Casais diferentes, escolhas diferentes

A decisão de ter ou não ter filhos é particular e envolve vários fatores. Saiba como o planejamento familiar pode ajudar casais a concretizar seus objetivos e conheça a história de quatro famílias que escolheram caminhos distintos

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Marcar a data do casamento, poupar dinheiro para a casa própria, organizar as finanças e combinar as regras do novo lar. Estas são algumas prioridades de casais que estão prestes a oficializar a união.

Mas, nos últimos anos, outro assunto também vem ganhando a atenção de homens e mulheres: o planejamento familiar. Se na década de 1960 o número de filhos ultrapassava seis, hoje os casais estão pensando mais sobre a possibilidade de ter ou não ter filhos e utilizando métodos contraceptivos para evitar a gravidez indesejada.

Menos filhos

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que os brasileiros estão planejando melhor a chegada dos bebês. Em 2014, uma em cada cinco famílias brasileiras já era formada por casal sem filhos. Nesse mesmo ano, o número de filhos por mulher ficou em 1,74, contra 2,14 registrados em 2004. Apesar da diminuição do número de filhos, a taxa de fecundidade ainda continua alta entre as jovens de 15 a 19 anos – ela é de 60,5 filhos por mil mulheres. O número está acima do de regiões mais desenvolvidas, como a Europa, onde a taxa de fecundidade é de 16,2 filhos nascidos vivos para cada mil jovens entre 15 e 19 anos. É um direito

O planejamento familiar é um direito assegurado pela Constituição Federal e também pela Lei n° 9.263, de 1996. Ele inclui uma série de ações para ajudar as pessoas que pretendem ter filhos e também as que não desejam ampliar a família. Desde 2007, a Política Nacional de Planejamento Familiar inclui orientação, atendimento médico e oferta de métodos contraceptivos gratuitos, além da venda de anticoncepcionais a preços reduzidos na rede Farmácia Popular.

Mulheres em idade fértil (de 10 a 49 anos de idade) têm acesso a anticoncepcionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Contudo, é importante comparecer a uma consulta prévia com profissionais de saúde. Segundo o site do Ministério da Saúde, o planejamento familiar pode garantir mais qualidade de vida aos casais, além de contribuir com a queda do número de abortos inseguros e com a diminuição da mortalidade materna. Outro ponto positivo é a redução do número de adolescentes grávidas.

Chegada adiada

O casal de administradores Patrícia e Roberto Gallo, ambos de 45 anos, (foto acima) é um exemplo de bom planejamento familiar. Juntos há duas décadas, eles decidiram ter a primeira filha seis anos depois do casamento. “Queria ter filhos só depois dos 30 anos de idade. Casamos depois que me formei em administração, compramos o apartamento, trabalhamos muito e viajamos bastante. O Roberto também investiu na carreira, fez pós-graduação. Viajávamos a cada seis meses, fomos para o exterior, conhecemos o Nordeste e o Sul do País”, conta Patrícia.

A primeira filha, Beatriz, hoje com 14 anos, nasceu quando o casal já tinha estabilidade financeira. “Sempre planejamos isso, porque é muito caro ter um filho. E não queríamos uma criança para deixar o tempo todo na escola”, diz Patrícia. O segundo filho, Nathan, nasceu dois anos depois. Patrícia destaca que o planejamento permitiu que o casal continuasse com a mesma qualidade de vida. “O plano familiar faz diferença. Quando você combina tudo certinho, as coisas fluem normalmente, sem muito estresse”, afirma.
Foi por causa do planejamento que ela decidiu fazer a cirurgia de ligadura de trompas, há 12 anos. “Após o nascimento do Nathan, fiz a laqueadura para evitar uma gravidez indesejada. Não tive nenhum problema na cirurgia, a recuperação foi rápida, não houve nenhuma alteração. Não queríamos ter mais filhos, então a laqueadura foi a melhor opção”, explica. Como planejar?

A escolha do método contraceptivo deve ser feita pelo casal, levando em conta os prós e contras de cada opção. Além disso, deve-se considerar a saúde do homem e da mulher, além de hábitos e planos traçados pela família.

Atualmente, existem diversos tipos de métodos, como os naturais (medição da temperatura corporal da mulher, observação do muco cervical), os hormonais (pílula, anticoncepcional injetável, adesivo), os de barreira (camisinha, DIU) e os definitivos (vasectomia e laqueadura). A camisinha, tanto a masculina quanto a feminina, é o único método que também protege contra doenças sexualmente transmissíveis. Nenhum método é considerado 100% seguro, embora alguns apresentem mais risco de falha, como os naturais. Já as cirurgias de vasectomia e laqueadura só podem ser feitas por pessoas com mais de 25 anos ou com dois filhos vivos, segundo a lei. Os dois procedimentos também são oferecidos pela rede pública de saúde.

A ginecologista Mariana Rosário, da rede de centros médicos dr. consulta, explica que é importante procurar um médico e passar por exames. “Quando a paciente vai casar, nós orientamos que ela faça sorologia, exames hormonais e de ultrassom para verificar se há algum problema. A partir disso, ela pode iniciar o método que traga o melhor resultado”, diz.

Ela lembra que o uso de pílulas anticoncepcionais deve ser acompanhado por um médico. “No caso da pílula, a mulher precisa verificar o risco de trombose. Todos os anticoncepcionais têm risco nesse sentido, porque a trombose está relacionada ao componenteestrogênico”, relata.

A médica ainda destaca que existem métodos mais duradouros para casais que não pretendem ter filhos tão cedo. “Se o casal não quer ter filhos, nós costumamos propor o DIU, um implante que fica por três anos, ou o DIU hormonal, que fica por cinco anos. Há também a laqueadura, que é um método definitivo. Nesse caso, é preciso ter certeza absoluta, pois a reversão é mais complicada”, esclarece, sobre os métodos indicados para mulheres. Família de dois

Eugenio Oruê, de 39 anos, (foto ao lado) que é pastor da Universal, e sua esposa, Claudia Roberta da Silva Oruê, de 36 anos, estão casados há 14 anos. Eles fazem parte da parcela de 20% das famílias brasileiras que não tem filhos. A decisão foi tomada durante o namoro. “Casamento é para o resto da vida, então, o casal precisa pensar em todos os anos que virão, os objetivos para cada ano, os projetos”, diz Claudia, que tem três irmãos.

“Eu venho de uma família de seis irmãos. Não era fácil, a renda do meu pai era mínima, nós não tínhamos muita condição financeira. Eu não queria colocar mais uma criança na sociedade, mas ajudar a quem precisa. Nós sempre procuramos ajudar outras pessoas, é como se fossem nossos filhos”, complementa o pastor, que entrou na Obra da Universal há 12 anos.

No início da união, eles optaram por usar a injeção anticoncepcional para evitar uma gravidez indesejada. Depois de três anos, o casal mudou de método. “Vimos que o DIU (dispositivo intra-uterino) era um método mais seguro, pois os hormônios da injeção podem ser prejudiciais para a saúde. Sem contar que antes eu tinha que ir à farmácia todo mês. Uso DIU há 11 anos e estou muito satisfeita, me sinto muito bem”, diz Claudia.

Ela conta que os dois já enfrentaram questionamentos de outras pessoas sobre a escolha de não ter filhos. “Uma família completa vai muito além de ter um filho. O segredo é o casal se dar bem, ter propósitos em comum”, defende. “Não está escrito em lugar nenhum, não existe uma lei que diga ‘case e tenha filhos’. Filhos não garantem felicidade ao casal”, completa o pastor.

Motivo de alegria

Já o pastor da Universal Eduardo Romualdo da Silva, de 40 anos, e sua esposa, Maria Aparecida de Sousa Romualdo da Silva, de 43 anos, (foto ao lado) sempre desejaram ter filhos. “Minha esposa e eu sempre comungamos desse pensamento. A chegada da Rayssa foi motivo de alegria e nos deu bastante força e base para cumprir o chamado de Deus em nossa vida”, explica o pastor, sobre o nascimento da primogênita, que hoje tem 20 anos.

Após a primeira filha, o casal adotou o uso de pílula anticoncepcional. Maria Aparecida ficou grávida da caçula Aline, de 17 anos, depois da interrupção do medicamento. “A Aline veio em outro momento muito importante de nossa vida. Ela e Rayssa aprenderam a fazer companhia uma à outra, uma ajudou no crescimento da outra. Elas nos ajudaram também”, conta o pastor.

Maria Aparecida fez laqueadura para manter os planos do casal. “A meta era ter duas filhas e paramos por aí. Acreditávamos que os filhos viriam como uma soma ao nosso trabalho na Obra e foi o que aconteceu. Orientamos muitos pais com a experiência do nosso dia a dia. Hoje colhemos frutos da nossa decisão, é muito bom. A paciência e o diálogo com Deus trazem excelentes resultados”, comemora o pastor.

Sem surpresas

Ter filhos também estava nos planos do casal de empreendedores Élida Ferreira de Aragão, de 30 anos, e Fabiano Batista dos Santos, de 35 anos.(foto ao lado) Entretanto, eles optaram pelo uso de pílula anticoncepcional para evitar uma gravidez no início da união.

“Tomei a pílula por quatro anos, mas ela começou a me fazer mal. Eu tinha dor de cabeça, queda de cabelos. Durante a troca de anticoncepcional, engravidei do meu primeiro filho”, diz ela, sobre a gestação de Kauan, de 11 anos. Élida voltou a tomar anticoncepcionais, mas, durante outra troca de pílula, ficou grávida de Gustavo, que hoje tem 7 anos. “Depois do Gustavo, nós não queríamos mais filhos. A ginecologista recomendou colocar o DIU, mas meu corpo expeliu o dispositivo duas vezes”, explica Élida.

Decididos a não ampliar a família, o casal procurou outro procedimento. “Não queríamos mais futuras surpresas. O mais complicado de ter filhos é a educação e a parte financeira. A vasectomia foi a maneira mais prática e rápida que encontramos de evitar outra gravidez”, lembra Fabiano, que fez vasectomia aos 27 anos. “Muitos homens têm medo, mas a vasectomia não muda nada. Foi supertranquilo, rápido, saí andando do consultório”, completa.

Decisão definitiva

O médico urologista Ezer Melo, que atua no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, esclarece que, assim como a laqueadura, a vasectomia é um método definitivo. Ou seja, os casais devem ter certeza da decisão. “A vasectomia tem como objetivo a esterilização permanente. Até é possível revertê-la, mas a cirurgia é complexa e nem sempre consegue-se o resultado esperado.”

Apesar disso, ele afirma que a cirurgia é uma boa opção para casais que não desejam ampliar a família. “A maioria das vasectomias é feita no próprio consultório, com anestesia local, e dura de 30 a 40 minutos, no máximo”, explica ele, que é mestre em Urologia pela USP.

Entretanto, o casal deve esperar o resultado de um exame chamado espermograma para ter certeza de que a cirurgia atingiu o objetivo. “Só depois de um ou dois meses é possível zerar o número de espermatozoides no esperma”, alerta.

Fé x Filhos

Contrariando a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a importância do planejamento familiar, muitos religiosos se opõem ao uso de métodos contraceptivos. Em 2008, por exemplo, a Arquidiocese de Olinda (PE), uma instituição católica, entrou na Justiça para impedir a distribuição da pílula do dia seguinte (anticoncepcional de emergência) na cidade. O então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criticou a atitude. “A prefeitura está correta e a Igreja está equivocada mais uma vez. A prefeitura está fazendo uma coisa que está dentro do protocolo do Ministério da Saúde. Aí é uma questão de saúde publica e não religiosa”, disse, na ocasião, ao jornal Folha de S. Paulo.

Já o Bispo Edir Macedo, da Universal, destaca que ter fé é mais um motivo para realizar o planejamento familiar. Em seu blog, ele contou que sua esposa, Ester Bezerra, e ele adotaram métodos contraceptivos no início da união. Após testar o anticoncepcional hormonal sem sucesso, o Bispo revelou que o casal decidiu
usar camisinha.

“Por que fiz isto? Porque não reunia condições econômicas para ter filhos. Foi uma questão de fé. Não perguntei a ninguém se era ou não pecado. Simplesmente usei minha convicção pessoal para decidir o que fazer. A fé inteligente nos faz decidir, com firmeza e segurança, o que é melhor”, escreveu ele, em texto publicado em 2009.

Sem filhos

Em um relacionamento com o educador Stedman Graham há três décadas, a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, de 62 anos, nunca quis ter filhos. “Eu nunca tive filhos, nunca pensei que teria filhos. Mas agora eu tenho 152 filhas e espero ter mais 75 no próximo ano”, disse certa vez ao jornal Huffington Post, referindo-se à escola para garotas que fundou na África do Sul.

Decisão

Casado há mais de 30 anos, Jay Leno, comediante e ex-apresentador do programa norte-americano The Tonight Show, também não quis ter filhos. Sua esposa, Mavis Leno, disse ao L.A. Times, em 2009, que a decisão de não ter filhos foi tomada ainda na juventude.

Na ponta do lápis

Em meio ao sonho de ampliar a família, muitos pais se esquecem de organizar o orçamento doméstico para a chegada do bebê. O educador financeiro de famílias e empresas Pedro Braggio (foto abaixo) destaca que esse planejamento deve ser feito antes do casamento. “Se o casal quer ter filhos, isso precisa estar previsto, até porque custa muito caro ter um bebê”, salienta.

Segundo ele, o ideal é ajustar as contas dois anos antes da chegada da criança. “Os pais devem analisar o orçamento doméstico, cortar gastos desnecessários e começar a investir de 5% a 7% da renda mensal”, explica. Sua sugestão é a compra de títulos do tesouro direito, que rendem mais do que a poupança. Com o nascimento do bebê, a porcentagem da renda destinada ao filho pode subir para 15%. Os pais também devem pensar em todos os gastos relacionados ao filho, como despesas com saúde, educação e vestuário. “O ideal é reavaliar o orçamento familiar de três em três meses para não ser pego de surpresa no futuro”, ensina. Ele acrescenta que a educação financeira deve estar presente na vida dos filhos desde a infância.

Quer aprender mais sobre a relação entre pais e filhos? Participe da Transformação Total de Pais e Filhos, que acontece todos os domingos, às 18h, no Templo de Salomão.

Colaboraram: Débora Gagliardi, Débora Vieira e Ivonete Soares

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Colaborador

Por Rê Campbell / Fotos: Demetrio Koch, Marcelo Alves e Cedida