O homem não aprende a ser velho

A mídia quer "vender" juventude, o que leva o público a evitar pensar na velhice, mas ela chega

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A sociedade não ensina o homem a ser velho. Com isso, muitos não pensam no amanhã e se veem despreparados para conviver com as limitações normais que a idade traz. Resultado: idosos depressivos, extremamente doentes, financeiramente desprovidos e pensando nas pessoas que foram e não nas que são.

A velhice ainda é um tabu. No aspecto comercial, não faltam propagandas que insultam a inteligência do espectador oferecendo “medicamentos” inúteis, sem base médica, que prometem vigor físico e sexual ou acabar com doenças “milagrosamente” e retardar os males do envelhecimento. E tome imagens de idosos superativos, correndo, sorrindo, dançando – só falta voarem.

É claro que há idosos que mantêm a prática de exercícios físicos em dia em casa ou nas academias, cuidam da saúde correndo, nadando, pedalando, o que é importantíssimo e recomendável. Mas daí a comprar a ideia de que podem ser os mesmos de quando tinham 20 anos há uma diferença enorme. “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando.” (Salmos 90.10).

Claro que se exercitar e se alimentar para ter qualidade de vida é possível para muitos (de preferência com acompanhamento médico e de um bom profissional de educação física) e manter a cabeça ativa também. Se alinhar ao bom uso da tecnologia, idem. Ser velho pode não ser uma maravilha completa como vendem por aí, mas ninguém disse que não pode ser bom e que não tem suas vantagens.

A velhice traz maturidade, mas ela depende que o homem a cultive ao longo da vida para colher seus frutos a seu tempo. Mais velho, um homem tende a ser mais sensato (ou deveria) e a priorizar o que é de fato importante.

No entanto a sociedade costuma fazer o homem adiar o ato de pensar na velhice e, com isso, ele não se estrutura para ela. Ele relaxa na atenção à saúde, o que acelera ou agrava os efeitos ruins da idade; não se prepara psicologicamente para a diminuição do interesse e da potência sexual e se sente frustrado; sofre com saudade de quem foi um dia e não vive o presente.

Outra tentação do homem mais velho é deixar de se cuidar de vez e se sentir inútil. Ele descuida da saúde e começa a ter vícios, deixa de se vestir bem ou de acordo com a idade, destrata a esposa e os filhos por achar que seu papel de chefe de família não é mais o mesmo – um grave erro. As condições mudam, mas seu papel não.

É possível ter qualidade de vida na velhice, mas abrindo os olhos para as limitações que a idade traz e administrando-as, e, desde a juventude, cuidando da saúde, das finanças, do casamento e da Fé, para que, quando ela chegar, haja estrutura em todas essas áreas.

Contudo, se há algo em que o homem pode se manter sempre renovado, é na Fé. Se ela amadureceu com ele, ele continua ativo, produtivo espiritualmente, sendo usado por Deus, visto como um exemplo da boa velhice e transmissor da Fé à posteridade. Em Salmos 71.18 está escrito: “Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que eu tenha anunciado a Tua força a esta geração, e o Teu poder a todos os vindouros.”

Enfim, muitos não aprendem a ser velhos porque, sem a sabedoria de quem tem o Espírito Santo, não aprenderam antes a ser homens.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty Images