Marcius Melhem admite que é um homem tóxico, mas nega ter cometido abuso
Caso traz reflexão importante a respeito da "cultura" do estupro
O ano era 2008. Parecia ser mais um dia comum de trabalho. Decidi ir de metrô porque aquela segunda-feira era rodízio do carro. Mas, seria melhor ter tomado uma multa naquela ocasião… Porque, o que era para ser algo corriqueiro se tornou um pesadelo. Quando estava no vagão, notei que um homem sentado alguns assentos perto do meu, me olhava constantemente.
Finalmente a estação Santana havia chegado, era a minha parada. Quando me levantei e saí, aquele homem também se levantou e passou a andar logo atrás de mim. A primeira coisa que veio à minha mente foi que ele estaria me seguindo, então, fiz um teste: parei em um quiosque de perfumes localizado ao lado da catraca. Para o meu terror ele parou alguns metros à frente.
Comecei a tremer. Para sair da estação havia um longo corredor, escuro, repleto de corredores laterais. Minha primeira reação foi pedir ajuda a um homem que passava ao meu lado. Estava tão nervosa que, como ele estava vestindo uma farda, achei que fosse policial civil, mas, na verdade, era bombeiro. Expliquei o ocorrido e disse que não sabia o que fazer.
Coincidentemente, no mesmo momento, uma moça nos interrompeu e pediu ajuda para chegar em uma rua que era a rua onde trabalhava. Ele disse para eu ir com ela e sair pelo lado oposto de onde estávamos, que abordaria aquele homem e verificaria o que estava acontecendo.
Consegui chegar em segurança, mas nunca me esqueci desse dia. No início, não entendi o porque daquilo ter acontecido, estava vestida de forma discreta, sem maquiagem, como talvez alguns questionariam.
Essa lembrança voltou quando li sobre o ex-diretor da Globo, Marcius Melhem, acusado de assédio, sexual e moral contra diversas mulheres. A repercussão foi gigantesca após revelações da atriz Dani Calabresa, o que me fez questionar: o caso ganhou todo esse destaque porque quem o denunciou é do meio dos famosos? Porque naquela época que fui seguida por um suposto abusador não recebi apoio do movimento “mexeu com uma mexeu com todas”? Na verdade, nada aconteceu e minha vida seguiu. E isso acontece, todos os dias, com milhares de outras mulheres.
Para mudar é preciso vencer a “cultura” do estupro
Uma pesquisa recente feita pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com duas mil pessoas, mostrou essa realidade. 95% das mulheres disseram ter medo de ser vítimas de estupro. O estudo também revelou que 92% dos homens têm receio de que alguma mulher que conheçam (filha, mãe, esposa, namorada) seja vítima de violência sexual.
Por isso, gostaria de deixar um recado aos homens e mulheres: Por favor, parem. Parem de objetificar a mulher. Parem de propagar e incentivar o estupro nas mídias, seja por meio de propagandas de bebidas alcóolicas, filmes, novelas, seja o que for. Parem de compartilhar pornografias.
Parem de falar sobre as mulheres como se fossem objetos. Isso não é engraçado. E não, isso não faz de ninguém mais “empoderado”, muito pelo contrário, cria misóginos dignos de nojo. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. O que só traz à tona a necessidade de se tomar uma atitude séria perante a banalização do estupro.
É preciso dar um basta nessa “cultura” acéfala que que trata a mulher como um pedaço de carne.
Para ler mais reflexões como do blog Refletindo sobre a notícia por Ana Carolina Cury clique aqui.
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