Eles falaram o que não deviam

Na ânsia de explicar o inexplicável, as opiniões apressadas dos amigos de Jó não refletiram a voz divina

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Dos 42 capítulos que compõem a enigmática e surpreendente história de Jó na Bíblia, nada menos do que 34 são dedicados a longos diálogos entre Jó e seus amigos. O Texto Sagrado descreve que, depois de ouvirem sobre a tragédia que tinha atingido Jó, três homens se mobilizaram para consolá-lo: Elifaz, o temanita; Bildade, o suíta; e Zofar, o naamatita: “Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram cada um do seu lugar […] e combinaram condoer-se dele, para o consolarem” (Jó 2:11).

A intenção inicial parecia nobre: apoiar um amigo em sua dor. O resultado, porém, foi bem diferente. Ao longo dos discursos, suas palavras, carregadas de julgamento e desconfiança, não agradaram a Deus. Mas, afinal, quem eram esses homens e o que disseram de tão grave?

Pode não ser coincidência

As informações bíblicas sobre os três amigos de Jó são escassas. Sabemos apenas seus nomes e localidades de origem. Para compor a trama da série A Vida de Jó, disponível no Univer Vídeo, a autora, Cristiane Cardoso, mergulhou em genealogias bíblicas e encontrou correspondências curiosas.

“Descobrimos que eles também figuram em genealogias, como as de Quetura, esposa de Abraão após a morte de Sara, e até de Esaú. Isso abre a possibilidade de que Jó tenha vivido na época de Jacó. Inclusive, nas genealogias de Jacó aparece o nome de um neto chamado Jó. Como não há nada que confirme ou descarte essa hipótese, utilizamos essa informação para construir a juventude de Jó na série”, explica Cristiane.

A vez de Deus falar

O desfecho é revelador. Depois que todos os amigos de Jó terminam seus discursos, Deus entra em cena, repreende Jó e fala com Elifaz: “… A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não falastes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42:7). O Senhor exige sacrifícios e a oração intercessora de Jó para perdoar os amigos. Assim, o homem que foi acusado, julgado e desprezado foi o mesmo que precisou orar por aqueles que o feriram. E é justamente nesse momento que sua vida começa a ser restaurada: “E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía” (Jó 42:10).

O perigo de falar em nome de Deus

Assim como Elifaz, Zofar e Bildade, nós podemos cair na tentação de explicar a dor alheia como resultado de algum pecado. A história de Jó nos ensina que nem todo sofrimento é consequência direta do pecado pessoal, mas pode ser prova para o cumprimento de um propósito maior. Ao saber da dor alheia, o silêncio compassivo pode ser mais sábio do que mil discursos. Afinal, nem sempre compreenderemos os caminhos de Deus, mas sempre podemos escolher não falar o que não devemos.

Cristiane Cardoso resume a lição por trás da história dos amigos de Jó: “Deus repreendeu Jó, mas não o puniu. Já aos amigos, Ele advertiu severamente. (…) Não se fala contra alguém, se ora. Quem pertence a Deus será corrigido por Ele. Ao tentar resolver o que é de competência divina, nós nos colocamos em um lugar de maldição”.

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Colaborador

Núbia Onara / Fotos: Seriella Productions