A sociedade e o futuro

É inegável que cada nova geração traz consigo diferentes mudanças para a sociedade. Algumas benéficas e outras acabam servindo apenas como aprendizado, mas cada uma dessas mudanças construiu o mundo como o conhecemos hoje.

No entanto o firmamento de toda essa construção coletiva e que perdura desde que o mundo é mundo sempre foi embasada na passagem dos princípios inegociáveis de uma geração experiente para a recém-chegada e sedenta em fazer a sua parte. Nessa passagem de valores éticos e morais sempre houve a intenção de deixar claro o papel de cada indivíduo e sua responsabilidade dentro da sociedade à qual pertence, instigando não apenas o crescimento individual ou as melhorias necessárias como também a busca pelos direitos igualitários.

Não é necessária uma análise histórica desde as civilizações antigas para esmiuçar os desafios e conquistas de cada fase da sociedade e o seu futuro. Se refletirmos apenas sobre as últimas décadas, aqui mesmo no Brasil, isso fica evidente, mas, ao mesmo tempo, traz temor sobre o que está por vir.

O início da década de 90, por exemplo, foi tomado de incertezas com a crise inflacionária e as teorias sobre a virada do milênio. A inserção do Plano Real foi um grande passo para ajudar o País a se estabilizar economicamente e trazer avanços importantes para a nação, mas o que de fato fez a diferença foi o fato de os brasileiros estarem dispostos a assumir a responsabilidade e trabalhar para construir um lugar melhor para seus filhos. Afinal, por toda vida tinham observado esse incansável empenho nas gerações anteriores, mesmo diante de todos os cenários desfavoráveis.

Tudo seguia como o esperado. Até chegar um novo milênio, um novo século, novos governos, novas gerações e uma série de novas mudanças. E esta que tinha tudo para ser uma das melhores fases da sociedade parece estar indo no caminho contrário às expectativas. Dentre tantas conquistas tangíveis, podem ser citadas o acesso à alfabetização na primeira infância, as facilidades de cursar o ensino superior, a variedade de profissões, assim como as revoluções tecnológicas, a globalização e o avanço nas lutas pela melhoria contínua.

Infortunadamente, agora também vivemos em meio a uma sociedade com valores invertidos. O que antes caracterizava cada geração, hoje é tachado de “cringe”. O que outrora era o certo se tornou antiquado. Se antes se respeitava pais e professores, hoje eles nem sequer são ouvidos. O que era considerado errado passou a ser normal. O que era inadmissível faz parte do cotidiano. Conceitos que eram tão intrínsecos à família agora ganharam nuances para todos os gostos. O que nas gerações passadas eram grupos ou movimentos em meio à sociedade agora é colocado como uma imposição.

Até lutas não ganham mais holofotes. Se antes a inclusão estava relacionada a pessoas com necessidades especiais e que reivindicavam seus direitos a ambientes acessíveis, conhecimento disponível em Braile e Libras ou conscientização da sociedade para a quebra de tabus, hoje, a tal “inclusão” visa ignorar a gramática normativa e criar novos termos neutros que não existem na língua portuguesa.

Essas gerações que construirão o futuro nem sequer estão acostumadas com a ideia de assumir responsabilidades. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo país com a maior proporção de jovens fora do mercado de trabalho e do ambiente acadêmico – cerca de 35%, em 2022. Até os cientistas defendem que, por conta desses e outros fatores que giram em torno da fuga das responsabilidades, a adolescência ganhou sobrevida e agora vai até os 24 anos.

Foram necessárias três décadas para que a sociedade fosse do futuro promissor ao preocupante. Por quê? Ao que tudo indica, a perda de princípios e valores que sempre foram tão fortes nas gerações anteriores teve como consequência uma perda de rumo dessas novas gerações que parece que não têm a percepção de que o futuro está em suas mãos para ser construído. Este futuro vai chegar de qualquer forma, mas para que ele seja um bom lugar para estar daqui alguns anos, é necessário que as gerações atuais assumam a responsabilidade dessa construção, mas, antes, se reconectem com os valores e princípios que foram distorcidos.

imagem do author
Colaborador

Redação / Foto: Blend Images/getty images