No geral, nós éramos meninas quietinhas. Não éramos de mentir nem desobedecer aos pais. Vivíamos de casa pra escola, escola pra casa, e casa pra igreja somente. Não ficávamos na casa de ninguém, não íamos na festa de ninguém e não conhecíamos os nossos vizinhos. Minha mãe sempre foi muito protetora com relação a estranhos. Talvez seja por isso que não tínhamos amigas em lugar algum, pois éramos meninas distantes tanto na escola quanto na igreja. Se por um lado isso nos poupou de qualquer maldade, por outro, nos deixou um pouco sem noção do mundo lá fora e foi assim que eu comecei a desenvolver uma tática.

Morávamos em frente a um clube de dança, que tocava música muito alta algumas vezes na semana e eu acabava tendo insônia por isso. Olhava para o lado e minha irmã já estava no terceiro sono e eu ali, olhando pro teto, sem saber o que pensar, enquanto aquelas músicas altas entravam no meu cérebro. E assim, desenvolvi um mecanismo para as horas passarem mais rápido… Eu, a protagonista, sempre muito querida e amada por todos e por aí vai. Quando minha mãe vinha nos acordar para ir à escola cedo, ela não imaginava que eu já estava acordada desde a noite anterior. Eu ficava quietinha na cama, só criando historinhas na minha cabeça.

Minha criatividade aflorou tanto nessa época que comecei a criar histórias, desenhá-las e contá-las pra minha irmãzinha, minha primeira e única fã. A partir daí, não parei mais… a história continua.