O Bicentenário da Independência

Você se lembra das aulas de história? Contase que depois de quase 300 anos vivendo sob a regência do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o então príncipe regente Dom Pedro I deu o Grito de Independência às margens do Ipiranga, na província de São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822. Depois do brado “Independência ou Morte”, o Brasil iniciou um novo capítulo de sua história como nação autônoma.

Esse marco histórico, recordado nos primeiros versos do Hino Nacional, está completando 200 anos. Em entrevista exclusiva à Folha Universal, o diplomata e historiador Rubens Ricupero recorda que o bicentenário é um evento raro e oferece uma oportunidade única de reforçar o sentido de união e comunidade por meio da comemoração. “No sentido etimológico da palavra, ‘com’+’memorar’ significa recordar juntos em comunidade. Não se trata de festejar e sim de conduzir uma reflexão crítica a partir de duas perguntas: o que fizemos em 200 anos? O que deixamos de fazer ou temos de corrigir?”, afirma Ricupero.

Valorizar a história do Brasil enquanto nação deve ser um exercício constante. Mesmo com um passado de exploração, escravatura e desigualdades, lutamos para superar nossos problemas e somos uma nação conhecida em todo o mundo por seu povo acolhedor, alegre e rica por sua cultura, belezas naturais e miscigenação. A Independência consolidou o desejo do povo de construir uma nação livre e soberana e isso tem sido conquistado diariamente com cada avanço do País e, principalmente, de cada brasileiro.

Amor pela nação
O historiador ainda lembra que o Grito de Independência foi um acontecimento importante, mas que fez parte de uma cadeia de eventos que teve precedentes e sequência. Além de valorizar a todos que participaram ativamente do processo, é necessário “valorizar também o caráter relativamente pacífico da ruptura com Portugal, sua natureza evolutiva e o fato de que não tivemos guerras civis sangrentas como em alguns países hispânicos”.

Desde esse período, os brasileiros permanecem como um povo unido. Afinal, apesar da extensão territorial, as dificuldades com transporte e comunicação não impediram o Brasil de preservar sua unidade de Norte a Sul, sem se fragmentar em diferentes países. Essa unidade deve servir de incentivo até hoje ao sentimento e prática do patriotismo, na essência da palavra.

Segundo o dicionário Michaelis, patriotismo não é apenas a qualidade de quem é patriota, mas, também, “amor à pátria, devoção ao seu solo e às tradições, à sua defesa e integridade”. Amar o Brasil é apreciar sua história, respeitar seus símbolos e comemorar as conquistas do passado, cada progresso no presente e garantir que no futuro existam outras razões para celebrar.

Ricupero salienta que valorizar o que somos e o que fizeram nossos antepassados é fundamental. “Também faz parte do patriotismo desejar o melhor para a terra que nascemos e nossos compatriotas, sem que isso signifique de modo nenhum diminuir ou desprezar outros povos e pátrias. Incluindo aí a aspiração de que o Brasil seja cada vez mais um país justo, sem graves desequilíbrios nem desigualdades de raça, gênero, cultura e religião”, defende.

O Brasil de 1822 é completamente diferente do que conhecemos hoje. Nesses 200 anos vivemos vários marcos importantes, como a Abolição da Escravidão, a Proclamação da República e a elaboração da Constituição Federal, que também denotam nossa independência. Agora, cabe a cada brasileiro continuar essa história e garantir que a geração que vai comemorar o tricentenário tenha muitos outros motivos para se orgulhar.

O 7 de setembro pelo Brasil

Em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil, muitos eventos estão sendo realizados pelo País. Veja alguns deles:
Itinerários virtuais da Independência: lançado pelo Senado Federal, o website projetorepublica.org/independencia/ traz os eventos que fizeram parte do processo de Independência do Brasil, de 1817 a 1825.

Moedas comemorativas: o Banco Central do Brasil lançou duas moedas comemorativas alusivas aos 200 anos de Independência. Entre elas está a primeira moeda brasileira com aplicação de cor.

Exposição no Palácio do Planalto: em Brasília, a mostra (à dir.) conta com livros, selos e moedas comemorativas, bandeiras históricas, hinos compostos por Dom Pedro I e elementos que fazem parte da história da Independência do Brasil. Aberta até 15 de novembro.

Museu do Ipiranga: após as obras de restauração e modernização, o Museu do Ipiranga (à esq.) e o Parque da Independência, em São Paulo, serão reabertos para as comemorações do bicentenário.

CORAÇÃO no Palácio do Itamaraty: em Brasília, a exposição Um coração ardoroso: vida e legado de D. Pedro I exibe, até 5 de setembro, o coração do imperador, que está conservado em cápsula de vidro e foi emprestado pelo governo português para que seja exposto durante as comemorações.

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Colaborador

Laís Klaiber / Fotos: getty images