Coerência: Um ativo em falta
Uma das definições dadas para a palavra hipocrisia no dicionário é “ato ou efeito de fingir, de dissimular sua verdadeira personalidade, intenções ou sentimentos, em geral motivado pela busca de alcançar a realização de vantagens pessoais ou por medo de assumir a sua real identidade, expressando seus mais autênticos sentimentos”.
Esse tipo de comportamento, infelizmente, não é raro e pode ser encontrado em todos setores da sociedade, como em casa, no trabalho, em empresas, etc. Mas nenhum concentra o maior índice de hipocrisia do que a política, o que gera total ausência de coerência. Chega a ser engraçado – sem generalizar – comparar os discursos de antes e depois das eleições e constatar o abismo entre o que o político se comprometeu e o que ele passou a fazer.
Na prática, a política deveria ser vista como uma forma de defender o povo, que tem necessidades comuns, independentemente de cor da pele, religião, opção sexual ou mesmo visão partidária.
Todas as pessoas têm deveres, mas também direitos que devem ser respeitados e garantidos por meio de leis e projetos de leis. Mas o que temos visto são aqueles que pregam a defesa dos direitos, principalmente daqueles que se convencionou chamar de “minorias” (pobres, negros, mulheres, indígenas, LGBTQ+, etc.), desde que estes partilhem da ideologia que os primeiros defendem. O que parece é que o alvo não é o problema que essas pessoas vivem, mas sim a busca da sua própria satisfação – mesmo que mintam para si mesmos.
Um dos casos que recordamos é o Marco do Saneamento Básico. Ele foi definido no governo anterior com o objetivo claro de levar água potável e tratamento de esgoto a 99% da população brasileira. Trata-se de um benefício que impacta as classes mais pobres da sociedade. Na ocasião, todos os “defensores” desse público dentro do Parlamento e apoiadores do atual governo votaram contra. Ainda assim, o projeto passou. Esse é um tipo de pauta que deveria ser encampado por todos, independentemente da coloração partidária. A questão, que também é de saúde pública, vinha sendo empurrada com a barriga há anos por falta de empatia e vontade política. Com a definição do Marco, o segmento foi aberto para receber investimento privado, considerado essencial para alcançar as metas estabelecidas e proporcionar qualidade de vida para o povo.
Outro exemplo são as incoerências quando se trata da defesa da mulher. Sem dúvida alguma, a mulher precisa ter seus direitos respeitados, ser protegida pela lei em caso de violência e ser reconhecida como uma profissional tão qualificada quanto os homens que ocupam os mesmos cargos. Essas são pautas conhecidas do feminismo, que defende a igualdade social de direitos e inclusão. No entanto falta coerência aos partidários dessa ideologia quando apoiam que mulheres trans participem de competições femininas. Como pode ser justa a disputa entre uma pessoa que biologicamente é um homem – e se identifica com o gênero feminino – com uma mulher? Por mais que ocorram modificações físicas e consumo de hormônios, a estrutura óssea, o pulmão, o coração e muitos outros fatores biológicos tornam a competição injusta. Isso as exclui. Enxergar dessa forma parece óbvio e devia ser ponto pacífico, mas não tem sido. Existem muitos outros casos similares aos trazidos aqui nesse artigo, porém nos falta espaço.
Por fim, a coerência, segundo o dicionário, se refere à conformidade entre fatos ou ideias, ao que é próprio daquilo que tem nexo e conexão com algo, ou seja, uma atitude coerente deve ser comum a outra a que está relacionada. Nesse sentido, torna-se árdua a missão de pacificar este país quando o próprio mandatário exibe uma enxurrada de incoerências em seus gestos, atitudes e ações que confrontam flagrantemente com o que se comprometeu ali atrás. O Brasil segue muito polarizado e é dever dos agentes públicos, além de serem transparentes e terem espírito público e zelo com o erário, reverem seus posicionamentos se desejam pacificar este país que saiu das últimas eleições tão fragilizado. Porque o melhor do Brasil são todos os brasileiros, que merecem respeito e consideração de forma igualitária.
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