Cuidado: notícias ruins viciam

Prática de procurar assuntos negativos prejudica a saúde e aumentou após a pandemia

Gastar muito tempo à procura de notícias negativas, tristes, sombrias e deprimentes é uma prática cada vez mais comum. Tanto é verdade que ela até já ganhou um nome: doomscrolling (termo em inglês que une as palavras “doom”, ruína; e “scroll”, rolar a tela, em tradução livre).

A facilidade de acesso a conteúdo cada vez mais variado – inclusive o inútil e nocivo – tem levado muita gente a uma espécie de vício em notícias ruins.

Os usuários são absorvidos pelo conteúdo negativo, querem mais, investigam comentários, pesquisas, fóruns e tudo o que for possível achar sobre o tema e isso pode tornálos ainda mais depressivos.

Isso é literalmente um vício, segundo uma pesquisa da Universidade de Tecnologia do Texas (TTU, na sigla em inglês), que comprovou que a informação consumida diariamente tem impacto em nosso pensamento, comportamento e emoções e, por isso, é tão importante a qualidade e o teor do que é lido, ouvido e visto.

A pesquisa revela que 72% das pessoas viciadas em notícias negativas têm a saúde prejudicada e que a prática aumentou desde o começo da pandemia de covid-19. Além disso, 16,5% das pessoas acompanhadas pelo estudo mostraram sinais de consumo “severamente problemático” de más notícias, o que gerou níveis maiores de estresse, ansiedade e abriu as portas para outros problemas de saúde, pois o impacto dos pensamentos é grande sobre o corpo – 61% dos entrevistados apresentaram problemas físicos decorrentes do mau estado psicológico.

Necessário, mas com limites
A Real Faculdade de Cirurgiões da Irlanda (RCSI, na sigla original) também divulgou um estudo sobre o doomscrolling, no qual afirma que a prática é o descontrole de uma função natural do organismo: ficar alerta a perigos faz parte do nosso mecanismo de sobrevivência e o hábito de consumir notícias ruins é um modo de o subconsciente reunir informações e se preparar para ameaças, uma “adrenalina” que pode viciar – e, por isso, o indivíduo tende a procurar mais notícias negativas para alimentá-la, mas a um preço alto, pois depois dela vem a negatividade que pode levar à depressão e a outros problemas.

A pesquisa irlandesa mostra que não é necessário bloquear completamente as notícias ruins, pois elas são necessárias para nos precavermos de perigos – como durante a pandemia, quando a mídia mostrava os cuidados necessários para evitar o contágio. O certo é ter o cuidado de estabelecer limites e não se deixar levar pela atração perigosa que a negatividade produz.

O estudo da RCSI enumerou dicas para evitar cair no ciclo perigoso
do doomscrolling:

Estabeleça um período diário para consumir notícias e não o ultrapasse;

Contenha o impulso de entrar em sites que exploram conteúdo negativo só para atrair usuários;

Muito importante: cuidado com o “viés de confirmação” (dar preferência inconsciente a informações que apoiam nossas crenças ou pontos de vista preexistentes). Se você está ávido por assuntos negativos, tende a procurar sites em que eles são abundantes;

Verifique as fontes, o que também serve para evitar fake news. Veja se as informações vêm de sites ou instituições dignos de crédito (confirme-as no site da própria instituição e não só em sites de terceiros que as citem). Veja se outros veículos confiáveis também falam do mesmo assunto e confronte os dados. Também resista ao impulso de ler sem filtro assuntos negativos que lhe mandem pelo WhatsApp ou similares, que muitas vezes nem têm confirmação;

Saiba lidar com as divergências. Atualmente, muitos levam suas convicções a extremos que resultam em brigas e discussões sem fim, o que também causa negatividade. Aprenda a analisar o que o outro lado diz e não enfrente o tema sem racionalizar. Aliás, mesmo tendo suas convicções, evite confrontos desnecessários e infrutíferos;

Nem sempre o negativismo vem da mídia. Ele pode vir de conversas com pessoas próximas. Quando o assunto se tornar negativo a ponto de lhe fazer mal, saiba encerrá-lo educadamente: converse sobre outra coisa ou se retire do grupo sem atritos;

Foque nas notícias positivas. Sim, elas existem, apesar de muitas vezes não exercerem o mesmo fascínio das negativas. Se você condicionar sua mente a procurar assuntos positivos, os encontrará. Aos poucos, esse comportamento virará um hábito e o ajudará a limitar o consumo do conteúdo negativo;

Compare as sensações. Avalie como você se sente antes e depois de consumir notícias e, dessa forma, entenderá como elas o afetam. Tendo consciência das emoções, fica mais fácil administrá-las. Assim você reconhece o que acontece de ruim no mundo, mas não permite que isso defina sua vida.

Deixe Deus ocupar sua mente
O Bispo Renato Cardoso cita em seu blog que “jamais houve tanta informação disponível como agora” e chama a atenção para o fato de que “você é resultado do que deixa entrar na sua mente, porque isso forma os seus pensamentos e você os usa para tomar suas decisões, que o levam a tomar atitudes”. Dessa forma, suas atitudes vão se tornando hábitos e trazendo consequências que formam a sua vida, tudo baseado no tipo de conteúdo que você está consumindo, explica ele.

E é na mente humana, ocupada pelos pensamentos que formam nosso modo de viver, que Deus nos fala, segundo o Bispo, “mas se a sua mente está ocupada com um monte de informações (inclusive as ruins), como você vai ouvir a Voz de Deus?”

A mente ocupada pelo Espírito do Criador não se deixa levar facilmente pelo negativismo, seja ele real, seja produzido artificialmente pelas notícias ruins que atraem usuários como o mel atrai moscas e as faz morrer agarradas nele.

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Colaborador

Redação / Foto: Haykirdi / Gaiamoments / Yuri Arcurs / getty images