psicóloga clínica e organizacional, especializada em saúde mental e comportamental, é preciso observar os sinais do que está ocorrendo: “Isolamento, mudanças bruscas de humor, queda no rendimento escolar, insônia, irritabilidade, alteração na alimentação ou falas pessimistas recorrentes devem ser um alerta. O afastamento do convívio familiar e o uso excessivo de celular no quarto, especialmente à noite, também são indicativos de risco importantes. Os pais precisam estar atentos porque o conteúdo consumido na internet molda pensamentos, emoções e comportamentos”.

Potencialização do mal

Protásio recomenda que os pais prestem atenção até ao WhatsApp e ao Telegram do filho, pois eles costumam ser muito usados para veicular esse tipo de conteúdo. “Lá no Discord, ele vai estar relacionado a games e a vício. Você pode observar que o adolescente e a criança que estão em jogos competitivos digitais podem até ser violentos, têm pouca inibição e toda uma forma de lidar ali que muda a realidade deles. Tudo isso pode ser potencializado nessas redes até quando se fala de transtornos factícios e anorexia, por exemplo”.

Os pais devem explicar os riscos às crianças

Para mudar esse panorama e agir preventivamente, além de terapia, Alessandra sugere educação emocional, presença afetiva, limites saudáveis, monitoramento ativo, diálogo constante e alfabetização digital. “Os pais precisam incentivar que crianças e adolescentes desenvolvam o senso crítico e a empatia. É preciso explicar de forma direta e adaptada à idade de cada um deles que essas páginas lucram com a atenção que eles dispensam a elas, muitas vezes sem se importarem com o impacto emocional que causam. Os pais devem mostrar como o algoritmo funciona, como a viralização gera dinheiro e que nem tudo que parece verdadeiro ou profundo nas redes sociais é feito com boas intenções”, alerta.

Diálogo em família e atividades ao ar livre

Atividades esportivas e ao ar livre podem ajudar a lidar com esse problema, segundo Alessandra. “O esporte regula o humor, reduz a ansiedade, promove a disciplina, a autoestima e libera neurotransmissores do bem-estar, como a dopamina e a serotonina. Além disso, seja curioso em relação ao que seu filho vê, ouve e sente. Observe, participe, converse sem fazer julgamento. Precisamos parar de tratar sofrimento emocional como drama ou fase. Crianças e adolescentes em dor precisam de escuta, acolhimento e orientação. Perfis dark crescem na ausência de diálogo real”, conclui.

Proteção espiritual extra

Quem está com problemas relacionados à depressão e à ansiedade costuma ser presa fácil dos algoritmos nas redes que direcionam, muitas vezes, a pessoa fragilizada emocionalmente e espiritualmente para conteúdos danosos. Por isso, é importante buscar apoio espiritual. Quem possui o Espírito Santo valoriza a vida e tem proteção extra contra esses males.

Onde buscar ajuda?

Pastor Online – oferece atendimento voluntário totalmente gratuito de apoio emocional e espiritual. Acesse universal.org/pastor-online.

Projeto Help, da Força Jovem Universal (FJU) – promove debates sobre saúde mental entre os jovens. Faça contato pelo site projetohelp.com.

Depressão Tem Cura (DTC) – dá apoio emocional e espiritual a quem sofre de transtornos psicológicos. Faça contato pelo Instagram @a.depressaotemcura ou pelo
WhatsApp (11) 3573-3662.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: Olga Yastremska/getty images