A transformação de vida que parecia impossível

Os pais de Mara Júlia não desistiram de lutar pela filha, que passou a infância e a adolescência em meio a conflitos pessoais, ao uso de drogas, à prostituição, em aventuras inconsequentes e em passagens por unidades socioeducativas

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Mara Júlia Belisario, de 18 anos, deixava os pais, Edgard Daniel Belisario e Maria Luziara Belisario, sempre muito preocupados. “Ela foi expulsa com 5 anos da escola por ter agredido uma aluna muito mais nova. Como esse problema era recorrente na unidade, a direção, pressionada por outros pais, decidiu desligá-la, mesmo sendo particular. Ela também foi expulsa de três escolas da rede pública”, recorda Edgard. Mara Júlia diz que “todas as expulsões foram por rebeldia e comportamento agressivo, entre outras ações. Eu tinha muita ‘sorte’, pois professores e diretores sempre tentavam me ajudar, mas depois eu os decepcionava com mais problemas”.

Ela conta que tinha pensamentos de morte e se mutilava para preencher algo que faltava. “Era uma dor, um vazio muito grande. Não sei explicar. Eu era movida por pensamentos, vozes, não sei bem, mas sei que sempre depois das minhas ações, que decepcionavam pessoas que me amavam e me ajudavam, eu sentia culpa, mas não mudava. Eu era um caso perdido. Fiz mal a muitas pessoas e fiz muitos inimigos. Não gosto nem de lembrar”, afirma.

PERIGOS
Mara Júlia conheceu os vícios quando passou por abrigos e pelas ruas do Rio de Janeiro, cidade onde mora. “Usei cigarro, bebidas, maconha, lança-perfume, solvente, ecstasy e crack. Por causa da dependência de drogas, comecei com furtos e depois roubos nas ruas e nos comércios. Na busca incansável pelo dinheiro para usar drogas, comecei a me prostituir aos 13 anos.”

PREOCUPAÇÕES
Os pais acordavam com a luz do giroflex da polícia. Outras vezes ligavam a TV para assistir ao jornal e se deparavam com a notícia de que a filha tinha sido detida. “Era só sofrimento”, diz Edgard. Ele conta que Mara Júlia foi presa três vezes por roubo e furto. A primeira reclusão durou seis meses. “Ela se envolveu em um relacionamento com outra menina e tatuou o nome da menina no braço”, menciona Edgard. Na segunda vez, a reclusão durou um mês. Na terceira, ela ficou dois meses no local e fugiu.

“Para nós, a situação mais marcante foi quando, sob efeito de drogas, Mara Júlia manteve relações sexuais com aproximadamente 30 homens em um barraco de uma comunidade. Passamos pelo constrangimento de irmos à delegacia e ao hospital para fazer uma bateria de exames, coquetel anti-HIV e medicação para não engravidar”, relembra Edgard.

Mara Júlia diz que não encontrava forças para vencer e mudar. Ela engravidou e, três dias depois do nascimento do bebê, a Justiça determinou que ela não poderia ficar com a criança. “Me doía muito ver minha família sofrendo, mas era algo mais forte do que eu. Minha ajuda veio do Altar.”

Os pais de Mara Júlia chegaram à Universal há sete anos, tempo que coincide com os propósitos de Fé e orações que fizeram por ela. Eles contam que lutaram 14 anos para a transformação de vida dela: sete deles sem Deus e os outros sete com Ele. As tentativas de ajuda vieram de todos os lados: do conselho tutelar, da defensoria pública e do sistema prisional. Seguindo o conselho de uma juíza, seus pais fizeram um plano funerário.

“Os anos sem Deus foram difíceis, já não víamos saída e ficávamos desesperados, mas, com a Fé, os outros anos foram diferentes, pois a Fé nos fortaleceu e nos amadureceu. Chegamos a um nível em que aprendemos a confiar somente em Deus. Decidimos crer de corpo, alma e espírito e nos lançamos totalmente. A mudança dela era realmente impossível aos olhos dos juízes, delegados, assistentes sociais, psicólogos, professores, diretores, parentes, amigos e familiares, mas a Fé nos fez enxergar o que ninguém via ou viu e nos trouxe a certeza de que tudo daria certo”, diz Edgard.

TRANSFORMAÇÃO
Depois de seus pais lutarem tanto por ela, Mara Júlia decidiu ir à Universal no bairro Anil, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ela se libertou e cita que a corrente de cura dos vícios foi fundamental para sua transformação. “Decidi mudar e, pela primeira vez na vida, me senti dona das minhas decisões e vontades. Nasceu em mim uma gratidão imensa pelo que Deus fez na minha vida em tão pouco tempo que nem se eu vivesse mil anos pagaria tamanho amor. Decidi me entregar a Ele e, em poucos dias, Ele mudou minha história, me restituiu coisas perdidas. Hoje não me vejo distante deste Deus por nada. Tudo mudou: pensamentos, vontades, desejos e sonhos.”

Ela menciona que a maior experiência que teve com o Deus do impossível foi ter a família de volta. “Para mim, eles nunca voltariam a me amar, em razão das coisas que fiz, mas a mudança que está acontecendo começou dentro de mim. O meu maior desejo hoje é ter o Espírito de Deus, pois aprendi que só com Ele isso será eterno.”

Edgard afirma que a verdadeira Fé chama a atenção de Deus. “É à medida que as coisas vão piorando e quando parece que não tem mais jeito que precisamos aumentar ainda mais nossa Fé e crer. Quando todos não veem mais jeito, é que Deus vem e mostra Sua glória, mas, antes de ver a glória dEle, temos que mostrar nossa Fé”, finaliza.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: Arquivo pessoal