1º de maio: dia do trabalho para quem?

Cresce cada vez mais o número de brasileiros que não trabalham nem estudam ou têm subempregos. Entenda a sua responsabilidade e a do Estado nessa questão

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No Brasil, assim como em outros países no mundo inteiro, o dia 1º de maio é um feriado reservado para comemorar o Dia do Trabalho.

A data foi escolhida por causa de um triste episódio: o enforcamento de operários em greve que reivindicavam um limite na carga horária diária de trabalho em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos. Por lá, ironicamente, o feriado é comemorado toda primeira segunda-feira de setembro desde 1864, lembrando outra grande greve iniciada também em Chicago e ampliada para vários Estados que resultou em dezenas de mortes de operários pelas forças repressoras.

Esse é um descanso merecido para quem trabalha, mas nos lembra que, atualmente, muitos brasileiros – especialmente jovens – não trabalham nem estudam. Outros, embora trabalhem, não são capazes de pagar nem as contas básicas. No Brasil, 51% da população tem renda mensal domiciliar de até R$ 2,8 mil, 32,8% ganham entre esse valor e R$ 6,8 mil,13,3% recebem até R$ 21,3 mil e apenas 2,8% recebem acima disso, ou seja, a maioria das famílias sobrevive com pouco mais de dois salários mínimos.

Cenário crítico
Enquanto a taxa dos que nem trabalham nem estudam entre 18 e 24 anos é de 15,1% nos países ricos, no Brasil ela é mais do que o dobro: 35,9%, de acordo com dados de 2020 da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Parte desses jovens afirma que para eles sobra apenas o “subemprego” – aquele trabalho de remuneração baixa, sem vínculo empregatício, quase sempre informal e que exige muitas horas de dedicação. Um exemplo é o crescente número de entregadores e motoristas de aplicativos.

De fato, é comum que as empresas exijam experiência de quem procura emprego, mas oferecem pouca oportunidade para que as pessoas a adquiram. Essa realidade gerou, inclusive, um movimento recente apelidado de “grande pedido de demissão”. Nessa forma de protesto, jovens de muitos países estão preferindo não trabalhar a ter de se submeter a subempregos e outras práticas que exploram a mão de obra.

A responsabilidade do estado
Evidentemente, é ruim para um país que seus jovens estejam afastados do mercado de trabalho. Isso diminui a criação de riqueza e o desenvolvimento do país. Dessa forma, também é responsabilidade do governo criar meios de inserir as pessoas na vida profissional de maneira digna.

Uma das principais formas de fazer isso é oferecendo educação de qualidade. Afinal, o jovem qualificado tem potencial para conquistar bons empregos e executar as funções decorrentes dele adequadamente. De acordo com a OCDE, um mísero terço (34%) dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos frequenta escolas ou faculdades. Além disso, 30% dos jovens nessa faixa etária – além de não estudarem – estão empregados, geralmente em subempregos.

Já a taxa de desemprego entre jovens adultos de 25 a 34 anos que não completaram a educação básica foi de 17,8% em 2020. Fica clara a correlação entre pessoas que têm pouco estudo e aquelas em trabalhos exploratórios. Educar é garantir bons empregos.

Outra forma do Estado mudar o mercado profissional atual é legislar bem. Neste ano, por exemplo, o governo federal lançou o Programa Nacional de Serviço Civil Voluntário para dar oportunidade de trabalho a jovens com idades entre 18 e 29 anos e a pessoas com mais de 50 anos. Além de cursos de qualificação, o programa oferece vale-transporte, seguro contra acidentes pessoais e uma bolsa de meio salário mínimo.

Ações assim auxiliam o jovem a encontrar seu caminho profissional. Gerar educação, segurança no trabalho e ganhos mínimos ao cidadão são responsabilidades do Estado.

A sua responsabilidade
A população brasileira está envelhecendo. Se seguirmos como estamos hoje, em 20 anos seremos um país de velhos e pobres e, além de não termos jovens em número suficiente para trabalhar em bons ou maus trabalhos, também faltarão bons empregos para os de mais idade. É claro que não compete só aos governantes se preocuparem com isso, pois, se a população não eleger as pessoas certas e cobrar delas, nada mudará. É fundamental que o eleitor escolha bem, vote naqueles que apresentam propostas visando um futuro de desenvolvimento, em vez de só quererem gastar mais do dinheiro do contribuinte.

Cabe tanto à classe política quanto ao povo – e um é reflexo do outro – entender que “não existe almoço grátis”, frase usada pelo economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), ganhador do prêmio Nobel, para desmistificar a crença de quem acha que o governo pode gastar dinheiro sem ter quem pague impostos – exatamente o que vai acontecer se boa parte da população continuar sem trabalhar. Alguém (nós) terá que pagar a conta – que hoje já tem um valor extremamente alto. Por isso, em outubro, eleja quem tem bons projetos, inclusive para melhorar a estrutura profissional brasileira.

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Colaborador

Redação / Foto: getty images