Israel

Conheça o país que passa pelo pior conflito de sua história e saiba por que isso está acontecendo

Imagem de capa - Israel

No dia 9 de novembro é celebrado o Dia Internacional contra o Fascismo e o Antissemitismo. A data lembra a Noite dos Cristais, que ocorreu na Alemanha, em 1938, quando começou a maior perseguição já vista contra os judeus: o Holocausto. O movimento foi marcado por ataques a sinagogas, saques a estabelecimentos comerciais, incêndios em casas e outras agressões contra os judeus. O ódio passou a ser explícito, com a prisão em massa deles e seu envio para campos de concentração. Estima-se que 6 milhões de judeus morreram.

Para que a história não se repita, em novembro, acontece uma espécie de lembrete da luta contra o fascismo, que é uma ideologia política radical ultranacionalista e autoritária, e o antissemitismo, que é o preconceito ou ódio contra os judeus. A data estabelecida pelo Parlamento Europeu nunca foi tão atual e necessária.

Em 7 de outubro deste ano, Israel foi surpreendido pelo ataque do grupo terrorista Hamas, que invadiu o país pela fronteira com a Faixa de Gaza, matou, sequestrou e torturou civis, incluindo mulheres, crianças e idosos. A invasão levou Israel a declarar estado de guerra contra o Hamas.
Além do cenário horripilante, há um detalhe que ganha cada vez mais espaço nos noticiários: o fortalecimento de uma onda de antissemitismo na Europa. Recentemente, em Berlim, na Alemanha, estrelas de Davi foram pichadas nas portas de residências de judeus, o que lembra a ação de soldados nazistas que marcavam os estabelecimentos de judeus para que os alemães não comprassem ali.

Outras cenas que chamaram a atenção foram o ataque a uma sinagoga e a um centro comunitário judaico em Berlim. Além da Alemanha, a França também teme o aumento do antissemitismo.

Diante desse panorama surgem muitos questionamentos: por que tanto ódio contra os judeus? Por que o território ocupado por Israel é tão desejado? Qual é a razão do atual conflito? Para responder a tantos questionamentos é preciso voltar milênios na história de Israel.

Território disputado
Desde Gênesis, a Bíblia fala da Terra Prometida que foi dada ao povo escolhido por Deus. Essa região, que retrata a maioria dos fatos bíblicos, hoje está dividida em vários países: Israel, Gaza, parte da Jordânia e trechos do Egito, do Líbano e da Síria. Essa sempre foi uma região muito disputada, principalmente a cidade de Jerusalém.

A História retrata uma série de episódios de destruição na região, como em 587 a.C., quando o templo de Jerusalém foi destruído pelo imperador Nabucodonosor II. Algum tempo depois, os israelitas retornaram para a região e construíram o segundo templo, que durou de 516 a.C. a 70 d.C. Naquele ano, em mais uma guerra contra Roma, a região foi destruída e os judeus passaram a migrar para outras regiões.

Em outro conflito, em 131 d.C. os judeus perderam mais uma vez o território e no local foi criada uma província do Império Romano chamada Síria Palestina. A partir de então, a região passou longos anos sendo ocupada por grupos diferentes, entre eles os persas, os egípcios, os sírios e a Igreja Católica. No século VI surgiu o islamismo, que se difundiu por países da região, também valorizando e lutando por Jerusalém.

Depois de uma série de trocas de poder, em 1517, a região foi conquistada pelos otomanos, que ocuparam não apenas Jerusalém, mas grande parte do Oriente Médio, formando o Império Turco-Otomano, de maioria islâmica, que ficou na região até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, quando os britânicos assumiram o controle do local interessados, principalmente, em petróleo.

Ao longo de todo esse período, “os judeus se espalharam pelo mundo por conta de uma série de conflitos e perseguições. Esse processo de diáspora acabou reforçando, entre a comunidade judaica, a sua identidade. Perto de 1870 surge na Áustria o movimento sionista, sugerido por um intelectual da época, que defendia a criação do Estado de Israel para solucionar a perseguição dos judeus”, explica Vinícius Müller, doutor em História Econômica e professor da Escola Superior de Engenharia e Gestão de São Paulo – faculdade do Grupo Etapa.

Essa ideia ganhou força ao longo dos anos, especialmente na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). “O assunto se tornou incontornável depois do Holocausto, depois da perseguição nazista contra os judeus. A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou então a definição do Estado de Israel em torno da cidade de Jerusalém, que é considerada uma terra sagrada pelos judeus. O problema é que a região também é sagrada para outros povos, como os árabes. Essa definição afetou especialmente os palestinos, mas também seria instituído o Estado Palestino, o que não foi bem-aceito. Inclusive, muitos povos não reconheceram Israel como um Estado.” Esse descontentamento uniu vários países contra Israel, que ganhou uma série de guerras e expandiu o seu território.

Assim, atualmente, não existe um Estado palestino, “existe uma tentativa de autodeterminação da população que permaneceu no território da Palestina histórica e que estava sob a tutela do Império Britânico. Essa população está basicamente vivendo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza”, explica Robson Cardoch Valdez, doutor em estudos estratégicos internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília.

Ele diz que existe a Autoridade Nacional Palestina, presidida por Mahmoud Abbas, do partido político Fatah, enquanto, na Faixa de Gaza, o Hamas ganhou as eleições. Valdez destaca que atualmente há um desencontro entre o que desejam os palestinos e o Hamas: “o próprio embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, e Mahmoud Abbas já expressaram que o Hamas não representa os interesses do povo palestino em sua totalidade.”

O desfecho da guerra
“Existe um grande risco do conflito atual entre o Hamas e as tropas israelenses transbordar para outros territórios, como o Líbano e a Síria. A partir do momento que os Estados Unidos apoiam incondicionalmente Israel, enviando para a região seu principal porta-aviões e externando para que os demais atores da região não aproveitem esse conflito para avançar agendas de interesse dos governos locais, percebemos que há um risco real de transbordamento”, salienta Valdez.

De forma semelhante, Müller ressalta o possível envolvimento de outros países com grande poder bélico como Irã, Rússia e China: “nós temos um potencial explosivo que pode colocar num mesmo conflito países grandes, poderosos e bem armados”.

Enquanto os noticiários falam de mísseis, bombas, sequestros e tanta violência, na prática as pessoas sofrem independentemente de sua nacionalidade ou crença. Muitos civis, incluindo crianças, pagam um preço muito alto. E a perspectiva do futuro não é tão positiva, afinal esse é um dos momentos mais tensos da história depois da Segunda Guerra Mundial. Ninguém sabe o que pode acontecer.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Atlantide Phototravel/ Carl & Ann Purcell/getty images/ getty images/ John and Lisa Merrill/getty images