Como lidar com a solidão na terceira idade?

Entenda o que é preciso fazer hoje para viver bem amanhã

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Sentir-se dolorosamente só pode ser um dos sinais da solidão. Esse sentimento angustiante, vivido por várias pessoas em diferentes faixas etárias e que independe do número de interações sociais que cada um estabeleça, vem aumentando entre pessoas idosas, segundo uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No estudo, que foi divulgado no último mês de julho e ouviu quase 8 mil pessoas acima de 50 anos, mais de 16% dos participantes disseram sempre sentir solidão e 31,7% relataram que às vezes têm essa sensação. As mulheres representam a maior parcela dos solitários, principalmente as com baixa formação escolar, as com mais de 80 anos e aquelas que avaliam a própria saúde como ruim.

Para Márcia Sena, CEO da Senior Concierge, entidade especializada no suporte a quem tem mais de 60 anos, a solidão é tão evidente na terceira idade porque as pessoas estão vivendo mais. “Diferentemente do que ocorria antigamente, elas sentem por mais tempo a falta de entes queridos que se foram ou que não têm tanto tempo para conviver com elas. A vida agitada de hoje e o fato de as mulheres ocuparem o mercado de trabalho tanto quanto os homens fazem com que toda a família esteja ocupada e sem muito tempo para dedicar aos mais velhos.”

Márcia esclarece que os idosos lideram o ranking dos quadros depressivos entre os brasileiros. “O transtorno ocorre em cerca de 13% da população brasileira que está na faixa dos 60 aos 64 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Inúmeros motivos desencadeiam a solidão e a depressão em idosos: síndrome do ninho vazio, falta de propósito, baixa autoestima, sentimentos de finitude, perdas, morte, luto e viuvez, mas entre as principais causas estão o abandono familiar e o sentimento de inutilidade causado pela pós-aposentadoria, por exemplo”, diz.

Segundo ela, pessoas idosas são mais propensas a ter patologias como Alzheimer, demência, doença de Parkinson e problemas cardiovasculares. “A sensação de solidão pode potencializar o desenvolvimento dessas enfermidades, além de estimular a ansiedade e, principalmente, a depressão. Alguns estudos sugerem que 50% dos pacientes com depressão evoluem para um quadro demencial em um período de cinco anos”, afirma.

A solidão também pode se agravar em datas festivas, como Dias dos Pais e das Mães e Natal. “São épocas de trocas afetivas, mas isso nem sempre é possível. Há casos como o de avós que não reúnem mais a família porque não conseguem mais cozinhar ou de avôs que não conseguem ir ao banheiro sem ajuda e não querem mais ir à casa dos filhos para não incomodá-los”, exemplifica.

Para lutar contra a solidão, o idoso deve se manter ativo. “Cultive amizades, seja revendo amigos do passado, seja fazendo novos aonde quer que vá. Os idosos se surpreenderão como muitas pessoas podem estar abertas a eles. Também há serviços que podem ser contratados para acompanhamento a passeios, para estímulos cognitivos, físicos e sociais. Um concierge pode visitar o idoso em dias agendados e, juntos, podem ir passear, tomar um café, ir ao cinema ou jogar cartas”, sugere.

Márcia também orienta a família a ficar atenta aos sinais de solidão e a criar oportunidades de convivência. “Estimule-os a saírem de casa, que visitem parentes e que tenham atividades. Um familiar pode chamar um táxi por aplicativo para levá-los aos locais e uma simples chamada de vídeo para que falem com os netos já é uma alegria para eles. Para quem tem dificuldades econômicas, a maioria das cidades têm centros para idosos das prefeituras com algumas opções de atividades e algumas praças têm equipamentos de exercícios para os idosos e jogos”, esclarece.

Como o jovem de hoje será o idoso de amanhã, ele também precisa se cuidar. “Pratique atividades físicas com frequência, se alimente bem, cuide da sua saúde mental, tenha boas noites de sono, faça acompanhamento médico regular, respeite os mais velhos e aprenda com a experiência de vida deles. Por outro lado, os idosos devem cultivar amizades e a relação com os familiares, cuidar da saúde, cultivar a fé e alimentar seu espírito, meditar e praticar o perdão. Vivam com leveza”, aconselha.

O envolvimento de toda a sociedade também é importante. “Há necessidade de criação de políticas públicas de mobilidade urbana, de serviços de saúde e prevenção de doenças direcionados exclusivamente aos idosos, de lazer e programas para prevenir a solidão. As entidades ligadas ao envelhecimento, tanto empresas como órgãos públicos, os cidadãos e o mundo acadêmico devem se unir para discutir e pleitear políticas para a população que está envelhecendo”, conclui.

Conheça o Calebe

Uma opção para os idosos se manterem ativos é o Grupo Calebe. “O projeto foi criado em 2009, na Inglaterra, pelo Bispo Renato Cardoso, ao perceber a falta de uma senhora que era assídua às reuniões. Ela infelizmente tinha falecido e ele não soube. Calebe é um personagem bíblico cujo maior exemplo é a perseverança, a longevidade, a determinação e a experiência. O grupo está presente em todo o território nacional e em mais de 100 países, alcançando todos os continentes”, afirma o Bispo Walter Pereira, coordenador do grupo.

Segundo ele, são realizadas mensalmente diversas atividades que resgatam o valor da pessoa idosa. “O Calebe ajuda a combater a solidão com diferentes atividades. Temos, por exemplo, o projeto artes, em que os idosos podem praticar artesanato, pintura e, além disso, interagir entre si, criar novas amizades e ele é composto por pessoas de diversas idades, pois o grupo se dedica a todos os segmentos, desde uma atividade física, com o projeto bem-estar, até o acolhimento espiritual, o avivamento e o projeto inclusivo. O Calebe é um grupo completo”, conclui o Bispo. Para ser voluntário ou membro, acesse universal.org/calebe.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: Jelena83/getty images / delihayat/getty images e Demetrio Koch