“Ninguém se importa comigo.” Será?

Muitos engolem uma vida amarga por não enxergarem uma força infinitamente maior capaz de mudar este fato. Como despertar diante dessa miopia espiritual?

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Apesar de as pessoas terem um comportamento cada vez mais televisivo e exposto aos views alheios nas redes sociais, parece que elas estão paulatinamente mais invisíveis. Tanto que nos causa surpresa quem barbaramente vira notícia por ser cúmplice das próprias emoções cruéis ou mesmo por vermos aqueles que, diante de tantas oportunidades, talentos e dinheiro definham em razão da depressão. Embora lidar com esses fatos se torne algo inimaginável em muitas situações, ninguém sabe o que se passa no interior das pessoas, muito menos as dores que as torturam. Parte disso talvez se deva à vida “perfeita” que é corriqueiramente exibida por aí – afinal, é mais atraente exteriorizar o glamour do que o fracasso, que costumeiramente fica “escondido debaixo do tapete”. Na verdade, o que se passa no interior de cada pessoa é algo que só ela pode descrever e por causa disso é que muitas se sentem desamparadas.

Elas engolem a vida sofrida e amarga que lhes é imposta e deixam de experimentar o que Deus preparou para elas. Afinal, Ele se importa com elas. Em contrapartida, o que menos importa é a condição em que a pessoa está, já que, para Deus, nenhum abismo o impede de agir.

DESACREDITADAS E SÓS?
No livro bíblico de Juízes, é possível ler a história de um homem que só não “comeu o pão que o diabo amassou” porque nem isso foi dado a ele e tudo que ele tinha para si, sua família e seu povo tinha sido lhe tirado. Gideão era o seu nome, que significa destruidor ou guerreiro poderoso.

A Bíblia diz que, depois de 40 anos de paz (Juízes 5.32), os israelitas voltaram a se esquecer de Deus. Espiritualmente vulneráveis, eles passaram a ser alvo dos midianitas, que roubavam suas colheitas, seus animais e o que mais aparecia na frente deles. Isso gerou sete anos de fome e ruína sobre Israel (Juízes 6.2-6). Empobrecidos, eles passaram a viver oprimidos e escondidos nas montanhas e cavernas. Até que aquele povo clamou ao Senhor pedindo socorro (Juízes 6.7).

Gideão, que era da tribo de Manassés – por sinal, a menor de todas (Juízes 6.15) –, em vez de assistir passivamente àquele cenário caótico, malhava o trigo em uma prensa de uvas (local impensável para esse serviço) como estratégia para não chamar a atenção do inimigo. E era ali, onde ele ficava calado, que, segundo a Bíblia relata, “(…) o Anjo do Senhor apareceu a ele e disse: você é corajoso e o Senhor está com você! Gideão respondeu: se o Senhor Deus está com o nosso povo, por que está acontecendo tudo isso conosco? Onde estão aquelas coisas maravilhosas que os nossos antepassados nos contaram que o Senhor costumava fazer quando nos trouxe do Egito? Ele nos abandonou e nos entregou aos midianitas. Então, o Senhor Deus ordenou a Gideão: vá com toda a sua força e livre o povo de Israel dos midianitas. Sou eu quem está mandando que você vá.” (Juízes 6.11-14).

Gideão então foi capacitado por Deus para libertar o seu povo. Não à toa, anos depois, ele foi mencionado na galeria dos heróis da Fé como alguém que, por meio de uma Fé intrépida, conquistou reinos. Inclusive, diante de uma Fé como a dele, palavras se tornaram poucas, como dá a entender a passagem de Hebreus 11.32: “E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão (…).”

Vale ressaltar que a Fé não mostra resultados se estiver encurralada, mas uma vez manifestada por meio da prova a Deus, de votos e da confiança nEle traz à tona o que não existe (Hebreus 1.1).

A exemplo dos israelitas, muitos se sentem abandonados e largados à própria sorte. São esses que, geralmente, consideram que ninguém se importa com eles. Acostumados com a miséria, os vícios e uma avalanche de problemas, eles engolem a dor que dilacera seu peito, como uma dívida que as atormenta, um diagnóstico que sentencia que os piores dias virão pela frente ou um relacionamento infeliz. Enquanto essas pessoas se perguntam “onde está Deus”, não percebem que Ele está diante dos seus olhos, porque estão afetadas por uma espécie de miopia espiritual. Mas há uma forma de não se sentir mais assim: basta buscar o amparo dEle.

PRESO (LITERALMENTE) AO PROBLEMA
O empresário Francisco Rocha, (foto abaixo) de 45 anos, diz que convivia com “um vazio muito grande na alma” e que “precisava preenchê-lo de todos os jeitos, principalmente com o álcool”. Foi assim que, aos 8 anos, ele conheceu os vícios. “Com essa idade, eu já bebia pinga”, expõe. Aos 15 anos, o hábito de consumir bebidas alcoólicas passou a ser constante. “Era o dia inteiro. Eu vivia bêbado para tentar preencher aquele vazio inexplicável”, diz.

Ele conta como era o seu comportamento: “comecei a sair toda noite, namorava com duas, três mulheres ao mesmo tempo e era infeliz. Também ia para todo tipo de prostíbulo. Era onde eu gostava de estar todos os dias, de segunda a segunda”. Ele relata que suas atitudes lhe trouxeram consequências ruins: “eu não conseguia dormir se não estivesse alcoolizado, então, eu ia trabalhar bêbado e, por isso, fui demitido. Era um abismo atrás do outro, no qual eu me afundava cada vez mais”, detalha ele, que logo se envolveu com as drogas.

Francisco faz uma observação de como se sentia, algo que é comum a muitos que têm o mesmo problema: “a pessoa que sente o vazio quer se livrar dele. Ela pode ficar a noite inteira usando drogas, mas, no outro dia, ela acorda se sentindo a pior das criaturas e promete para si mesma que não quer mais aquilo”. Contudo essa força de vontade não era suficiente e, assim, ele passava os dias bêbado, sem valorizar a própria vida nem a dos outros. Ele conta que foi nesta situação que ele adotou uma atitude que lhe trouxe complicações: “arrumei uma briga, dentro de um boteco, com um rapaz que era do crime e cometi um homicídio. Fui preso em flagrante e ali foi minha queda total”.

Ele diz que tinha consciência de que seria condenado pela Justiça por anos e que, por causa da solidão que aquela situação impunha a ele, seu interior ficou ainda pior. “Aquele vazio imenso virou um buraco”, afirma. Até que um dia, na prisão, sozinho, algo chamou sua atenção, conforme relata: “no fundo do pátio estava escrito o Salmo 50, que diz: ‘Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei’, e aquela frase me impactou. Ao ler esse versículo, pensei: ‘que dia é mais angustiante do que este?’ Então, entrei no banheiro e fiz um clamor”.

Quatro dias depois, Francisco foi transferido para uma cadeia menor e lá conheceu o trabalho da Universal. “Dia após dia, eu ouvia uma Palavra e as mensagens do Bispo Edir Macedo e lia a Folha Universal. Minha igreja era um radinho de pilha. Eu me alimentava de toda mensagem que recebia e isso criou em mim a sede de ter Deus. Aquela Palavra foi limpando meu coração.”
Assim, Francisco foi modificando seus pensamentos e logo entendeu que o batismo com o Espírito Santo mudaria a sua vida. “Lembro que o Bispo fez uma oração para que as pessoas entregassem a vida a Deus mas que, antes, era para cada uma entregar a Ele aquilo que mais queria, o maior problema, o que a angustiava. Então, fiz uma oração pedindo a minha liberdade, só que, naquele momento, entendi que eu não recebia o Espírito Santo porque estava mais preocupado em sair da prisão. Ou seja, eu estava sendo interesseiro. Eu não queria Deus, mas o que Ele tinha para me dar. Aí a ficha caiu”, detalha.

Francisco finalmente encontrou o que sempre procurou. “Uma tentativa de fuga dos presos foi descoberta durante um feriado e, quando isso acontece, a situação que já é ruim fica pior, porque os presos são redistribuídos nas celas e não há espaço físico nem para dormir. Mas foi naquela madrugada, na pior situação, que eu recebi o Espírito Santo. A partir daquele momento tudo mudou”, descreve.

Ele conta o que vivenciou: “a Bíblia diz: ‘Recebereis o Espírito Santo e serás mudado em outro homem” (1 Samuel 10.6). Então, dentro da prisão, eu tive paz. Para mim, não tinha diferença se eu tinha saído ou não da cadeia, pois eu já tinha ganhado a liberdade espiritual, que é muito mais importante do que a liberdade física.”

Ele ficou três anos e três meses detido e depois, frequentando a Universal, ele conheceu sua esposa, Anna Claudia Rodrigues, de 42 anos. Eles já são casados há 12 anos e têm uma filha, Giovanna, hoje com 4 anos. “Deus tem me abençoado em tudo”, declara.

PARA ELA, TODO MUNDO PENSAVA NA MORTE
Jéssica Muniz de Oliveira, (foto abaixo) de 25 anos, dona de casa, teve uma infância difícil e cresceu com um pai alcoólatra. “Apenas minha mãe trabalhava e meu pai usava o dinheiro que ela recebia para beber. Ele era muito agressivo: batia na minha mãe, em mim e nos meus irmãos. Faltava comida dentro de casa e muitas vezes dormíamos com fome ou dependíamos da nossa avó para comer. Em outras ocasiões, meu pai levava os amigos para beber em casa e, enquanto eles comiam carne, nós sentiamos fome. Ele passava uma visão de bom pai e de bom marido para as pessoas, mas só nós sabíamos o que acontecia dentro de casa.”

Jéssica viveu por anos no interior do Ceará. Foi nesse período que ela também lidou com outros sofrimentos, como descreve: “fui molestada por duas pessoas e cresci com medo de homens, tanto que, na fase adulta, eles me causavam repulsa. Eu não tinha em quem confiar. Eu vivia com medo, assustada e não sabia o que era ter paz. Comecei a ter crises de ansiedade, que eram confundidas com asma, e síndrome do pânico. Também tive depressão. Eu chorava por tudo, tinha vontade de acabar com aquela dor e, então, passei a arrancar os cabelos na parte de trás da cabeça. A vontade de morrer era grande. Comecei a ir a especialistas e, nesse período, fui medicada. Foi então que misturei todos os medicamentos para me suicidar”, relata.

Com os pais já divorciados, Jéssica se sentiu abandonada. Na época, ela morava em São Paulo com sua mãe, mas precisou retornar ao Ceará para morar com seu pai, aos 14 anos. “Minha mãe se casou novamente, mas essa pessoa não aceitava os filhos e, então, ela teve que decidir com quem ia ficar e mandou a mim e a meus irmãos de volta para o Ceará. Foi muito difícil para mim, pois eu me senti trocada.” Apesar disso, Jéssica tentava se conformar com aquela situação.

“Era como se eu realmente a merecesse. No entanto eu questionava muito a Deus e dizia: ‘se o Senhor existe, por que me deixa passar por isso? Que Deus é você?’”, destaca.

Foi há dois anos, já casada, que ela chegou à Universal, por meio do marido, Daniel Oliveira, de 28 anos, e descobriu que não era normal ter pensamentos de morte. Então, ela fez as pazes com Deus e se tornou verdadeiramente filha dEle. “Eu entendi que dependia de mim mesma entregar a Deus as mágoas e os ressentimentos. Depois que recebi o Espírito Santo, tive a certeza de que Ele estava comigo. Quando lembro do passado, parece que estou falando de outra pessoa e não de mim”, observa.

“EU NÃO ENTENDIA QUEM ERA DEUS”
Durante três anos, a confeiteira Rafaela Eudoxio, (foto abaixo) de 29 anos, foi garota de programa e conta que o que a levou a isso foi a carência emocional. “Entrei nessa vida por causa de problemas familiares, mas o que mais me motivou foi o abandono da minha mãe, quando eu tinha 8 meses. Fui criada por meu pai, que me deu tudo que podia tanto na parte material como na afetiva. Embora ele tivesse alguns relacionamentos, eu não tinha a presença materna e isso mexia muito comigo. As pessoas me comparavam com a minha mãe, mas eu dizia que não era como ela, até que, certa vez, falei que seria igual”, ressalta. Ela diz que sua mãe também foi prostituta: “ela terminou o casamento com meu pai e fugiu com um rapaz para se prostituir e usar drogas”, diz.

Rafaela saiu de casa aos 17 anos e se casou, mas o relacionamento não deu certo. Foi depois disso que ela começou a se prostituir. “Eu não sabia conviver em família e também era agressiva. Eu não conseguia dialogar e expressar sentimentos e sempre desconfiava das pessoas, pois pensava que, se minha mãe não foi capaz de me amar, ninguém seria. Até que um dia vi um anúncio convocando meninas para ser garota de programa e achei que seria uma forma de ser desejada”, narra. Na época, ela estava com 22 anos.

Rafaela diz que não gostava do que fazia, mas afirma: “me acostumei a fazer, como se fosse uma forma de amenizar aquela dor”. No entanto aquilo a prejudicou ainda mais: “eu me sentia usada e a pior pessoa do mundo, suja, mentirosa e perdida. Comecei a beber para dormir e, depois, passei a fumar maconha para esquecer o que eu tinha feito. Quando eu tinha dinheiro, trazia as pessoas para perto, mas, com as minhas atitudes, afastava as que realmente gostavam de mim. Parecia que não tinha saída para a minha vida. No entanto eu pedia a Deus para me dar uma solução.”

Exposta a todos os riscos, em uma noite Rafaela foi colocada em um carro e oito homens tentaram estuprá-la. “Eu não sabia se voltaria viva, mas foi a misericórdia de Deus que me alcançou, porque eles não fizeram nada comigo. No dia seguinte, porém, eu estava me prostituindo de novo.”

No fundo, tudo que Rafaela queria era não se sentir abandonada. Foi nesse cenário que ela conheceu a Universal, há cinco anos, por meio do projeto EVG Night. “Quando cheguei à Igreja, inicialmente, não entendi Quem era Deus nem o que Ele poderia fazer, mas, graças ao cuidado das pessoas que me ajudaram, fui me curando dos traumas, medos e complexos”. Ela conta qual foi sua maior experiência: “ter recebido o Espírito Santo foi maravilhoso. Eu estava morando no meio de uma comunidade e ali me tornei completa.” Ela afirma que hoje se sente realizada. “Eu não preciso de outras pessoas próximas a mim para me preencher nem de coisas, noitadas, bebidas, nada. Com Deus, eu sou feliz”, encerra.

“NÃO OS DESAMPARAREI”
Se você está desamparado, atente a essas palavras descritas em Isaías 41.10-20: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. (…) Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita (…). Os aflitos e necessitados buscam águas, e não há, e a sua língua se seca de sede; eu o Senhor os ouvirei, eu, o Deus de Israel não os desampararei. Abrirei rios em lugares altos, e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em lagos de águas, e a terra seca em mananciais de água. (…) Para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isto (…).” Portanto, busque nEle o amparo de que precisa.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: D-Keine/getty images, Demetrio Koch e cedida