A urgência das escolas abertas

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As escolas de todo País foram fechadas em março de 2020, em razão da pandemia de Covid-19. Quinze meses depois, muitos Estados e cidades ainda não retomaram as atividades escolares de forma contínua. As consequências do fechamento prolongado das instituições de ensino são inúmeras e muito preocupantes.
Aulas presenciais são essenciais num País onde há dificuldade de acesso à internet e falta de poder aquisitivo para a compra de dispositivos eletrônicos. Ainda que os pais tentem ajudar seus filhos nas tarefas escolares em casa, há muitos outros entraves, como a falta de conhecimento sobre o tema de estudo ou indisponibilidade por estarem ocupados com os afazeres de trabalho e doméstico.

É importante lembrar também que as crianças e adolescentes que não estão na escola, mas que têm pais que trabalham fora, frequentemente são deixadas sozinhas em casa ou sob os cuidados de terceiros, o que tem aumentado o risco de acidentes domésticos e comportamentos de risco, como violência física, sexual e uso de drogas e álcool. Há que se considerar que muitas crianças têm na escola o acesso garantido à sua única refeição diária.

A escola é o ambiente em que as crianças e adolescentes convivem, estabelecem relações e desenvolvem as habilidades básicas, como empatia, respeito ao próximo e solidariedade. O afastamento desse convívio, associado ao uso demasiado de telas, tem contribuído para uma pandemia oculta de depressão, suicídio e automutilação.

O fechamento prolongado das escolas tem reflexos diretos no aumento das taxas de evasão escolar, o que é um tremendo retrocesso. Só em 2020 tivemos 5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros fora da escola, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ao não frequentarem aulas presenciais, crianças e adolescentes, principalmente os mais vulneráveis, se sentem desestimulados e desistem de seus estudos para sempre. As consequências são desastrosas, pois colocam toda uma geração em risco, levando jovens e crianças às ruas para a realização de trabalho infantil, quando podem ser facilmente aliciados pela criminalidade ou ainda se tornarem reféns das drogas e da exploração sexual infantil.

Diante de todos esses problemas, precisamos questionar o fechamento tão prolongado das escolas. Inúmeras pesquisas demonstram que a Covid-19 é muito menos frequente em crianças e elas representam pouco mais de 14% dos casos confirmados, apesar de corresponderem a 24% da população mundial, sendo que 90% dos casos são de assintomáticos. Estudos científicos comprovam que a chance de uma criança transmitir a doença para seus pais é muito menor do que dos seus pais transmitirem para elas. O funcionamento das escolas não aumenta a taxa de transmissão da Covid-19, conforme estudos do governo de São Paulo e da Unicef. Diante disso, a volta às aulas presenciais é medida necessária e urgente para que possamos salvar toda uma geração. Temos que agir hoje, para proteger não só o presente, como também o futuro de nossas crianças, adolescentes e famílias.

Isabel Quintella, Lana Romani, Vera Vidigal e Virginia Maluf

Escolas Abertas é uma associação civil, de pais e mães voluntários, de escolas públicas e privadas, em todo o Brasil, que luta pelos direitos à educação e à saúde das crianças e adolescentes. Instagram: @escolas.abertas

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Colaborador

Redação / Foto: Getty images