Comportamento nas redes sociais: até onde vale a pena seguir desafios e tendências?

Muitas “brincadeiras” na internet são perigosas para os participantes. Entenda o que pode estar motivando tantas pessoas a realizá-las

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A internet dita tendências, mas muitas delas podem ser nocivas à vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Um exemplo são os desafios e modinhas perigosas que se espalham nas redes sociais e são copiados por crianças, jovens e adultos, como as dancinhas, os duetos musicais e as trolagens. Em casos extremos, essas “brincadeiras” podem causar danos severos à saúde e até a morte. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas pessoas estão participando de um desafio que se espalhou rapidamente no TikTok, um aplicativo para compartilhamento de vídeos curtos. A proposta consiste em ingerir uma colher de suplemento em pó antes do treino, mas sem diluir o produto na água. Essa prática já levou participantes para o hospital por causar problemas cardíacos. A razão para isso é que algumas substâncias incluídas no suplemento são termogênicas e aceleram o metabolismo. A ingestão excessiva e sem recomendação médica pode acelerar o coração e causar ataque cardíaco, além de complicações digestivas, como diarreia, entre outras.

Um desafio semelhante é o do sal, também popularizado no TikTok. Nele, os participantes viram um pote de sal na garganta e engolem o conteúdo. Além dos riscos de engasgar ou inalar o sal, o consumo em excesso causa aumento imediato da pressão arterial e sintomas como vômitos, sobrecarga nos rins e até convulsões.

Recentemente, uma menina da Inglaterra teve de ser submetida a uma cirurgia para a retirada de parte do intestino depois de engolir acidentalmente esferas magnéticas que perfuraram o órgão. Ela tinha usado os objetos para fazer um desafio do TikTok no qual a pessoa coloca pequenas bolas de ímãs na parte superior e inferior da língua ou na parte interna e externa da bochecha para criar a aparência de piercings. Outro desafio consiste em amarrar uma garrafa PET cheia de água no teto, balançá-la e se desviar dos possíveis golpes do objeto com os olhos vendados, correndo o risco de lesões. Em vídeos, diversas pessoas aparecem sendo golpeadas na cabeça pela garrafa.

Entre as possíveis razões para que crianças, jovens e adultos realizem os desafios estaria a busca de visibilidade. Mas vale fazer tudo para ser visto na internet? Por que uma pessoa se submete a atividades perigosas que podem colocá-la em situações, no mínimo, vexatórias? O que está por trás dessa necessidade de se expor a qualquer custo e de acompanhar as tendências lançadas em redes como o Instagram e o TikTok?

Para responder a essas perguntas, a Folha Universal conversou com a psicoterapeuta Eliana Barbosa, que afirmou que é preocupante ver tantos jovens, adultos e até crianças “perdidos” em horas vazias nas redes sociais, preocupados em aparecer e parecer “moderninhos” em vídeos que, na sua opinião, as expõem ao ridículo. “Não vejo este comportamento desencadeado por pressão social, mas por uma eterna busca de admiração e aprovação, neste caso, de likes (curtidas), o que mostra falta de autoestima e de autoconfiança. São pessoas que precisam se exibir, de um jeito ou de outro, para se sentir integradas e aceitas nas redes sociais. Tudo a ver com o ditado: ‘falem mal, mas falem de mim’. Vejo isso também como uma forma de camuflar sentimentos tóxicos que fazem parte de suas vidas”, disse.

Ela destacou que existe um limite entre o que é saudável e o que é nocivo em desafios nas redes sociais e que brincadeiras que não sejam perigosas são aceitáveis. Entretanto, quando uma pessoa precisa dessa exposição para se sentir pertencente ao mundo digital e perde a noção do ridículo, o comportamento deixa de ser saudável. Ela diz que tais atitudes chegam a ser viciantes e alerta que é aí que mora o perigo.

O bom senso deve ser desenvolvido
Eliana alerta que cabe aos pais darem o exemplo e fiscalizarem o acesso das crianças à internet. Para os jovens, o conselho é que procurem desenvolver o bom senso para discernir o que é construtivo do que é vazio e não acrescenta nada a suas vidas. “Os pais devem colocar limites para os filhos em relação à exposição na internet, principalmente quanto a essas novas redes sociais. O mais triste é que muitas crianças estão expostas a conteúdo impróprio para sua faixa etária e alguns pais nem se dão conta disso.”

Ela compartilhou um caso que ocorreu com uma criança que foi influenciada pelos desafios. “Dias atrás, eu soube de um menino de quatro anos que estava tirando a calça para os coleguinhas na escola e a avó contou que ele aprendeu isso em uma rede social e que, se deixarem, ele fica o dia todo conectado a ela, sem nenhum limite. Se os pais tentam tirar o celular dele, ele chora sem parar, como se fosse uma verdadeira crise de abstinência.”

Eliana acrescenta que cabe aos adultos bom senso na hora de avaliar se os filhos podem seguir as tendências das redes sociais e deixa um conselho aos pais para facilitar o controle: “confisquem os celulares, computadores e tablets de seus filhos quando eles forem dormir.

Pesquisas mostram que mais de 90% dos adolescentes não dormem o suficiente (eles precisam dormir de 8 a 10 horas por noite) e, a meu ver, um dos motivos é o uso destes aparelhos, horas a fio, conectados em redes sociais, sem que seus pais percebam o perigo a que eles estão expostos. Além disso, estudos confirmam que dormir pouco é um fator que pode causar depressão nos jovens. Portanto, em nome do amor que você tem pelo seu filho, coloque limite, fique atento e seja firme”.

Você quer ser notado?
Do ponto de vista espiritual, esse anseio de ser visto e curtido a qualquer custo indica o vazio da alma e a sede de Deus. Todo ser humano nasce com esse vazio e, na tentativa de preenchê-lo, muitos continuam apresentando desequilíbrios e excessos em suas vidas. A solução adotada pela maioria é encontrar alguma coisa que lhes dê ao menos uma satisfação temporária. Alguns buscam em bebidas, drogas, música, religião, trabalho, relacionamento, estudo, dinheiro, sexo, compras, internet, entre outras coisas, algo que sirva para lhes trazer alegria. O resultado é que por um período isso pode até funcionar, mas a verdade é que o vazio continua na alma.

Por isso, amigo leitor, faça uma análise sobre como está o seu interior. Talvez você esteja enfrentando problemas de autoestima, solidão ou até depressão. Saiba que Deus pode assistir você em suas aflições. Busque ajuda espiritual e cuide de seu interior. Quando estamos fortalecidos internamente, já não nos preocupamos mais com as pressões externas, com a aparência ou com a possível popularidade que tenhamos ou não, pois já fomos vistos e preenchidos por Deus.

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Colaborador

Kelly Lopes/ Foto: Getty images