Crise na educação brasileira não é crise, é projeto de empobrecimento do ensino
Décadas atrás, o antropólogo e historiador Darcy Ribeiro disse: “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. Em plena era da informação e com a inteligência artificial se estabelecendo cada vez mais, a afirmação teria sido apenas um equívoco ou alguma espécie de previsão?
De acordo com o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil, 56,4% das crianças do segundo ano do ensino fundamental da rede pública de ensino não sabem ler e escrever.
Segundo os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE), em 2022, cerca de 50% dos estudantes brasileiros de 15 anos ficaram abaixo do nível básico de leitura, o que significa que não conseguem interpretar textos simples em seu próprio idioma. Já o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 93% da população acima de 15 anos é alfabetizada no País.
Para analisar o que, em um primeiro momento pode parecer uma disparidade, é preciso entender que o IBGE considera oficialmente alfabetizada a pessoa que sabe ler e escrever um bilhete simples ou uma lista de compras. Ou seja, ainda que a pessoa não produza nem compreenda algo minimamente mais elaborado do que uma lista de supermercado ou um bilhete (que pode se resumir a uma frase simples), já é o suficiente.
Da mesma forma, com níveis de exigência cada vez mais frouxos, caminha todo o resto: se as crianças abandonavam a escola ao repetirem de ano, o Estado brasileiro “resolveu” eliminar a reprovação. A evasão escolar realmente caiu, porém, levou consigo o aprendizado.
Hoje, com o sistema de progressão continuada – em que a passagem para o ano seguinte é automática –, é possível avançar um bocado ainda que o aluno não saiba quase nada, nem ao menos ler e escrever de forma minimamente adequada. A Prova Brasil, uma das avaliações obrigatórias, por exemplo, é aplicada apenas no quinto e no nono ano do ensino fundamental e no terceiro ano do ensino médio.
O sistema de avaliação de rendimento escolar do Estado de São Paulo – um dos pioneiros na implantação da progressão continuada – mostrou que, em 2019 (quando a última prova antes da pandemia foi aplicada), 69% dos alunos do nono ano do ensino fundamental tinham conhecimentos abaixo do adequado em português.
Que futuro terá um país onde sete a cada dez alunos não têm conhecimento adequado de sua própria língua? Ao que tudo indica, o projeto a que Darcy Ribeiro se referia segue de vento em popa.
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