Educação financeira nas escolas: presente no papel, ausente nas salas de aula

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No Brasil, há duas realidades que não podem ser dissociadas: a epidemia de endividamento e inadimplência, que se perpetua há anos, e a falta de educação financeira.

Atualmente, quase oito em cada dez famílias (76,1%) estão endividadas e mais de 70 milhões de pessoas estão com o CPF negativado, o que representa 42% da população adulta, de acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e do SPC Brasil, respectivamente.

Embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabeleça a obrigatoriedade da educação financeira na educação básica desde 2018, sua presença nas salas de aula da rede pública está longe de ser uma realidade. Há uma série de entraves que dificultam sua implementação e que, entra governo e sai governo, permanecem sem solução.

Segundo levantamentos do Instituto XP e Nova Escola, 74% dos professores acham que a educação financeira deve ser debatida nas escolas, enquanto 53% afirmam que é um assunto para todos. Porém, 59% afirmam que falta formação específica na área e quase metade (49%) diz que não tem acesso a material didático de qualidade. Diante disso, apenas 23% dos professores tratam do assunto em sala de aula.

Outra dificuldade é que a educação financeira não foi estabelecida como uma disciplina, mas como um tema transversal, ou seja, a abordagem seria feita de forma integrada a disciplinas existentes. Isso não seria um problema, caso o material didático das disciplinas existentes incluísse o tema.

Sem formação e material adequado, mais uma vez, caberia ao professor a tarefa de buscar tanto um quanto o outro por conta própria, o que, na prática, diante de tantas outras atribuições e dificuldades, torna-se inviável. Logo, apesar da exigência curricular, a educação financeira está longe de ser plenamente efetivada.

Mais obstáculos

Culturalmente, o brasileiro é levado a acreditar que os fundamentos da educação financeira – como gastar menos do que ganha, planejar compras e não usar o crédito como extensão do salário – não passam de utopia para pessoas de baixa renda.

Essa resistência cultural dificulta ainda mais a integração do tema, pois o pouco que se discute em sala de aula não encontra eco em casa. A ausência de letramento financeiro na formação dos pais se reflete nos filhos e assim o ciclo de endividamento, pobreza e dependência do Estado se mantém por muito tempo.

É preciso que a sociedade cobre dos políticos que elegeu um comprometimento maior com a educação financeira para que verdadeiramente tenhamos mais igualdade de oportunidades de Norte a Sul do País.

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Colaborador

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