Jovens não creem mais no esforço como gerador de recompensa

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De acordo com um levantamento feito entre os 37 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tem o segundo maior número de jovens, entre 18 e 24 anos, que não estudam nem trabalham. A porcentagem de brasileiros nem-nem subiu de 31%, em 2022, para 36% em 2023 e só perde para a da África do Sul, que lidera o ranking.

O que temos visto atualmente por parte dessa parcela da população é uma discrepância muito grande entre aspiração e ação. Pois, ao mesmo tempo que o número de jovens que expressam o desejo de mudar o mundo parece ser maior do que em gerações anteriores, a apatia e a preguiça que os abatem são ainda maiores, neutralizando qualquer aspiração à mudança.

Boa parte dessa geração Z consegue reunir características curiosamente antagônicas, como criatividade e desinteresse, empoderamento e vitimismo, impetuosidade e ressentimento. São pessoas carentes de inteligência emocional – com grande dificuldade de lidar com os próprios sentimentos – e com baixa taxa de ativação efetiva, ou seja, querem muito, mas fazem pouco.

Talvez essa seja a geração da culpa, criada por pais ausentes que tentaram maquiar os efeitos de sua falta mimando e convencendo seus filhos de que eles são tão especiais que não precisam fazer nenhum esforço para ter o que querem.

Diferentemente de gerações passadas, que sabiam que a mudança de vida viria de sua dedicação e persistência, os jovens de 2023 não creem mais no esforço próprio como gerador de recompensa. Por terem sido convencidos de que o mundo lhes deve algo – a exemplo dos pais, que lhes devem atenção – os nem-nem acreditam que alguém tem obrigação de deixar tudo o que quiserem na porta de seu quarto, sem que tenham de fazer qualquer coisa.

Enquanto essa apatia aprisiona quase quatro a cada dez jovens, a inteligência artificial avança a passos largos, otimizando processos, dispensando a presença humana e extinguindo diversas profissões. Esse é o cenário perfeito para a introdução da renda básica universal, que tornará esta e as próximas gerações dependentes de um Estado que finge fazer o melhor por elas.

* Por Patrícia Lages, jornalista e escritora

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Colaborador

Por Patrícia Lages, jornalista e escritora / Foto: Solovyova/getty images