Cristãos ou criminosos?

Entenda o que está acontecendo na Universal em Angola, que enfrenta o ódio daqueles que um dia foram ajudados pela instituição

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Existe uma linha tênue entre liberdade de expressão e discurso de ódio. O primeiro é fundamental para que a democracia exista, o outro representa a fala intolerante e perigosa. O discurso de ódio é considerado um tipo de violência verbal e sua base é o preconceito em relação a uma crença, uma etnia, um gênero ou à orientação sexual, entre outros.

Muitos dizem que respeitam a diferença, mas, na prática, não é bem assim. Por isso todos os dias nos deparamos com situações de ódio, sejam as verbalizadas, sejam as ações de violência física. Um claro exemplo são os casos em que manifestantes depredam patrimônios e o que deveria ser uma reivindicação civilizada vira um cenário de guerra.

A Universal conhece muito bem esse ódio gratuito, pois o enfrenta em seus 43 anos de existência. Recentemente, a Igreja em Angola tem se deparado com a agressividade e a rebelião de ex-pastores que lutam para expulsar os pastores brasileiros do país e exigem uma nova liderança eclesiástica.

Como tudo começou?
Os primeiros ataques começaram em novembro do ano passado quando ex-pastores – desligados da instituição por causa de seus comportamentos anticristãos – tentaram invadir uma reunião de pastores que acontecia na sede nacional da Universal, localizada em Luanda, capital de Angola. Eles estavam com um grupo de pastores que ainda estavam ligados à instituição, mas se rebelaram contra a direção. A invasão tinha o objetivo de promover a leitura de um manifesto com exigências que tentavam justificar a razão de querer o afastamento da direção em exercício.

A polícia local conseguiu controlar a invasão, porém, nos dias subsequentes, os invasores passaram a frequentar aleatoriamente as igrejas em horário de culto. Eles se sentavam no meio dos membros e em certo momento da reunião se levantavam e gritavam palavras contra a Igreja. Em um desses episódios chegaram a subir no Altar da Catedral do Morro Bento e tomaram o microfone das mãos do Bispo, como relatam testemunhas.

As agressões
Desde o começo da pandemia do Covid- 19, todas as instituições religiosas de Angola permanecem fechadas, respeitando assim o decreto governamental com medidas para a contenção da propagação do vírus no país. Entre essas instituições está a Igreja Universal, que não hesitou em atender o decreto estabelecido.

Contudo isso não impediu que os rebeldes atacassem as igrejas. No dia 22 de junho, o Pastor Israel Gonçalves, de 52 anos, brasileiro, que faz a Obra de Deus na cidade de Luanda há dois anos, conta que estava em casa quando recebeu uma ligação do Pastor responsável por cuidar da Igreja que informou que ela estava sendo atacada por um grupo de 40 homens. “Imediatamente eu e o Pastor Paschoal, que é natural de Angola, nos deslocamos para lá para ver do que se tratava. Ao chegarmos lá encontramos um grande grupo andando no salão.

Eles usavam máscaras de proteção facial, o que dificultou seu reconhecimento imediato, mas pudemos reconhecer alguns, que eram os mesmos que tinham invadido a reunião de pastores em novembro.”

Atos de Covardia
O Pastor que estava acompanhado de mais cinco missionários relata que minutos depois de chegarem ao local perceberam pelas portas principais de vidro a chegada da equipe da Televisão Pública de Angola (TPA). “Quando nos dirigimos até a porta para saber do que se tratava, o grupo se tornou muito agressivo. Eles vieram rapidamente em nossa direção aos gritos e diziam para nos afastarmos das portas, pois não iríamos impedir a entrada da equipe de reportagem. Para nos afastar das portas, eles começaram a nos empurrar, dar socos e chutes. Neste momento um deles me atingiu por cima dos óculos, no olho esquerdo, com um objeto pesado, o que me fez cair e bater o quadril, as costas e a nuca no piso.”

O Pastor relata que mesmo caído os ex-pastores seguiram com as agressões até que ele conseguiu se levantar com a ajuda de um colega e ambos se esconderam atrás do Altar da Igreja. “Fechamos as portas, sentei e percebi os cortes e o sangramento no supercílio. Como não sabíamos até onde eles iriam com aquela insanidade, tirei algumas fotos do meu rosto e mandei rapidamente para a direção da Igreja, informando o ocorrido”. O Pastor saiu pelas portas dos fundos, para atendimento hospitalar e registrou um boletim de ocorrência na esquadra, como é chamada a delegacia de polícia no país.

Repercussão na mídia
A TV local noticiou o ocorrido como sendo uma divergência interna por parte dos pastores angolanos que não aceitam mais a direção da igreja brasileira. No entanto foram omitidas completamente a invasão e as violentas agressões praticadas, que se estenderam também a outros oficiais angolanos da Igreja, que chegaram mais tarde ao local e foram também expulsos, como relata o Pastor Israel.

O Pastor relata perplexidade diante de toda a violência que sofreu, uma vez que nunca teve nenhum problema com os colegas ao longo da sua jornada na fé. “Ninguém abandona a fé de um momento para o outro. É um processo relativamente lento. Infelizmente, esses homens já estavam perdidos e só vieram manifestar o que têm em seu interior. Por outro lado, assim como Deus fez limpeza nos céus quando houve a primeira grande rebelião, Ele está fazendo uma purificação na Obra em Angola para que possamos crescer com bases mais solídas espiritualmente.”

Outros crimes
Esse mesmo grupo que tem agredido os religiosos brasileiros é suspeito de cometer graves crimes financeiros e de fraudar documentos. Para investigar a situação, parlamentares brasileiros estão perto de aprovar a criação de uma comitiva do Congresso para exigir medidas do governo angolano.

Em matéria exibida pelo Jornal da Record foram apresentados os documentos que provam a real motivação do grupo angolano, que agiria com a conivência de algumas autoridades do país africano. No documento falsificado enviado ao Banco Atlântico em Luanda, eles usam o símbolo da Universal e se intitulam como comissão de reforma. Em carta, os invasores querem ter poderes para representar a Igreja em instituições públicas e privadas. Eles ainda pedem que os cartões dos brasileiros e os serviços de internet banking sejam desativados.

O banco não aceitou a documentação suspeita, mas o grupo insistiu e enviou uma ata falsificada para supostamente provar que seus membros teriam de fato se tornado representantes legais da Universal. Os termos dos documentos só evidenciam o ódio contra os brasileiros.

O advogado angolano Ângelo dos Santos explica que ao mandar a carta para o banco eles cometeram crimes graves, segundo o Código Penal do país, como associação criminosa, falsificação de documentos, falsidade ideológica e tentativa de desvio de dinheiro.

O que dizem as autoridades?
Em entrevista ao programa Entrelinhas, do Univer Vídeo, o embaixador brasileiro em Angola, Paulino Carvalho, (foto abaixo) explica que as autoridades do país estão preocupadas com os ataques. “As autoridades angolanas com as quais tenho conversado e visitado para levar as nossas preocupações afirmam com todas as letras que isso é algo inaceitável, criminoso e que tem de ser punido.”

Indagado se a violência e o motim teriam o envolvimento dos membros angolanos, o embaixador deixa claro que a população de modo geral é muito favorável e respeita todas as igrejas, inclusive a Universal. “Não se pode dizer que a Igreja Universal é malvista. Essa informação é totalmente equivocada. A meu ver isso é um problema criado por pessoas que não fazem mais parte da Igreja, em razão de seu comportamento ético e moral inadequado no ponto de vista da própria Igreja, e que por alguma razão de vingança ou outro interesse querem prejudicar não somente a instituição como a relação de bem-querer entre brasileiros e angolanos, mas não conseguiram de modo algum”, conclui Paulino.

Também preocupado com a situação dos brasileiros no país, o presidente Jair Bolsonaro intercedeu por meio de carta encaminhada ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, solicitando aumento da proteção aos membros da Universal. A carta foi divulgada no dia 13 de julho pela rede social de Eduardo Bolsonaro, deputado federal.

Os angolanos
A Universal está em Angola desde 1992 e conta com 320 templos. A instituição sempre foi bem-aceita em todo o território africano, como relata a obreira angolana Joana Santana. Ela chegou à Igreja na época de sua inauguração e se diz contra essa reforma. “Fui curada na Universal. Aprendi a fé com um pastor brasileiro e guardo esses ensinamentos. Eu sou contra tudo isso que estão tentando fazer.”

Já o obreiro António José Fortes diz repudiar os atos que têm acontecido, principalmente a invasão da Igreja da qual ele faz parte. “É vergonhoso, é lamentável. Nós, angolanos, abraçamos os brasileiros, pois nos ensinaram o verdadeiro caminho da Palavra de Deus. Hoje podemos ser alguém nessa sociedade e ajudarmos o próximo por meio desses ensinamentos. Desejo que Deus tenha misericórdia desses homens que têm destilado o ódio”.

Apostasia da fé
O Bispo Renato Cardoso (foto abaixo) explicou durante o programa Entrelinhas que este tipo de atitude não passa da apostasia, que significa negar a fé que a pessoa mantinha anteriormente, tornarse incrédulo e rebelde. “A apostasia envolve também a rebelião contra a autoridade espiritual, como está acontecendo em Angola. E isso é porque estamos vivendo o Final dos Tempos. O apóstolo Paulo descreve em suas epístolas sobre colegas seus de fé que se tornaram inimigos da fé. A Bíblia fala que conforme o tempo passasse isso se multiplicaria, aconteceria com muito mais frequência e com impacto absurdo porque muitos vão se desviar da fé.”

O Bispo ainda ressalta que o Reino de Deus é constituído por disciplina e que quando a pessoa se converte ela se sujeita a esta disciplina.

“Não mentir, não roubar nem adulterar são coisas que se aplicam a um cristão convertido de verdade, que dirá um pastor. Ele precisa ser exemplo de conduta, pois ele está ensinando a Palavra de Deus.”

A situação em Angola acende um alerta para nós: muitos se dizem cristãos, mas suas atitudes demonstram ódio. E ainda nos traz uma questão para reflexão: é correto da parte daqueles que ensinam as Palavras do Senhor Jesus disseminar a rebeldia e a maldade?

A situação em Angola acende um alerta para nós: muitos se dizem cristãos, mas suas atitudes demonstram ódio. E ainda nos traz uma questão para reflexão: é correto da parte daqueles que ensinam as Palavras do Senhor Jesus disseminar a rebeldia e a maldade?

A situação em Angola acende um alerta para nós: muitos se dizem cristãos, mas suas atitudes demonstram ódio. E ainda nos traz uma questão para reflexão: é correto da parte daqueles que ensinam as Palavras do Senhor Jesus disseminar a rebeldia e a maldade?

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Colaborador

Maiara Máximo / Fotos: Reprodução