Até quando o Brasil terá tantos analfabetos?

Não saber ler e escrever, assim como não saber interpretar o que é lido, alimenta cada vez mais os tristes índices sociais e torna a população presa fácil para os maus políticos

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A taxa de analfabetismo no Brasil passou de 6,8% em 2018 para 6,6% em 2019, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação mais recente. A queda, apesar de ter seu mérito, não soa tão animadora quando é observado que o País ainda tem cerca de 11 milhões de analfabetos – pessoas de 15 anos ou mais incapazes de ler e escrever até um simples bilhete, de acordo com os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O analfabetismo está concentrado entre as pessoas mais velhas (18% das com 60 anos ou mais), pois os mais jovens são considerados mais escolarizados atualmente. Todavia um grande número de pessoas na escola não significa bom nível educacional.

A educação no Brasil é, historicamente, sucateada para quase toda a população e boa apenas para uma minúscula elite. Assim, sofrem aqueles cujos pais não puderam pagar boas escolas de base, enquanto pessoas de alto poder aquisitivo pagam por bons estudos para os filhos e eles entram nas melhores universidades do País: as públicas, justamente as financiadas com o dinheiro de todos os contribuintes e que, na teoria, deveriam servir toda a população. Quem não pode estudar em escolas particulares desde cedo, caso consiga concluir o ensino médio e entrar em uma faculdade, será naquela instituição particular barata e de baixo nível. Isso perpetua o analfabetismo funcional, pois há muitos diplomados que, como não são capazes de ler e escrever direito, não podem ser profissionais bons e confiáveis. De fato, o número de pessoas com ensino superior completo e desempregadas cresce cada vez mais, inclusive pela falta de capacidade técnica.

A realidade de muitas faculdades particulares de baixa qualidade continua sendo a de “afrouxar” o vestibular para que qualquer um sem uma boa base possa se matricular e pagar mensalidades, que é só o que interessa a elas. Assim um lado finge que ensina enquanto o outro se ilude que aprende e seus diplomas não passam de papel sem valia.

Outro ponto alarmante é que muitas escolas de nível fundamental e médio – públicas e particulares menos caras – se preocupam mais em passar os alunos de ano do que em aferir se eles realmente aprenderam o conteúdo. Dessa forma, surgem mais e mais analfabetos funcionais no mercado, o que empobrece a qualidade profissional e criativa dos brasileiros.

Mais desigualdade
Mas, voltando à Pnad, os dados mostram que, além das diferenças etárias, também existem desigualdades raciais e regionais na alfabetização brasileira. A taxa de analfabetismo entre os brancos é de 3,6% entre quem tem 15 anos ou mais. Já entre os pretos e pardos da mesma faixa etária o índice é de 8,9%. Entre os com 60 anos ou mais a diferença é ainda mais gritante: enquanto 9,5% dos brancos não sabem ler ou escrever, entre os pretos e pardos o índice chega aos 27,1%.

O Sul e o Sudeste brasileiros têm a menor taxa de analfabetismo, revela a Pnad: 3,3% entre os de 15 anos ou mais. Na região Centro-Oeste a taxa é 4,9%; na Norte, 7,6%; e a Nordeste apresenta o maior percentual de analfabetos do País, 13,9%, que equivale a 6,2 milhões de pessoas.

Números mais alarmantes
A taxa de analfabetismo parece baixa, mas 29% da população brasileira que tem entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional, ou seja, apesar de reconhecer letras e números, é incapaz de compreender textos simples ou fazer operações matemáticas além das básicas.

Dados do último levantamento realizado pela pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) são ainda piores e apontam que cerca de 73% dos brasileiros entre 15 e 49 anos são analfabetos funcionais. Se três em cada quatro pessoas não sabem usar letras e números para seu desenvolvimento pessoal e profissional, a situação do País é muito mais grave do que muitos imaginam.

Mais da metade das crianças (55,4%) também é considerada analfabeta funcional, de acordo com a Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, a chamada Prova ABC. E, em vez de se buscar uma forma de resolver esse problema, elas seguem “passando de ano” rumo a um mundo que não serão capazes de compreender.

Não saber interpretar textos também significa ter dificuldade em interpretar o que se ouve.

Essas pessoas simplesmente são incapazes de entender a mensagem que foi transmitida. Consequentemente, são incapazes de interpretar as propostas e intenções dos candidatos a cargos públicos. Isso contribui para que o debate seja feito com base na emoção, em vez de se discutir propostas sérias. E é exatamente o que muitos políticos querem usar para se perpetuar no poder. Em um país de analfabetos é bem mais fácil para os maus políticos “engambelarem” o eleitor incauto e seguirem sucateando a educação em benefício próprio, em um letal círculo vicioso. Cabe aos bem instruídos e informados analisarem melhor as propostas de candidatos que realmente priorizem a educação e cobrar resultados deles.

Outros “analfabetos”
Mas há um tipo de “analfabeto” ainda pior: aquele que sabe ler bem, mas escolhe se alienar e deixa para outros a escolha do destino do País. Também entram nesse time aqueles que, apesar de bem alfabetizados, não se interessam por boa leitura em geral. Esses foram bem definidos pelo poeta brasileiro Mário Quintana (1906-1994): “o verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê”.

Pegando carona no pensamento de Quintana, podemos citar também outro tipo de alienado que põe em perigo o desenvolvimento do País: o “analfabeto espiritual”. Ele é aquele que, apesar de saber ler e ter acesso à Bíblia, não A lê e, consequentemente, não aplica os ensinamentos contidos nela à sua vida e se torna presa fácil das maldições pessoais e sociais que fazem o País piorar cada vez mais.

Para quem ainda não entendeu, alfabetizado ou não, o compromisso com Deus está intimamente ligado ao compromisso social e isso vale para quem vota e para quem é eleito.

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Redação / Foto: getty images