As mil faces da mágoa
Aprenda a diagnosticar a mágoa que existe dentro de você e se liberte do que o mantém preso ao mal que lhe fizeram
Em qualquer relacionamento, a mágoa pode surgir por conta de palavras mal colocadas ou de atitudes ruins. E, com a comunicação intensa de hoje em dia, as chances de ocorrerem mal-entendidos que a provocam aumentam ainda mais. Magoar significa machucar, causar dor, mas viver em sociedade implica em sermos testados a todo momento em nossa capacidade de perdoar, relevar e entender que erramos uns com os outros. E, se perdoar gera paz, não perdoar causa situações catastróficas. Quantos crimes já foram motivados pela mágoa? Quantas maldades foram semeadas pelo rancor que uma pessoa sentia pela outra? Quantos relacionamentos se desfizeram em razão do ressentimento?
Diversos rótulos
A mágoa pode se manifestar de diversas maneiras. Muitos sentimentos não passam de mágoas disfarçadas com outros rótulos, mas com o mesmo conteúdo (como você poderá conferir no vocabulário do magoado na página 19). E, por não conseguir identificar a mágoa, muitas pessoas a nutrem dentro de si. Para elas, não se trata desse sentimento, mas de qualquer outro que acreditam que têm direito de sentir.
Faz mal à saúde
Não é de hoje que a Ciência estuda os efeitos nocivos da mágoa, que vão desde prejuízos à saúde cardiovascular até transtornos como ansiedade, síndrome do pânico e depressão. Apesar disso, perdoar é difícil para algumas pessoas porque o perdão é associado a aceitar ou minimizar o que aconteceu, quando, na verdade, é se livrar da dor emocional que o outro causou.
Quem não dá também não recebe
Algumas pessoas preferem manter a mágoa e cuidam dela como se fosse um animal de estimação, porque acreditam que é justo senti-la depois do que sofreram. É como se essa mágoa as protegesse. Contudo elas não percebem que estão se prejudicando, pois esse sentimento as impede de também serem perdoadas. Basta lembrar da oração Pai-Nosso que nos ensina que, da mesma forma que perdoarmos seremos perdoados. Como errar é humano, o que mais precisamos constantemente é de perdão. Por isso, não é inteligente impedir o perdão Divino.
Aprenda a identificar
Na ilustração abaixo você pode conferir como nossas escolhas podem ser influenciadas negativamente pela mágoa e nos conduzir a uma vida carregada do peso da amargura ou, se escolhermos perdoar, viveremos uma vida mais leve e feliz.
Passei um ano obcecada por vingança, sem dormir e ouvindo a voz do meu filho me chamando
Na manhã de 5 de abril de 2020, recebi a notícia do assassinato do meu filho Rafael, de 25 anos. Segundo relatos das pessoas que tentaram ajudá-lo após ser baleado, ele manteve a calma, deitou-se no chão, olhou para o céu e começou a orar.
Eu me sentia culpada por achar que deveria ter orado mais, já que ele estava afastado da Presença de Deus, estado mais presente e lhe dado mais conselhos. Eu pensava até que, se não tivesse mudado da Bahia para São Paulo com ele e o irmão, depois que me separei do pai deles, isso não teria acontecido.
Todos os dias após o trabalho, eu ia ao local onde meu filho foi assassinado, sentava ali e questionava a Deus por que Ele permitiu aquilo. Entrei em depressão, perdi o emprego, me trancava no quarto e não cuidava de mim, tampouco dos meus outros dois filhos e do meu marido.Tentei o suicídio e fui levada a psicólogos e psiquiatras, que prescreveram remédios controlados. Sem perspectiva, desejava a minha morte e a de quem matou meu filho. Eu pensava: “Eu tenho que achar quem foi, porque, se eu estou sofrendo, a mãe dessa pessoa também tem que sofrer”. Passei um ano obcecada por vingança, sem dormir e ouvindo a voz do meu filho me chamando.
Meu filho Rodrigo tinha 20 anos, já frequentava a Universal e me pediu que fosse à Igreja e conversasse com o Pastor. Mas, apesar de há 20 anos frequentar outra denominação, com o ocorrido eu dizia que não queria mais saber de Deus, nem de igreja, porque eles não salvaram o meu filho. Porém, decidi ir por desencargo de consciência, já que meu filho pediu. O Pastor orou por mim e ali manifestei com espíritos malignos que confessaram não terem conseguido levar a alma do Rafael, mas que levariam a minha porque me faziam sentir culpa.
A partir daquele dia, passei a frequentar a Universal, mas durante meses eu sempre passava mal durante as reuniões e sabia que precisava perdoar para me libertar daquela dor. Até que um dia, eu já não aguentava mais e fiz uma oração sincera: ‘Olha, Deus, não quero, mas preciso perdoar quem matou meu filho porque isso está me matando dia após dia e eu não aguento mais sentir isso’. Na hora senti um peso saindo.
Perdão é uma escolha, não é um sentimento, e eu tomei essa decisão, foi quando eu recebi o Espírito Santo. Até meu semblante mudou. Antes, as pessoas viam raiva, revolta e tristeza em mim, mas, graças ao Espírito Santo, agora tenho paz e alegria. Lembro-me do meu filho e não sinto dor, apenas saudade dos bons momentos. Hoje ajudo outras mães, pois só o Espírito Santo cura essa dor. Não conheci o assassino, mas orei liberando o perdão a ele e peço a Deus que essa alma seja salva.
Lindiana Carvalho, de 44 anos, ajudante geral
Saiba mais
Leia as demais matérias dessa e de outras edições da Folha Universal, clicando aqui. Confira também os seus conteúdos no perfil @folhauniversal no Instagram.
Folha Universal, informações para a vida!