Infestação de pombos pode ser perigosa
Excesso de alimentos nas cidades estimula superpopulação da ave. Ela pode causar alergias e outras doenças
Os pombos estão entre os animais mais comuns nas grandes cidades. Eles são vistos em parques, telhados, locais com lixo acumulado e até voando a poucos metros de distância da cabeça de pedestres. Mas essa proximidade entre os pombos e a população pode trazer riscos à saúde. Em São Carlos, cidade do interior de São Paulo, o atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) foi suspenso por cinco dias no início de setembro por conta de uma infestação de piolho de pombo.
Segundo a prefeitura, uma empresa foi contratada para fazer a remoção das pragas, a dedetização e a limpeza dos forros para retirar os ninhos de pombo. O trabalho ainda incluiu a colocação de grades para impedir que as aves se instalem nos telhados da unidade. Nesse período, o atendimento à população foi transferido a outra UPA da cidade.
Já em Portugal uma infestação de piolho de pombo também fechou o atendimento da ala de cirurgia obstetrícia de um hospital na cidade do Porto, no fim de agosto, segundo reportagem do jornal português Correio da Manhã.
Doenças
A infestação humana com piolhos de pombo é um dos problemas relacionados a essas aves. A picada do piolho de pombo, que é um ácaro, provoca alergia na pele, cujos sintomas são vermelhidão, coceira intensa e inchaço, segundo o Centro de Controle de Zoonozes da Cidade de São Paulo (CCZ-SP). A presença de ninhos e fezes de pombos no ambiente pode levar a alergias, rinites e crises de bronquite.
Além disso, os pombos podem estar relacionados à transmissão de doenças menos comuns, como a cryptococcose. Segundo o doutor Jacyr Pasternak, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a doença é causada por duas espécies de fungos que estão espalhados na natureza e encontrados também nas fezes das aves.
A doença é adquirida pela inalação do fungo. O médico afirma que pessoas com deficiências imunológicas correm mais risco de contrair cryptococcose quando expostas a grandes quantidades desses fungos. “Em pessoas com deficiências da imunidade, com linfomas, pacientes que fazem quimioterapia ou que têm imunodeficiências adquiridas pelo vírus HIV, o fungo se dissemina, causando lesões no pulmão e invadindo o sistema nervoso central, provocando meningite ou cryptococcomas, tumores com cryptococos no sistema nervoso.”
Entretanto, Pasternak pondera que é difícil determinar a forma de contaminação. “Doenças diretamente atribuíveis ao contato com fezes de pombos não são comuns e com frequência não sabemos como nossos pacientes com cryptococcose se contaminaram.” Outra doença ligada a fungos presentes em fezes de aves é a ornitose, que provoca problemas respiratórios, vômito e diarreia. “É uma doença muito rara no nosso meio, que ocorre em quem tem contato frequente e extenso com aves”, esclarece.
Infestação
A superpopulação de pombos nas cidades é provocada principalmente pela oferta abundante de alimentos, explica Gladyston Carlos Vasconcelos Costa, biólogo do CCZ-SP,. “Nas cidades, é muito comum encontrar pessoas cujo hobby é alimentar esses animais. À medida que se oferece mais alimentos, aumenta a reprodução e a população de pombos. O alimento presente em lixo mal acondicionado é outro problema, além dos restos de comida que ficam nas ruas após feiras e eventos”, alerta.
Como evitar
A principal medida para evitar a infestação de pombos é eliminar as fontes de alimentação e fechar bem os sacos de lixo, diz o biólogo. “No CCZ, também fazemos um trabalho de convencimento para que as pessoas deixem o hábito de alimentar os pombos.” Ele lembra que as aves são capazes de encontrar alimento na natureza e isso é importante para manter a saúde delas.
Outra medida é verificar os lugares em que os pombos fazem ninhos. “Deve-se corrigir esses espaços, de modo que as aves não possam se instalar. É importante colocar telas, fechar vãos dos telhados com alvenaria, instalar espículas de plástico na superfície em que as aves pousam, colocar fios de náilon ou arame fino a 10 centímetros no beiral do telhado”, afirma.
Cuidados
A limpeza das fezes de pombos deve ser feita com a proteção do nariz e da boca. Além disso, é preciso molhar o local antes de limpar. “A pessoa deve usar máscara e luvas. Antes de remover as fezes, é preciso molhar o local para evitar poeira, que pode ter fungos causadores de doenças. A limpeza pode ser feita com uma mistura de um litro de água sanitária e um litro de água”, recomenda. Ele ainda destaca que o extermínio de pombos é ilegal. “Matar as aves é crime, isso não deve ser feito. O controle dos pombos é feito com a correção do ambiente.”
Como afastar os riscos de doenças
– Ligue para o Centro de Controle de Zoonoses de sua cidade e fale sobre a infestação de pombos
– Mantenha as lixeiras bem fechadas e não deixe sobras de lixo expostas
– Não alimente os pombos
– Guarde o pote de comida de animais de estimação após alimentá-los
– Feche vãos de ar- condicionado, telhados e forros para evitar que os pombos façam ninhos. Para isso, use telas ou barreiras de alvenaria
– Coloque fios de náilon ou de arame esticados a 10 centímetros dos beirais de telhados para que os pombos não pousem
– Instale espículas de plástico nas superfícies em que os pombos pousam
– Limpe as fezes de pombo com uma mistura de um litro de água sanitária e um litro de água
– Proteja o rosto e a boca com uma máscara ou pano úmido ao fazer a limpeza e use luvas
Fonte: Centro de Controle de Zoonoses da Cidade de São Paulo (CCZ-SP)